No final de novembro, postei um vídeo realizado durante a ARCO, o qual me pareceu ser muito pertinente para levantar a interrogação sobre o que é arte nos dias que vivemos. Mesmo a propósito, o Público, no seu suplemento P2 de 26 de Novembro, publicou um extenso e excelente artigo de Vanessa Rato, redigido a partir de uma entrevista telefónica ao crítico e historiador de arte Hal Forster, cujo ponto de partida é a seguinte interrogação: O que podemos esperar da arte no século XXI?
O artigo começa por definir o que se entende por arte contemporânea: “… é, em si mesma, na sua estrutura, na sua aparência, instável, insegura. São trabalhos que quase não se sustêm. É uma escultura ou instalação que não se aguenta em pé como imagem ou como objecto. São obras que se recusam a ser integradas. (…), que se recusam a assumir a habitual condição da arte, que é parecer-se com qualquer coisa identificável com pintura ou com fotografia ou com o que quer que seja. São trabalhos que recusam a completude, uma resolução última. Que traduzem, nos próprios termos em que são feitos, uma impossibilidade.”
Mais à frente explica como é que se chegou aqui: “… ao longo dos últimos 20 anos, (…) a arte cresceu exponencialmente, tornou-se internacional e depois global. Hoje há todo o tipo de tradições e histórias da arte a considerar. Não há uma, duas ou três linhas que possamos traçar ao longo do tempo e que funcionem e possam conferir um sentido narrativo ao presente. De novo: fazemos relações horizontais entre as coisas, relações sincrónicas e não diacrónicas.”
Hal Forster expõe depois a sua opinião sobre o assunto, declarando que “… uma das coisas que a arte pode fazer por nós é situar o nosso momento no tempo em relação a momentos passados. Quando essa relação é despedaçada, a leitura do presente torna-se difícil. Até à minha geração, os artistas pensavam no seu trabalho em relação aos precedentes. Hoje há uma ênfase muito maior nos universos pessoais, os projectos são muito mais ad hoc. Por exemplo, quando um artista avança de projecto para projecto o suporte já não é uma questão. Muda o projecto, muda o suporte, a forma de o concretizar.” E conclui então, dizendo: “Tento manter-me tão actualizado quanto possível, mas porque a arte contemporânea se tornou um campo tão vasto, tornámo-nos todos um pouco no cego em relação ao elefante: apalpamos pequeníssimas partes do todo e imaginamos que, a partir delas, poderemos entender o que é aquela besta imensa. Acontece que isso é impossível.”
Agora, concluo eu: se o especialista na matéria se sente como “o cego que apalpa o elefante”, como é que nós, simples público sem grandes conhecimentos ou formação, nos havemos de sentir, na ARCO ou em qualquer outro sítio, face a um quadro dito de arte contemporânea pendurado na parede? Que poderemos dizer? O melhor, se calhar, é não dizermos nada!
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