sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Atar (algumas) pontas soltas

No passado mês de junho, já Álvaro Santos Pereira aceitara o convite de Passos Coelho para ser ministro, quando publicou esta postagem:
Ver aqui
Nem sequer foi necessário alongar-se muito. Meia dúzia de números foram suficientes para concluir que (e nunca é demais repetir, pois há por aí muitos a quem não convém lá muito entender a verdade e alguns estão até no governo) "... como as estatísticas da OCDE (...) demonstram, Portugal permanece um país extrememente desigual." (sic)

Vêm(-me) estas afirmações mesmo a calhar, agora que o governo que Álvaro Santos Pereira integra acha (e muito bom povo com ele, claro está) que a função pública não passa de uma corja de privilegiados que auferem vencimentos elevadíssimos que têm levado o país à ruína.

Claro que quem assim fala e decide em consonância sabe que as coisas não são bem assim, mas convém-lhe, e muito, que a populaça arranje um bode expiatório para descarregar a fúria e a frustração, enquanto ficam convenientemente na sombra alguns dos tais 1,1% da população portuguesa que, de acordo com as estatísticas oficiais citadas pelo agora ministro Santos Pereira, auferem quantias superiores a 100 mil euros anuais. Até porque já foram, são e certamente vão continuar a ser pessoas influentes, que sabem mexer os cordelinhos e têm acesso a gente poderosa (e nunca se sabe quando é que vamos precisar de um favorzinho...)

Há, por isso, que manter um low profile no topo da pirâmide e para tal não há como desviar as atenções para outro lado, neste caso, para baixo, para a sua base. É lá que pululam os párias do sistema, isto é, os funcionários que levam pouco mais de 500 ou 600 euros mensais para casa e também os que, sendo tão ou mais qualificados e competentes que os do topo da pirâmide, não têm é as relações de amizade - também há quem lhes chame cunhas - que lhes permitam aspirar a mais do que mil a mil ou quinhentos euros por mês (no Luxemburgo, qualquer mulher a dias ganha o dobro disto).

E quem são então os que integram esta casta divina que gravita na altas esferas do estado e das suas mais relevantes instituições, ou então à frente dos destinos das mais importantes e poderosas empresas nacionais? Aqui ficam apenas alguns exemplos:
c) 400 políticos portugueses que, apesar de estarem ainda na "flor da idade" e de ocuparem cargos muito bem remunerados, auferem sem pudor de uma "pensão vitalícia" (ou mesmo várias) e acham muito bem.

Mais ainda. Como legislam em causa própria, e de parvos não têm nada (parvos somos nós que lhes temos permitido o acesso ao pote do ouro sem quaisquer restrições), arranjaram a seu tempo a maneira de se safar e muito airosamente a tudo quanto é corte ou restrição: os funcionários públicos que paguem, nós nada temos com isso! Era o que mais faltava, ainda segundo o tal de Mira Amaral.

O próprio professor Gaspar, numa das suas recentes lições, afirmou c-o-m-t-o-d-a-s-a-s--l-e-t-r-a-s, que nas pensões vitalícias dos ex-políticos não se mexe, ainda que algumas tenham valores absolutamente indecorosos face ao panorama socioeconómico do país, aliás como se pode conferir aqui e ainda que o custo anual dessas tais pensões/subvenções seja qualquer coisa como isto:
Imagem daqui
Ora eu, que sou funcionária pública há mais de vinte anos, que estou mesmo cá em baixo no primeiro nível da pirâmide e daqui nunca sairei, acho toda esta conversa sobre os funcionários públicos e as suas enooormes regalias (ainda por cima sentenças pagas a peso de ouro e que, se forem ditas na RTP, mais uma vez me saem do bolso) do outro mundo e nunca como agora estive tão tentada a entrar para a política. Afinal, também sou filha de deus e, pelo menos, sempre tinha direito a uma reformazita jeitosa, além de vitalícia. 

Mas, voltando ao princípio, por escassos segundos quase senti pena do bem intencionado, ingénuo e um tanto "verde" Álvaro... Ou talvez nem tanto assim, dado que aceitou integrar o governo, quanto mais não seja para servir de engodo.

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