domingo, 11 de julho de 2010

Trabalhar com palavras

Uma das características mais interessantes (para mim) do trabalho criativo da artista plástica Ana Vidigal é a forma como integra palavras, frases ou pequenos textos nas suas telas: A frase, a palavra encantam-me. Penso muitas vezes: “Como gostaria de ter scrito isto.”, “Como esta pessoa disse isto tão bem”. Uma palavra pode ser muito concreta. E há um jogo, uma subtileza que a palavra proporciona. Pode ser uma contradição entre os termos: o texto que insiro e o que está lá pintado. Sendo artista plástica e tendo um discurso não figurativo, o espectador pode interpretar aquilo como entender. Não resisto a recortar essas palavras e a jogar com elas, com as formas, ao que é possível fazer formalmente com elas.”
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"Gosto da escrita como caligrafia também, e utilizo tanto frases de Baudelaire como a seguir vou aos meus dois volumes do “Simplesmente Maria” em fotonovela, todo encadernado, que se tu tirares as frases do contexto, tem coisas absolutamente maravilhosas. E costumo misturar, tanto coloco uma frase minha, como a seguir uma da Clarice Lispector, e depois a seguir uma do “Simplesmente Maria” e depois outra minha.
Muitas vezes quando estou num impasse, resolvo vindo procurar frases. E depois encontro alguma coisa óptima mas que nem é para o trabalho que estou a fazer. Depois não sei se descansei a cabeça, se passei para outra situação, sei que depois quando vou pegar outra vez no trabalho geralmente é mais fácil continuar. É melhor parar, ir à outra sala ver umas coisas e depois continuar. Não é uma coisa que faça para ir remediar um trabalho, geralmente só ponho as frases no fim, as frases não fazem parte da composição, elas são integradas na composição que já está. Eu nunca começo um trabalho a pensar – “tenho esta frase”.
Ana Vidigal; Excertos de entrevistas a Anabela Mota Ribeiro e a Susana Pomba

Ver trabalho da artista plástica aqui.

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