terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A metáfora

Os dias decorriam dentro dos limites de uma rotina anódina, solitária e sem grandes sobressaltos. Um dia, sem que nada o fizesse prever, um exame médico revelou problemas de saúde inquietantes. Foi necessário alterar a rotina para acudir rapidamente à situação.

Mas um grão de areia tinha entrado na engrenagem e nada voltou a ser como antes. Tudo começou então a desmoronar à sua volta e dentro da sua vida: confiou nas pessoas erradas, encontrou as pessoas erradas no momento errado, apostou nas pessoas certas, mas no momento errado e conheceu as pessoas erradas no momento certo. Procurou, andou às voltas, andou para trás e para os lados, porém, nunca mais encontrou o caminho que segue em frente. Por fim, quando do lugar onde era suposto saírem laranjas saíam já bananas comprimidas em cascas de laranja, foi forçada a convencer-se de que a avaria na engrenagem era mais grave do que aquilo que estava disposta a admitir até para si mesma.

Foi novamente ao médico. Está agora a tentar negociar tréguas com uma depressão profunda e renitente. Usa comprimidos - vários por dia - como argumentos dissuasores. Contudo, o acordo de paz ainda não tem data marcada. A engrenagem está por isso em lay-off: Ninguém sabe se, ou quando, a linha de produção voltará a funcionar.

É disto que fala a extraordinária curta metragem “Passe-Vite” de Ben Verschooris, Bert Dombrecht e Korneel Detailleur, realizada em 2007. É uma metáfora quase perturbadora da minha vida nestes últimos três anos.


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