domingo, 22 de novembro de 2009

O sétimo dia

Imagem tirada de http://samarabrandao.wordpress.com/
E, ao sétimo dia, Deus-Criador interrompeu a sua árdua tarefa para descansar e disse às suas humanas criaturas que, dali em diante, fizessem o mesmo... Claro que, naqueles longínquos tempos, o supremo Criador ainda não tinha inventado essa estranha coisa hoje conhecida como Rotina. Exige ela que executemos, com perfeita simetria mecânica, uma coreografia ritmada pelo relógio: as mesmas coisas, nos mesmos dias, às mesmas horas. São pequenos rituais de sufocação que anestesiam o pensar, o sentir, a memória, até mesmo a consciência. Muitas vezes, aí pelo meio da semana, sinto falta de estar a sós comigo. Sinto falta de ter tempo para mim, para as coisas que gosto, para o que dá sentido à pessoa que sou. Penso então no fim-de-semana que virá como uma espécie de óasis redentor.

Contudo, à medida que os anos vão decorrendo, o domingo tem-se tornado para mim um dia ainda mais estranho que todos os outros. Não encaixa. Não bate certo. Tanta coisa sonhada e pensada durante a semana, na expectativa do domingo mais próximo! Porém, uma vez chegado, nada é realizável, pois um único dia é insuficiente para tudo o que imaginei. Dou comigo a fazer pequenas coisas dispersas, meio perdida nas horas longas de um dia, que, afinal, é demasido curto. O “grande dia” acaba por escorrer intranquilo, perseguindo a miragem de uma plenitude nunca alcançada (inalcançável?) até se transformar numa espécie de promessa não cumprida. O sétimo dia da semana não faz mais sentido do que qualquer outro. Falta-lhe, ou melhor, falta-me algo. Ironicamente, concluo: a Rotina! Aquela que enforma e preenche os restantes seis dias de um modo tão esmagador, ao ponto de conseguir esvaziar de sentido o único em que, supostamente, devia ganhar forças para a enfrentar.

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