sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

O lixo em rede

A rede virtual que cerca os nossos dias tem claras semelhanças com as redes da pesca de arrasto: apanha tudo. De forma livre, circulam por todo o lado todo o tipo de e-mails, dos mais relevantes e interessantes, aos que não servem para mais nada a não ser para aumentar os lucros das empresas fornecedoras de serviços de internet e testar a nossa paciência. É o chamado "spam" o correio electrónico não desejado.

Claro que, neste capítulo, os próprios utilizadores dão uma preciosa ajuda ao fazer circular sistematicamente aquelas mensagens que não dizem coisa nenhuma que se aproveite, mas que têm de ser passadas tão depressa quanto possível a 10 pessoas, no espaço de 10 minutos, pois se não o fizermos o azar bate-nos à porta e instala-se nas nossas vidas durante, pelo menos, 10 anos. E as inúmeras mensagens para divulgar a informação sobre uma criança perdida, fugida ou extraviada, de que ninguém nunca ouviu falar, nem vai ouvir, porque não existe. Há também as variantes das crianças com cancro, supostamente a precisar de dadores compatíveis de medula, e outros quejandos. Quando os recebo associo sempre à história do Pedro e do Lobo: a estratégia seria muito boa, se fosse utilizada para fins honestos. Assim, nunca nenhuma criança realmente desaparecida será encontrada e devolvida à família devido à divulgação do caso por mail.

Há ainda uma variante muito portuguesa deste fenómeno que é a suposta denúncia dos avantajados vencimentos, benesses e mordomias dos gestores mais ou menos públicos, políticos e afins... ou até das trafulhices em que estão envolvidos. Também ainda nunca percebi por que razão circulam se, afinal, continuamos a votar neles e a permitir que o (des)governo do país continue nas suas mãos.

Claro que falta ainda referir a praga dos ppt/pps, com umas imagens idílicas e miríficas imagens, sempre com fundo musical estilo flauta de pan, que vão desde os Alpes suíços, aos campos de arroz do Vietname, e que ninguém sabe muito bem nem porquê, nem para quê andam a circular pelos mails...

E nem vale a pena perder muito tempo a falar dos montes de publicidade às coisas mais mirabolantes, sobre as quais não temos a mais pequena ideia, nem sequer da forma como os remetentes obtiveram o nosso endereço de e-mail. Muitos menos daquelas empresas a quem, de forma inocente ou por alguma razão prática e pontual, divulgámos o nosso mail e que, simpaticamente, todos os dias nos mandam pelo menos duas mensagens publicitárias.

E depois há uns casos estranhos. Há dias recebi "out of the blue" esta enigmática mensagem, enviada supostamente da Serra Leoa. Ora veja-se a minha incrível sorte:

"Greetings,
I am Madam Reakkah Bakko from Sierra-Loene married to Mr. Williams Bakko, he was dealing on Gold and Diamond, who died of cancer leaving me and my only son Ken who is 7 years now, and before his death he deposited US$10.5 Million dollars in a bank in Ouagadougou (Burkina-Faso).

Since the death of my husband, his brothers have been seriously chasing me around with constant threats, trying to suppress me so that they might have the documents of his landed properties and confiscate them. They have successfully collected all his properties, yet they never stopped there, they told me to surrender all bank accounts of my late husband, which I did, but I never disclose to them of this deposit. Because my husband made the deposit in a suspense fixed account with a clause attached to it for onward transfer into a foreign account.

Now that the situation is becoming uncontrollable because of pressure on me from the family members, which I will no longer like to take more risk staying here with my only son who is just Seven year old, I am now soliciting for your help to stand as my foreign business partner to receive the fund into your account. You will help me to invest the money into real estate once I come over there with my son.

So if you accept to be my partner to receive the fund in your account, get back to me for more details. Please call me after reading: +22675199414
Thanks,
Madam Reakkah Bakko"

É de fazer chorar as pedras... de tanto rir, claro está.

Só que, e aqui já não me dá assim tanta vontade de rir, se alguém continua a enviar este tipo de mensagens é porque muitos destinatários também continuam a achar que algo assim poder ser verdade no mundo cão em que vivemos e respondem-lhes caindo assim, como é óbvio, no conto do vigário. Os fins continuam a ser sempre os mesmos - sacar dinheiro e/ou informação que possa render depois mais dinheiro por vias desonestas (números de cartões, códigos, e sei lá que mais) - embora os meios utilizados para os alcançar acompanhem a evolução tecnológica.

Conclusão: tanta informação disponível em todo o lado e através de todos os meios, tanta facilidade no acesso a essa mesma informação, tanta gente, supostamente, tão mais informada e, afinal, independemente da idade, do sexo, da educação ou formação académica continuamos a cair no conto-do-vigário com uma facilidade impressionante. E que ninguém tenha a pretensão de se julgar imune a estas coisas...

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