terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Poética e naturalista serenidade

pax rustica, uma ironia

atravesso o pinhal. o meu cão salta.
fulvo tigrado ele é da cor do mato.
por entre o tojo escapuliu-se um gato
e liga as copas uma nuvem alta.

evito a estrada e o seu traçado exacto
que a lentidão municipal asfalta.
antes o cimo em que o pulmão se exalta
e as pinhas vêm à ponta do sapato.

restolho e urze, giestas, estalidos
de folhas secas, água a correr, ruídos,
vozes distantes chamam dos quintais.

já o sol vai a pino. já no ermo,
como a manhã, todo o prazer tem termo:
chegado à vila, vou comprar jornais.

Vasco Graça Moura, in Sonetos Familiares,
Quetzal, 1999, 2ª ed.

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