José Manuel Rodrigues |
Ouve:
Como tudo é tranquilo e dorme liso.
Claras as paredes, o chão brilha,
E pintados
no vidro da janela,
O céu, um campo verde, duas árvores.
Fecha os olhos e dorme no mais fundo
De tudo quanto nunca floresceu.
Não toques em nada, não olhes, não te lembres.
Qualquer passo
Faz estalar as mobílias aquecidas
Por tantos dias de sol inúteis e compridos.
Não te lembres, nem esperes,
Não estás no interior dum fruto:
Aqui o tempo e o sol nada amadurecem.
Sophia de Mello Breyner Andresen, In Coral, 1950
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