sexta-feira, 30 de abril de 2010

Questões de retórica

Os Telejornais são, nos dias que vivemos, uma coisa curiosa. Já não apresentam propriamente notícias, pois estas são apenas o que passa a correr em rodapé, com erros ortográficos de fazer arrepiar os cabelos. Assistimos a um autêntico desfile de peças jornalisticas, mais ou menos elaboradas e/ou sofisticadas, nas quais a distinção entre facto, interpretação e juízo de valor já quase não existe. Relativamente ao “caso” que agora faz a abertura de quase todos os telejornais – a tentativa de compra da TVI pela PT e a pressão do governo, em especial do Primeiro-Ministro, primeiro para se fazer o negócio e, depois, para se desfazer –, tenho achado extraordinários alguns dos depoimentos que os administradores de topo destas empresas têm prestado à Comissão de Inquérito: um não sabia, o outro só soube pelos jornais, um terceiro nem sequer imaginava, quase todos desconhecem, e por aí fora.

Parece que, em Portugal, os grandes negócios são fruto do acaso. Não se fazem, nem se planeiam: simplesmente, acontecem. Deve ser por isso que também a maior parte daqueles em que o Estado se envolve são um desastre financeiro para o próprio Estado. Se ninguém sabe do negócio, se nenhum ouviu dizer que ia ser feito, como é que as coisas podem correr bem? Assim, também não admira que a economia do país esteja à beira do desastre. Nem sei até como é que a «jangada de pedra» não se afundou já nas profundezas do Oceano Atlântico.

Contudo, resta uma última questão que muito me intriga: como é que estas grandes empresas, geridas por gente que nada sabe, nada conhece, etc., conseguem apresentar lucros fabulosos todos os anos?

A ideia de que uma mentira repetida muitas vezes, às tantas, se torna verdade, talvez até mesmo a verdade oficial, faz cada vez mais sentido para mim. Por isso não me surpreende que telejornais e telenovelas tenham cada vez mais coisas em comum.

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