domingo, 30 de janeiro de 2011

A poesia da rua

Nos tempos gloriosos do cinema português a preto e branco ficou famosa a "cantiga da rua" que fechava alegremente uma comédia ligeira, romântica e divertida que em nada ficava a dever às que, produzidas em série na américa, estreiam por cá numa base semanal. A "cantiga da rua" era então sobretudo a que andava de "boca em boca". Mas com o tempo, veio a tornar-se também na cantiga "de intervenção", ou de crítica social e política, que teve o seu auge na década de 70 e entrou em declínio a partir dos anos 90. Outras e novas formas assumiu entretanto a "cantiga da rua" para expressar a revolta dos que se sentem acossados no lado mais podre e/ou pobre de uma sociedade cada vez mais desigual: entre elas, o rap e o hip-hop. Em comum, para além de uma matriz cultural claramente urbana e americana, têm a poesia oral e a música. É muitas vezes um misto de poesia de improviso e uma espécie de "cantiga ao desafio", áspera e urbana.

Surgida na década de 80, também na América, mais propriamente nas classes operárias e pobres de Chicago, a "poetry slam" está agora a ser descoberta entre nós. Sinal dessa notoriedade foi a divulgação das noites mensais de "slam" no lisboeta Music Box no programa cultural de referência da televisão pública, o "Câmara Clara":


O "poetry slam" é na verdade uma mistura de quase tudo o que faz a cultura urbana contemporânea - hip-hop, rap, movimento e música - mas em que a palavra dita comanda o ritmo, numa espécie de "spoken word" remasterizado para os dias que vivemos. É uma poesia para ser dita e ouvida e não lida. A "slam" é poesia em contexto, que explora as emoções colectivas do momento em que é dita. Cada um sobe ao palco e usa a palavra poética para afirmar, contestar, expressar ou discutir em público, e é depois julgado e avaliado por esse mesmo público.

Foi destas noites de "slam" que nasceram os Social Smokers: juntaram-se e acrescentaram música às palavras, e também imagens. Gravaram Magnetic Poetry que vai ser lançado por estes dias. A poesia também é uma arma e, com o "slam", está cada vez mais na rua para denunciar o que está errado:

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