quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

À beira de água

Salvador Dali: Personagem à janela
 1925, óleo sobre tela


























Estive sempre sentado nesta pedra
escutando, por assim dizer, o silêncio.
Ou no lago cair um fiozinho de água.
O lago é o tanque daquela idade
em que não tinha o coração
magoado. (Porque o amor, perdoa dizê-lo,
dói tanto! Todo o amor. Até o nosso,
tão feito de privação.) Estou onde
sempre estive: à beira de ser água.
Envelhecendo no rumor da bica
por onde corre apenas o silêncio.

Eugénio de Andrade, In Os Sulcos da Sede, 5ª ed.
Quasi e Fund. Eugénio de Andrade, 2007

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