sexta-feira, 6 de novembro de 2009

A Fortuna das obras de arte

Várias vezes tenho pensado no que fará a "fortuna", seja ela boa ou má, de uma obra de arte. Como explicar de modo racional que criadores e obras geniais passem quase despercebidas, enquanto outros vêem reconhecido o seu trabalho sem muito esforço? (Epi)fenómenos como "O Código da Vinci" de Dan Brown, ou o mais recente e português "Caim" de José Saramago, não têm explicação racional. Simplesmente acontecem, ou melhor, irrompem nos media. Resultam de um conjunto simultâneo de circunstâncias específicas e de contextos favoráveis à criação destas pseudo-tempestades intelectuais, muito bem geridas e exploradas por máquinas publicitárias implacáveis na sua eficácia.
Acabam por ser polémicas vazias de sentido já que não trazem grande valor acrescentado à literatura ou à própria humanidade: quando acalmar a discussão à volta de Caim, por exemplo, estaremos todos a ler mais livros e a discutir mais sobre religião? Ficaremos a conhecer melhor a obra de Saramago ou estaremos sequer mais motivados para o fazer? Não creio.
Na verdade, são momentos que se vivem de modo intenso mas efémero, até mesmo irracional, e que depois se desvanecem para dar lugar a outras "novidades". São, sobretudo, fenómenos ao serviço de interesses empresariais e ressentimentos individuais.
Mesmo assim, temos que reconhecer: não serão muitos os que, ao longo da sua vida, têm a "fortuna" de poder saborear o gozo de terem despoletado tais polémicas.

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