quarta-feira, 14 de abril de 2010

Os passos para dentro e os passos para fora

Quando abrimos a invisível porta que nos separava de uma situação/relação nova, entramos num corredor-túnel desconhecido, escuro e que nada fica a dever à linha recta. A única razão que nos leva a transpor essa porta é acreditarmos na decisão tomada e em nós próprios e no outro. Por isso é como se no fim desse corredor sinuoso estivesse uma luz que, mesmo pequena, chega para nos guiar os passos e os dias. A cada passo que damos acreditamos um pouco mais que será possível chegar ao fundo do corredor: reconhecimento, interesse, atracção/deslumbramento, paixão/amor, dependência/hábito.

E depois, um dia, tropeçamos sem perceber muito bem em quê, no outro dia, damos uma valente cabeçada numa esquina da parede, a seguir apercebemo-nos de que continuamos a andar mas já não saímos do mesmo síto há algum tempo. E as pequenas ondas da frustração começam a crescer por dentro. E vem então o momento em que, quase sem querer, tocamos numa qualquer prateleira e toda a louça nos desaba aos pés. Rodeados de estilhaços ficamos num impasse: tentar avançar ou recuar? Sempre que pensamos em avançar sentimos coisas que rangem e se quebram debaixo das solas. De repente já nada corresponde a coisa alguma - o caminho parece não ter saída e a luz lá ao fundo, afinal, não passava de uma ilusão. Estamos desencontrados de nós e dos outros; dos objectivos, dos valores e dos ideais que nos tinham trazido até ali, desenquadrados até da própria situação.

Finalmente, perguntamo-nos: mas que estou eu a fazer aqui? E só há uma resposta/saída possível: recuar, antes que fiquemos também em estilhaços.

Começamos então a dar exactamente os mesmos passos que tínhamos dado antes, mas agora em sentido inverso e às arrecuas: perda, negação, raiva/frustração, desinserção/depressão, negociação/aceitação.

Passos lentos, penosos, às vezes hesitantes porque dados às escuras, cada vez mais distantes da luz, mesmo ilusória, que nos tinha guiado. E um dia, de repente, os braços estendidos no escuro (re)encontram o puxador da porta que tinhamos transposto no princípio de tudo. Ansiosos e ainda não refeitos do choque, damos connosco cá fora a piscar os olhos à luz natural.

2 comentários:

Namarrocolo disse...

Portas invisiveis
Situaçoes novas
Caminhos desconhecidos
Linhas rectas
Estradas tortuosas
Tropeçoes
Recomeços
Aventura
Desventura
Dor
Prazer
Tristeza
Alegria
.....

A VIDA

Nem a noite mais escura impede o Sol de brilhar pela manha...

Beijinho

FM disse...

É mesmo assim a Vida, de facto: ao mesmo tempo assustadora e fascinante.

Saudações