sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Os (des)caminhos da Europa

"Esta crise, apesar de tudo, não tem a mesma dramaticidade, a da capacidade mortal da bomba atómica. Vivemos ainda sob hipoteca desse tempo e fingimos que a bomba atómica não existe e ainda bem. A ameaça agora é de outro género. Esta Europa, que era uma espécie de exceção no sentido de uma certa exemplaridade e bem-estar a vários níveis, tem o seu futuro nebuloso porque está envolvida num projeto de inventar um outro tipo de futuro, uma Europa nação, e isso está em estado de esboço e meio paralisado.

(...)

Está no horizonte uma Europa cujo modelo seria o modelo federalista ou confederalista. Há tradições na Europa desse modelo mas são minoritárias. A mais famosa é a Suíça; a Europa seria uma grande Suíça. O outro paradigma é a criação dos Estados Unidos da Europa, uma coisa que não tem conteúdo. Os Estados Unidos da América (EUA) nunca foram uma multiplicidade interna porque têm uma língua e tradições culturais que constituem a sua própria identidade. O que caracteriza a Europa é a pluralidade de nações, cada uma com uma identidade forte, uma memória cultural muito densa, ilhas junto de outras ilhas, um paradoxal arquipélago. Os EUA não são isso."

Eduardo Lourenço, entrevista a Isabel Lucas
In Montepio, nº 7, Série II, Out. 2012

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