domingo, 6 de dezembro de 2009

In the mood for tears

Estive a ver o filme de Wong Kar-Wai, Amor à flor da pele (In the mood for love, 2000). Nele se conta, com uma delicadeza tocante, a história de um amor proibido, sufocado, inexorável e perturbador como o são todas as coisas inevitáveis, mas que não podem florescer livremente.

Segundo uma tradição chinesa que remonta a tempos muito antigos, quando alguém tinha um segredo que não queria revelar, subia uma montanha para, lá em cima, procurar uma árvore onde escavava um pequeno buraco. Sussurrava então o seu segredo dentro do orifício e depois selava-o com lama, garantindo deste modo que ninguém o viria a descobrir.

O protagonista do filme cumpre a tradição, mas deposita o seu segredo num pilar do grande templo de Angkor, como se assim pudesse salvaguardá-lo para todo o sempre e, ao mesmo tempo, como se fizesse uma prece. Muitos anos depois volta ao local e encontra o pequeno buraco já vazio, como um símbolo da vida desperdiçada e do amor há muito perdido. O próprio templo, embora grandioso, está em ruínas. Em silêncio, relembra como o passado é algo que pode (re)ver mas não (re)tocar, como tudo em seu redor é indistinto e desfocado, como se visse a realidade através de um vidro embaciado. Depois  tapa novamente o oríficio, afastando-se em seguida sob o olhar silencioso de um monge que o observa desde início.



Só se pode chorar depois de ver este maravilhoso filme. Foi o que fiz.

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