quarta-feira, 13 de abril de 2011

Da centralidade em política

As centralidades estão na ordem do dia. É preciso estar hoje no centro de tudo para se ter direito a existir: no centro das grandes cidades e metrópoles, no centro da Europa, no centro do mundo e por aí fora. Em nome destas "centralidades" ou da criação de novas "centralidades" têm-se gasto milhões e construído aberrações de todas as espécies e feitios.

A ideia tem feito um tal caminho no espírito dos europeus que contaminou até a própria política e, por isso, quase todos os países europeus estão hoje confrontados com governos que, independentemente dos seus matizes de esquerda ou de direita, são sobretudo "centrais". Muitos deles são até do chamado "centrão" que é uma espécie de saco azul onde bons anos. E o grande problema é que este centrão funciona como os eucaliptos: seca tudo à volta. O que, aliás, é uma estratégia de sobrevivência altamente eficaz. A prova disso é que estamos sem grandes alternativas viáveis e credíveis ao tal centrão: a esquerda radical? a direita ainda mais radical? Não, obrigado.

Estalou agora a polémica sobre os ditos "entalados das presidenciais". Mas, polémicas sobre os ex-candidatos Manuel Alegre e Fernando Nobre à parte, a verdade é que, queiramos ou não, estamos mesmo todos, enquanto entidade colectiva ou país, entalados entre o PS e o PSD. Ou seja, estamos tramados. Sócrates e Passos Coelho sabem-no bem. Melhor até do que muitos de nós. E é por isso que se dão ao luxo de nos fazer o que fazem. Fazem-no porque sabem que podem. Sabem, sobretudo que, no fim, e apesar de tudo o que nos têm feito, é entre eles os dois que se dividirá o bolo.

Certo é que, de dentro destes partidos-centrão, seja lá isso o que for, não saem soluções. Apenas contradições e a "jangada de pedra" está a afundar-se em águas cada vez mais turvas e perigosas.  Quanto e até quando seremos nós -  cidadãos comuns, vítimas destes esquemas partidários - capazes de aguentar a crescente pressão, assim, calados, a ver o que acontece, é que eu ainda não sei. Mas parece-me que não será ad aeternum, não...

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