sexta-feira, 3 de julho de 2015

Sussurro

a urgência das borboletas

Serra da Freita: junho 2015



quando a noite é já irreversível
o que em mim permanece acordado
é a memória dessas leves borboletas
que, livres, voavam todas no meu estômago
sempre que a urgência nos inundava os sentidos 

mentalmente, dou então voz às palavras,
ensaio os gestos imagino que é hoje, não, é agora
que ganho a ousadia suficiente
para rasgar a silenciosa escuridão 
e de novo convocar essas lepidópteras arredias 

mas sempre a madrugada me vem encontrar
com os olhos secos de inquietação
pelos pesados tijolos de silêncio
que vou acrescentando ao muro onde as borboletas,
agora, tropeçam e caem, precocemente fenecidas