terça-feira, 10 de agosto de 2010

Se hoje pudesse ser "Dia do mar no ar"

Aqui pela sulidão o azul não é sinónimo de fresco. O ar, embora de um azul cintilante, parece sólido. Respirar só é possível depois de um enorme esforço, como se fosse necessário primeiro cortar o ar em fatias de tamanho inspirável. Apenas a memória da frescura líquida desse outro imenso azul que é o mar é ainda capaz de enfrentar o calor que abrasa o corpo quase até ao tutano da alma... Oxalá fosse "Dia do mar no ar", como no poema de Sophia de Mello B. Andresen, lido ao som da música de Rodrigo Leão "Deep Blue":

Dia do mar no ar, construído
Com sombras de cavalos e de plumas

Dia do mar no meu quarto - cubo
Onde os meus gestos deslizam
Entre o animal e a flor como medusas.

Dia do mar no ar, dia alto
Onde os meus gestos são gaivotas que se perdem
Rolando sobre as ondas, sobre as nuvens.

In Coral, 1950

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