domingo, 30 de setembro de 2012

Call me the breeze

JJ Cale, claro.


Pode-se

Évora: Rua Diogo Cão; 30/9/2012
Pode-se insultar a inteligência de quem, fazendo uso dos seus direitos de cidadania, discorda  democraticamente das decisões tomadas por quem governa (ler notícia aqui)



Pode-se afirmar convictamente que a proposta de Redução da TSU à conta dos salários é uma "medida extraordinariamente inteligente", apesar de ela ter gerado uma onde de unanimidade como há muito não se via no país (até a própria troika já veio lavar daí as mãos). 

Pode-se fazer um discurso de auto-louvor: "não passariam no primeiro ano do meu curso da faculdade". A minha exigência, o meu rigor académico, ou seja, sou bom, sou mesmo muito bom. No fundo, a minha extraordinária inteligência, porque eu já tinha proposto isto n vezes...

Pode-se até fazer questão de dizer tudo isto publicamente e continuar, sem qualquer problema (nem sequer de consciência) a ser "consultor do governo para as privatizações" (entre mais uns quantos biscates aqui e ali), auferindo de um vencimento mensal que, à luz das suas próprias palavras ("qualquer pessoa que acha que o programa de ajustamento português se faz sem apertar o cinto 'tá com certeza um bocadinho a dormir, não é verdade?") é, no mínimo, chocante.

E ainda há quem tenha dúvidas sobre a qualidade da nossa democracia...

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Isto

Há quem não consiga perceber. 
Há quem não queira aceitar. 
Há ainda quem não goste. 

Mas é mesmo isto:



Nunca confundi

dar anos à vida com dar vida aos anos.

É por isso que não costumo festejar (os meus) aniversários.

Ideia (des)consoladora

Ou pelo menos é com essa ideia que nos tentamos consolar uma vez por ano.

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

E por falar em cortes na despesa, "racionamentos" vários, medidas de austeridade e quejandos

Que tal "racionar explicitamente" as escandalosas subvenções vitalícias dos políticos responsáveis pela situação a que o país chegou (ver aqui)?

Sobretudo porque alguns deles as recebem há anos (Duarte Lima desde os 39 anos de idade), acumulando-as com funções altamente remuneradas, tanto no setor público como no privado.

Talvez assim se evitasse isto.

Também quero um assim

(com o coro incluído)

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Desesperadamente à procura de Diana

...ou uma saudável pitada de mansa loucura juvenil nestes dias agrestes 


Chama-se Ricardo Soares e afirma que, no dia 15 de setembro, teve uma espécie de epifania amorosa na pessoa de uma certa Diana, a qual, como Ninfa brincalhona na Ilha dos Amores, se escapou correndo no seu vestido branco esvoaçante e não mais lhe deu descanso ao pensamento. 

Até a única imagem que diz ter feito dela nessa noite (e que divulgou aqui) é desfocada quanto baste para adensar ainda mais o 'mistério' e espicaçar-lhe o desejo. Diz ele que: Os dias passam cada vez mais devagar na esperança de encontrar este amor, sentir o perfume dela, ter o sorriso e os cabelos loiros novamente presentes...

QUERO FAZER TUDO AO MEU ALCANCE PARA ENCONTRAR A DIANA !

Vai daí, começou a espalhar mensagens por toda a cidade na tentativa de a (re)encontrar. Por isso, se alguém souber quem é ou por onde anda a Diana é favor dizê-lo aqui. O Ricardo agradece.


A seu tempo saberemos se é amor genuíno ou se tudo não passa de uma forma engenhosa de conseguir os seus "15 minutos de fama". Seja como for, a julgar pelo impacto que a história está a ter nas redes sociais (mais de 2 mil pessoas já "gostaram" da página) e nos media, o mínimo que se pode dizer é que o Ricardo já é um vencedor, quer encontre a Diana ou não.

Mãos feridas na porta dum silêncio

dward Hopper; Hotel Room, 1931























Vida que às costas me levas
porque não dás um corpo às tuas trevas?

Porque não dás um som àquela voz
que quer rasgar o teu silêncio em nós?

Porque não dás à pálpebra que pede
aquele olhar que em ti se perde?

Porque não dás vestidos à nudez
que só tu vês?

Natália Correia, In "Biografia" 
- O Sol nas Noites e o Luar nos Dias I,
Lx: Círculo de Leitores, 1993.

terça-feira, 25 de setembro de 2012

Temos presidente

Tendo apenas em conta o número de asneiras debitadas por minuto, já se percebeu que este - ainda em campanha eleitoral -, se vencer as eleições, vai fazer com que este quase pareça cândido...
Porque
Imagem daqui
vale a pena ver este documentário de Jean-François Brient e reflectir:

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Tarde piaste

Ver aqui

Portugal, país de "muitas cigarras e poucas formigas"

Afinal, sou forçada a reconhecer que o homem tem razão no que diz. É só fazer uma pequena pesquisa no Youtube e o que não falta são registos desse tal "canto da cigarra". Eis um bom exemplo:



De acordo com os jornais cá do sítio (esses venenosos), horas depois de ter anunciado ao país com ar solene que, ou a TSU ou o dilúvio sem salvação possível, lá foi esta nossa "cigarra" para o Teatro Tivoli cantar com grande entusiasmo a "Nini dos meus 15 anos":

Ler aqui

Sob um certo ponto de vista pode mesmo dizer-se que lhe fugiu a boca para verdade. Mas o mais sensato é dizer que, por estes dias amargos que estamos a viver, Miguel Macedo perdeu mas foi uma bela oportunidade para ficar calado.

Às vezes, "Ser professor é [mesmo] um inferno"

De facto, é mesmo este o ponto a que chegámos. E já é muito mau. O pior é pensar que não vai ficar por aqui.
"Chegámos a um ponto em que até os bons professores que se mantêm no ensino temem ficar desempregados e o país corre o risco de que se tornem uns cordeirinhos, que obedecem cegamente às manipulações da administração. Os professores estão muito ansiosos, já não querem gastar tempo a falar de estratégias de ensino que melhorem as aprendizagens porque também eles estão obcecados com a avaliação. A que têm de fazer constantemente aos alunos e a avaliação final de ciclo, externa às escolas. Além disso, eles também vão ser examinados através dos resultados dos alunos, por via da avaliação do desempenho. É um inferno ser professor neste contexto."
Sérgio Niza, In Notícias Magazine, Ler entrevista completa aqui

domingo, 23 de setembro de 2012

As cigarras e a Formiga

Uma fábula tradicional hoje (re)contada por... Miguel Macedo (ver aqui). Claro que, na versão ministerial, não serão bem estas as "cigarras"... mas então como é que se explica o estado a que o país chegou?


Talvez não seja simples

mas belo é certamente. E premiado também (ver aqui).

Vai Seguro, mas não vai famoso

leva colado à cara o sorrisinho
e na boca a farpa que atira ao adversário, lesta.

Cuidado, lhe diz o passarinho, 
vê lá não te caia ela na testa!

Ler notícia aqui



Rifão atinado


Imagem daqui






















Chuvas verdadeiras, em Setembro as primeiras (daqui).

sábado, 22 de setembro de 2012

Naufrágio

Amália canta um poema de Cecília Meireles.

O 'conserto' de Estado

Sobre a suposta - e podre - estabilidade política que se conseguiu alcançar ontem no Conselho de Estado, e que deixou um sorriso todo contentinho na cara dos conselheiros, só se me apetece dizer como este manifestante do passado sábado, em bom vernáculo:

Évora; 15/9/2012

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Ao que parece já ninguém se lembra porquê


Contudo, ninguém fala - nem convém a alguns que se fale - é das razões que levaram muitas destas as famílias a este ponto. Menos ainda convém que se fale da responsabilidade dos próprios bancos nesta situação. Pois não foram eles que, durante anos e anos, bombardearam as pessoas com propostas de crédito ao consumo fácil e supostamente barato (na verdade nunca o foi) e, sobretudo, de cada vez mais créditos para casa, carro, viagens, mobílias, etc.? Chegou-se até ao cúmulo de esgrimir argumentos tentadores para atrair clientes já endividados noutros bancos, como é o caso deste anúncio datado de 96:


Agora querem o quê? Cá para mim estão é a colher aquilo que semearam... e sobre isso nunca ninguém lhes pediu explicações ou chamou a atenção. Nem o próprio Banco de Portugal, que tinha essa função. De qualquer forma, nesta, como noutras questões, quem está "malparado" não são as entidades bancárias. Essas, apesar de todas estas "cobranças duvidosas", continuam (estranhamente) a ter lucros na ordem dos milhões para dar aos seus acionistas. 

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Tuck The Darkness In

Long Story Short

Enamorou-se de modo fulgurante pelo poeta, mas foi com o homem que, afinal, conviveu todos os dias.
Furtivo, o desencanto foi-se instalando até nos mais recônditos recantos da sua alma. Calou muitas vezes as palavras amargas, na falsa ilusão de que assim conseguiria preservar intacta alguma daquela exultação inicial que lhe abrasara tão fundamente o coração. 
Um dia percebeu que já não tinha forças para continuar a aguentar calada o desmoronar do único sonho a que se tinha permitido na vida. 
Saiu pela manhã, como sempre. Porém, naquele dia, enquanto avançava pelo sinuoso caminho de terra batida, e ao contrário do habitual, não olhou para trás através do espelho retrovisor. Também não mais voltou a cruzar a soleira daquela porta que ela própria, ao sair, tinha fechado.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Até no azar é preciso ter sorte

A monarquia britânica ficou muito indignada com a recente publicação de fotografias de Kate Middleton em topless durante as férias que passou em França (ver aqui). 
 
Enfim, eles lá terao as suas razões mas, olhando para as imagens deste vídeo, registadas em Nova Iorque, junto ao Standard Hotel, eu diria que a mocinha ainda está com sorte. Se o casal de pombinhos reais tivesse vindo passar uns dias aqui, então é que havia de ser um belo festival. Pode dizer-se, com propriedade, que, no meio do azar, ainda tiveram sorte.

Política: teoria vs prática

A teoria - expressão usada aqui em sentido muito lato - considera que o coletivo, unido num objetivo comum, tem força suficiente para fazer vergar os mais contumazes tiranos.
 
A realidade, contudo, está cheia de de atropelos de toda a espécie aos mais elementares direitos humanos, de ditadores mais ou menos assumidos e/ou brutais, de autoritarismos vários, de políticos prepotentes que teimam em levar avante as suas ideias só para dizer "quem manda aqui sou eu" e tudo farei para continuer a mandar.
 
Na verdade, a "crise" tem as costas cada vez mais largas... até por cá. 
 
No que à política e à (des)governação diz respeito, nunca a distância entre teoria e prática foi tão grande como nos dias que vivemos, embora continuemos todos a alimentar a secreta esperança de que esta teoria se possa um dia tornar realidade.  E, sobretudo, que funcione bem. É de esperança que nos vamos mantendo...

domingo, 16 de setembro de 2012

People have the power

Um enorme (e talvez conveniente) equívoco

O primeiro-ministro e o ministro das finanças fizeram-se entrevistar em direto para explicar ao povo por a + b + blá, blá, blá que as medidas que pensam tomar no próximo orçamento de estado são absolutamente necessárias para garantir a credibilidade do país nos mercados internacionais e junto da troika que nos financia e, por isso, nos governa.
Esqueceram-se foi de um pequeno mas decisivo detalhe: a total falta de credibilidade interna que os políticos têm neste momento junto dos cidadãos. Refiro-me não apenas aos do governo atual PSD/CDS), mas também os sobreviventes do governo anterior (PS) - agora na oposição - também não estão melhores. Descrédito construído paulatinamente ao longo de décadas de incompetência e desonestidade e perante  o qual os nossos políticos preferem a negação. E até se compreende: é bem mais fácil desta forma.
Não podem é depois vir dizer que «não esperavam uma reação assim» (ver aqui), que vão «modelar» as medidas, que vão »reunir a comissão política», que vão «ouvir o partido», blá, blá, blá. Ou seja, ganhar tempo para congeminar as troikas e baltroikas necessárias para ficar tudo como antes.
E somos nós, cidadãos, que temos de lhes dizer isso mesmo. Com firmeza e com clareza. Não há outra forma. Até porque, no fim, somos nós que pagamos as asneiras que eles têm feito. Foi o que fizemos ontem por todo o país e voltaremos a fazer mais vezes. Tantas quantas as necessárias.

sábado, 15 de setembro de 2012

Mote e glosa


Évora; imagem daqui
E ainda há quem não acredite em coincidências...

Kyrie



Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de deus que nunca mais nesceste,
Volta outra vez ao mundo!

José Carlos Ary dos Santos, In 20 Anos de Poesia,
Lx: Distri Ed. 1983

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

As novas medidas de austeridade resumidas em 30''



Excerto do programa Negócios da Semana de José Gomes Ferreira,
transmitido pela SIC Notícias e, 13/9/2012

A corrupção para tótós

Não que ela exista por cá!
Pelo menos é o que assegura a nossa excelsa Procuradora (ver aqui). E ela lá saberá... Claro que, na vida real, a estória do João não tem um final assim tão feliz, mas enfim...
 

 

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Enquanto

Enquanto o poder político alternar quase como uma inevitabilidade entre o PS e o PSD (e respetivos acólitos e lambe-botas) como se de um jogo de pingue-pongue se tratasse,
 
Enquanto os partidos ditos "do arco da governação" não forem mais do que os cadinhos onde gerações sucessivas desta gentinha duvidosa tem sido moldada e formatada para perpetuar esse mesmo sistema de governação,
 
Enquanto a governação do país não for mais do que um trampolim para cada um alcançar o que mais ambiciona: conhecimentos influentes, favorecimentos de toda a espécie, dinheiro, graus académicos (esta então é de pasmar), poder e mais poder,
 
Enquanto os políticos se governarem a si próprios e aos amigos, em vez de governarem o país,
 
Enquanto não houver uma mudança estrutural na cabeça e na consciência do povo que vota nesta gentinha,
 
esta frase não perderá, infelizmente, a sua atualidade:
 
 

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Vivemos em 'demagocracia'

Ao minuto 10:27 da entrevista que concedeu hoje à SIC (ver aqui), o ministro das Finanças foi questionado sobre a necessidade de forçar as empresas que controlam o mercado a baixar os preços de bens como a eletricidade, os combustíveis ou as comunicações, para compensar os contribuintes pelo agravamento brutal dos descontos para a segurança social, e pelo óbvio aumento de lucros que isso implica para as referidas empresas.

Foi aí que o ministro referiu então que "Em democracia, não devemos de maneira nenhuma subestimar o valor da opinião..."


Sobre a questão dos preços acrescentou ainda o seguinte: "Parece-me, no entanto, que o movimento cívico de opinião e o movimento cívico que leve a uma atitude responsável em setores protegidos é muito bem vindo." Ipsis verbis!


Não deixa de ser irónico que o ministro 'acredite' assim tanto na força da opinião dos cidadãos para influenciar as decisões de algumas das empresas mais poderosas do mercado (EDP, PT, Galp...) mas, curiosamente, não tenha revelado, em momento algum desta entrevista ou na conferência de imprensa que deu durante a tarde, que vai ter em conta as opiniões desses mesmos cidadãos relativamente às decisões que ele próprio está agora a tomar. Nem sequer as opiniões já expressas por especialistas reconhecidos e por gente de todos os quadrantes políticos (incluindo o seu), todos unânimes em considerar que estas medidas são o golpe final na possibilidade de inverter a situação que estamos a viver e são, sobretudo, a machada final na nossa esperança.
 
Estamos claramente a viver em 'demagocracia'. E já vale tudo.

Filmes que se podem ver na televisão portuguesa... II

 
Versão Scorcese (para adultos)
 

Filmes que se podem ver na televisão portuguesa...I

Versão Disney (para crianças)
 

I believe


Haiku

 

Mario Benedetti, In Nuevo Rincón de Haikus, Visor: 2008

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Light made lighter


Há dias em que apetece emigrar para uma ilha

Hoje é um deles.
Drina River, perto de Bajina Basta, Sérvia; imagem tirada daqui

Tesouros perdidos

("perdidos" é, em muitos destes casos, um óbvio eufemismo)

Não são apenas os portugueses que andam espalhados pelo mundo. O nosso património também. E desde há já muitos séculos. Porém, a forma como algum desse património saiu do país levanta dúvidas. E muitas.
Alguns desses "tesouros" podiam ter regressado ao território nacional porque foram roubados ou levados de forma ilegal, mas ninguém de direito (e dever) se esforçou muito para que isso viesse a acontecer. Se alguns têm, apesar de tudo, regressado ao país é porque colecionadores privados os têm adquirido no estrangeiro e trazido de novo para cá. Esta reportagem da RTP - verdadeiro exemplo de serviço público de televisão - já tem alguns anos, mas identifica e divulga diversos exemplos de património nacional em diferentes países da Europa e nos Estados Unidos, contando ainda a história - mais ou menos atribulada - da sua saída do país. Mantém, pois, toda a sua atualidade e pertinência.

Património português nos Estados Unidos

Em França

Na Suíça:

Um colecionador que tem adquirido e trazido de volta a Portugal algum do nosso património perdido:

O caso exemplar da "Baixela Wellington" ou...

as costumeiras trapalhadas dos políticos nacionais


E, em 2002, a cereja no topo do bolo: Portugal decide emprestar à Holanda quinze peças do acervo do museu do Palácio Nacional da Ajuda para uma exposição intulada «Diamante: da pedra bruta à jóia» Entre elas, contavam-se seis peças das jóias da família real portuguesa com valor incalculável, não apenas do ponto de vista gemológico, mas sobretudo do ponto de vista histórico, a saber:
Diamante em bruto com 135 quilates (o da direita), proveniente do Brasil*

Anel com um diamante de 37 quilates, em prata e ouro, da segunda metade do século XVIII*

Dois alfinetes/brincos em forma de trevo em ouro, diamantes e brilhantes, da segunda metade do séc. XIX*

Castão de uma bengala do Rei D José I, em ouro cravejado com 387 brilhantes montados em prata; no topo tem um brilhante solitário com o peso de 24, 32 quilates que tem a particularidade de poder ser desaparafusado*

Gargantilha da segunda metade do séc. XVIII com 32 brilhantes de tamanhos decrescentes, com um peso total estimado de 150, 35 quilates*
* In "Tesouros Reais" - Catálogo da Exposição realizada no Palácio da Ajuda em 1992
Foram todas roubadas da exposição e nunca mais apareceram (ler notícia aqui). Seis anos depois, o estado português recebeu uma indemnização de 6 milhões de euros (ler notícia aqui) que já foi, aliás, aplicada na compra de um quadro de Tiepolo e na construção de vitrinas tipo caixa-forte para exposição permanente das jóias da Coroa portuguesa (ler aqui).
Agora que a crise nos entrou pela casa dentro e se instalou no sofá para ficar sabe-se lá até quando é lícito interrogarmo-nos sobre o destino de muito do nosso património artístico e cultural.
Talvez daqui a uns anos, se a RTP ainda existir, algum jornalista faça a investigção - e respetiva reportagem - sobre o património que, por estes tempos difíceis, está a ser vendido ao desbarato para fazer dinheiro rápido. As lojas de compra e venda de ouro que todos os dias abrem portas de norte a sul do país são um sinal evidente disso mesmo.

sábado, 8 de setembro de 2012

Sintonia cacofónica

Primeiro, falou ela aos jotinhas em formação acelerada para políticos profissionais para dizer esta coisa surpreendente: ver aqui.
Agora, veio ele dizer isto.
É espantoso!
Como se explicam então os casos "Freeport" e "Face Oculta" que tanto tempo e recursos têm exigido ao sistema judiciário? Serão meros equívocos? Raras excepções? E por que razão não desenvolvem mais do que meras peripécias rocambolescas e inúteis para queimar tempo até chegar o prazo da prescrição? Estranho...

Que sintonia tão cacofónica.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Dizem(os) muitas vezes que somos um povo de... "brandos costumes"

mas depois, lêem-se os jornais diários (Ver aqui, aqui, aqui ou aquie isto apenas nos do dia) e só podemos mesmo é concluir que, afinal, devemos andar com a auto-estima um bocado inflamada há já muito tempo... 

Miguel de Unamuno é que nos topou e bem, há já muito tempo: "A brandura, a meiguice portuguesa, está apenas à superfície; raspem-na e encontrarão uma violência plebeia que até assusta. Oliveira Martins conhecia bem os seus compatriotas. A brandura é uma máscara." 
In Portugal, povo de suicidas (1908), Lx: e etc, 1986. p. 71.

terça-feira, 4 de setembro de 2012

A frequência de certas universidades ainda garante boas saídas profissionais,

especialmente quando os "alunos" frequentam "cursos de verão" em Castelo de Vide...

Ler notícia aqui

Até porque a "universidade" da concorrência, em Évora, não está, por agora, assim tão bem cotada no mercado das nomeações (ver notícia aqui).

WikiRelvas



 
Ler notícia aqui e biografias aqui e aqui

O CV de uma professora

Mais comentários para quê? Só mesmo dizer dizer que há muitos/as assim por aí.
 

segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Sector público versus sector privado: depende...

Castelo de Vide: 1 de setembro
Perante os "alunos" da JSD, todos com ambições  e expectativas de uma boa carreira político-partidária no sector público para, depois, um dia, serem então convidados para o sector privado com larga cópia de benesses e vantagens, a  actual ministra da Justiça disse com veemência: Está por provar, ao contrário do que se diz muitas vezes, que o sector privado tenha uma maior eficiência que o sector público. (ver vídeo aqui)
 
Que frase excelente, pois sem grande esforço mental, num outro dia, num contexto distinto e para um público diferente, ela própria - ou um outro ministro qualquer deste governo - dirá certamente que está por provar, ao contrário do que se diz muitas vezes, que o sector público tenha uma maior eficiência que o sector privado...
 
Ou seja: em Portugal, sector público versus sector privado, depende dos dias, do vento e do público que esteja a ouvir o discurso. No horizonte nada de novo, portanto.

domingo, 2 de setembro de 2012

Machina Mundi


dois poemas de António Gancho

(um poeta muito, demasiado, esquecido pela sua (e minha) cidade. Tão injustamente esquecido.)





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Itálica,
Burgos e todas as catedrais espanholas
há uma cidade cheia de Sol a compor a direcção
Se o mar fica no fim
Lisboa fica ao pé de Lisboa fica súbito
como se o Tejo fosse um braço decepado
e um cacilheiro total o pano de uma bandeira
Pensa-se no rumor tribal que inunda todas as ruas
faz-se um boulevard duma avenida nossa
põe-se Lautéamont a inventar um prédio.
Há a loucura a inundar a parede
o relógio que
Faço um poema e nasce uma cidade
invento o conteúdo geográfico das coisas.
Escrevo um nome e nasce Dublin
porque Dublin escrevi.
Se onde ponho um traço nasce uma via de ferro
então é um comboio em direcção a Roma.
Faço uma cidade e vejo-me um neón
ponho um anúncio e nasce uma cigaretta.
O italiano compõe o soar da palavra
eu dou uma entoação ao segredo do fim
Se há um horizonte para divulgar o Sol
há uma expectação para divulgar o coração
Se há um moinho para os lados de Perpignan
há Daudet a repousar o Sol numa cadeira
Se há Avignon, uma festa, a França, a Península

se primeiro bateu na cabeça de Poe
bate depois no sangue feito do conto
divulgado no livro
Lê-se o fígado do poeta no álcool derramado
sobre o desmaio de Ligeia
se esta tem as mãos ebúrneas nasce âmbar
nas mãos brancas duma conceição tripartida.
Ah, se onde ponho a imaginação nasce um lírio
derramem-me a história duma amante sobre a cabeça
pois sou o amante duma perversão absoluta.
Não rasgues o sentido do ombro aí onde tens o tatu do destino
e aí onde só a virgindade do teu androceu malino
pode faltar a dimensão do totem a inundar de carácter
todo o céu africano.
Ah, nasça-me um árabe de luz com seu corpo moreno
contradizendo a logica
nasça-lhe uma idade de rosto sua idade gidiana
para compor a tenda com precaução indefinida.
Reveja-se o jeep inglês de Lawrence
que inundava o deserto duma celtidade absoluta,
o zénite solar sobre o bico da tenda.
Só a imagem dum rio pode dar ao poema
toda esta noção geográfica que o poema não tem.
Bramaputtra
se nasceres no papel vou dizer à ondina do gnomo
que a floresta não constrói.
Ponho uma fonte a cantar na cabeça do gnomo
e o gnomo surge e nasce
como o ícone divulgado.
É rica a mitologia germana
para dar um sentido ao godo que de chifres na cabeça
usa um segredo quotidiano pendular
que é o pulso esquerdo da fêmea.
Põe-se-lhe a data
e o poema nasce
rubicundo
como a ponta de um lápis
que escrevesse no registo
o nome macho dum bebé.
I achieve
I finalize
eu acabo
eu finalizo.
É o poema terminado.

António Gancho, In O ar da manhã;
Lx: Assírio e Alvim, 1995
 

Pátria

 
Pátria lusa difusa
arguta, e escuta a hipotenusa
das raças. Asas, face, rosto e nação
a pátria é a nação quando há pão.
Pátria nacional, pátria do nosso pai,
Portugal, com força de aço
serás arguta, lusa pátria,
pátria lusa só nossa
e até onde se possa
abrangerás.
À saciedade a paz do espírito,
a paz e só a paz
a paz das almas também
que já morreram
que Deus tem
a paz entre as oliveiras
a dignidade das maneiras
a paz dos dias das horas entre as horas
os dias pelas noites fora
demora atenta e que é em seu tempo achada
a paz, país, Portugal,
pátria endeusada que é nossa, nacional,
a paz pode-se dar
é entre as oliveiras
num homem ao desmaiar até
de múltiplas maneiras
na sede que há no mar
na fé em ti depois por secular que és
nós juntos a teus pés
diremos
pátria país meu pai meu Portugal
diz que diz que é bem não fazer o mal
país meu e de meu pai
seu primeiro pedestal
por Portugal depois
por pátria primeiro pois
assim e assim e sempre assim
por fim são dois
país e Portugal, pátria
sois propriamente o sal.

 

António Gancho, In O ar da manhã;
Lx: Assírio e  Alvim, 1995