quinta-feira, 22 de julho de 2010

Factos e farsas sobre a política para o arrefecimento global

As questões de política climática na Europa têm sido ofuscadas pela luta da UE para salvar a Grécia e os restantes países da linha mediterrânica, Portugal incluído, do mais que certo enforcamento económico. Isto apesar de, nestes últimos anos, a mesma UE ter pretendido liderar a resposta mundial às questões e consequências funestas do aquecimento global, com a sua política de 20/20/20, ou seja, reduzir em 20 % as emissões de gases com efeito de estufa (por comparação com os níveis de 1990) e aumentar em 20 % a quota das energias renováveis até 2020.

Sobre estas boas intenções europeias de dar lições aos grandes e poderosos poluidores do mundo e sobre o caminho escolhido para lá chegar, no entanto, pairam algumas dúvidas, muito seriamente levantadas por estudos recentes e muito credíveis.

Um deles é mesmo demolidor: trata-se de uma análise de custo-benefício, realizada pelo economista ambiental Richard Tol. Neste estudo sobre a meta 20/20/20, e sobre a meta ainda mais exigente de 30% que tem vindo a ser defendida pela Comissão Europeia, Tol conclui que, isoladamente, qualquer plano europeu terá um efeito diminuto sobre a redução das emissões de carbono e a consequente subida global da temperatura, quanto mais não seja porque não é na Europa que estão as economias mais competitivas e industrializadas. Para além destes benefícios irrisórios, Richard Tol verificou ainda que os custos totais destas metas também não serão exactamente os que têm sido apregoados pela UE, a qual declarou recentemente fazer esta festa por uns míseros 48 mil milhões de euros por ano. Ora todos os modelos económicos aplicáveis parecem indicar que, afinal, há nos lugares-chave da UE quem não saiba fazer bem as contas, pois os custos da meta de 20/20/20 serão de, pelo menos, 110 mil milhões de euros anuais. Mas estes custos agravam-se mais ainda porque as energias renováveis – solar e eólica -, cuja quota deverá obrigatoriamente subir 20%, são tudo menos baratas.

E é por tudo isto que, afinal, o custo real desta nova política ambiental europeia não será de 48 mil milhões, como a UE anuncia, nem sequer de 110 mil milhões de euros, mas sim de 210 mil milhões de euros anuais, sendo que a Portugal será apresentada uma factura de 3 mil milhões de euros por ano.

Um outro estudo, realizado por Björn Lomborg, director do Copenhagen Consensus Center, revela números a que também deveríamos estar mais atentos. Em vez dos custos simples, Lomborg avaliou a política de 20/20/20, calculando o custo do prejuízo global que ela permitiria evitar. Para isso partiu da estimativa de que uma tonelada de dióxido de carbono pode custar 7 dólares de prejuízo, para concluir que os proveitos reais da política da UE correspondem a apenas 7 mil milhões de euros. Ou seja, por cada euro que custa (e custa, pelo menos 210 mil milhões de euros por ano), a política de 20/20/20 da UE apenas consegue obter 3 cêntimos de proveito. É pouco, demasiado pouco, para justificar um investimento regional (europeu) tão elevado.

Lomborg aplicou ainda um outro modelo económico (RICE) e concluíu que, no fim deste século, esta política da UE apenas reduziria a subida da temperatura em 0,05 graus centígrados. Pouco, tão pouco que nem dá para ser medido com precisão.

Ambos os analistas recomendam, por isso, que a UE mude de rumo e deixe de atirar (o nosso) dinheiro pela janela, investindo milhões sim, mas na investigação e desenvolvimento de energias verdes alternativas. Quando alguém conseguir criá-las o impasse mundial em matéria de mudanças climáticas terá os dias contados. Mas enquanto essa fonte de energia alternativa não for encontrada, será sempre demasiado caro substituir em larga escala o petróleo e os restantes combustíveis fósseis por alternativas verdes como a energia solar e a eólica, as quais, ainda por cima, não têm o mesmo rendimento económico. Como diz Björn Lomborg “Se houvesse fontes de energia que não emitissem carbono e que fossem acessíveis, toda a gente – incluindo a China e a Índia – as compraria e, a longo prazo, as emissões diminuiriam significativamente.” (*)

A UE parece assim estar a percorrer um caminho sem saída e, ainda mais preocupante, é o apelo feito pela Comissão dirigida por Durão Barroso para que essa meta (20/20/20) seja ainda mais exigente, subindo a fasquia da redução das emissões de carbono para os 30% abaixo dos níveis de 1990, iniciativa que, pelos cálculos de Lomborg, custaria aos europeus cerca de 450 mil milhões de euros anuais. O impacto desta política mais severa reduziria as temperaturas globais em apenas mais 1 centésimo de grau centígrado, embora o seu custo fosse duas vezes superior ao da actual política de 20/20/20.

Lomborg conclui ainda que “Planos de redução das emissões de carbono caros e deficientemente concebidos, como o da UE, causarão mais problemas económicos e mais conflitos políticos, contribuindo muito pouco para abrandar o aquecimento global. A Europa tem de mudar de rumo.” (*)

Não há dúvida de que andamos, mesmo, a brincar com o fogo. E, muito provavelmente, lá virá um dia em que ficaremos todos queimados...

(*) In Calmal – Cool It: The Skeptical Enviromentalist's Guide to Global Warming

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