quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A involução das coisas

Em Maio de 68 as ruas de Paris encheram-se de graffitis como este:


Este "métro, boulot, dodo" tornou-se um dos slogans mais conhecidos por ser um grito de revolta contra uma sociedade que vivia apenas para o trabalho, transformando as pessoas em autómatos obedientes e embrutecidos. Ao que parece foi inspirado num poema de Pierre Béarn, intitulado "Couleurs d'usine", publicado em 1951 pela Seghers:

Au déboulé garçon pointe ton numéro
pour gagner ainsi le salaire
d'une morne journée utilitaire
métro, boulot, bistro, mégots, dodo, zéro.

Quatro décadas depois, num mundo globalizado onde o consumismo frenético se tornou o grande motor das economias e o sustentáculo de um capitalismo autofágico, o slogan é este:


No fundo, a mesma coisa por palavras distintas: o homem embrutecido e escravizado pelo dinheiro.

Sem comentários: