quarta-feira, 27 de maio de 2015

sexta-feira, 1 de maio de 2015

O mercado da carne

Lá pelos idos de 1871, entrou em vigor a chamada "lei do ventre livre" que se viria a tornar um primeiro passo para a abolição da escravatura no Brasil.

Mas eis-nos chegados de novo ao mercado da carne humana onde, pelos vistos, a coisa funciona na perfeição. 


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Pelos vistos, no Nepal, o discreto negócio das barrigas de aluguer vai florescente. Pelo menos para alguns. A julgar pelo número de recém-nascidos - 26 - que seguiu só para um único país - Israel - percebemos que a coisa vai de vento em popa. E as parideiras que já cumpriram a sua função, à semelhança do que acontece na produção animal intensiva (aviários, suinicultura, leite...) foram rapidamente descartadas que ninguém está para ter chatices, claro.

Claro que esta triste realidade apenas se tornou notícia porque há precisamente oito dias ocorreu um sismo brutal com consequências de uma magnitude quase inimaginável... Vai então ser preciso procurar novos mercados e carne fresca, parideiras jovens e desesperadas, dispostas a tudo para garantir a sua sobrevivência e a das suas famílias por mais um mês ou dois. Não será difícil encontrar um lugar - ou mesmo vários - para abrir um novo paridério.

Mas convém lembrar ainda que a triste situação das mulheres nepalesas pobres não é de agora. Bem pelo contrário. No Nepal, centenas de milhares de mulheres sofrem precocemente de prolapso uterino em consequência do excesso de gravidezes iniciadas em idade precoce, das duríssimas e difíceis condições de vida e de trabalho, da falta de cuidados médicos adequados e, muito especialmente, da brutal discriminação de género de que são vítimas, até por parte do governo que se está literalmente nas tintas para o problema.
A Amnistia Internacional tem em curso uma campanha mundial de sensibilização que apela justamente ao governo para que ajude estas mulheres, facultando-lhes acesso a tratamento médico e, sobretudo, ao direito de controlar a sua vida reprodutiva. Em vão, ao que parece.

Devia haver algures uma linha que separasse a dignidade da iniquidade; o humano do não humano; a desumanidade da dignidade. Mas essa linha, que nunca existiu verdadeiramente na cabeça dos homens, deu agora lugar às gloriosas "leis do mercado". Deixar funcionar os mercados tornou-se o grande, o único, imperativo dos dias que vivemos. Porra!