quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O poeta é um ser que inventa a importância relativa das coisas...

... porque "a importância de uma coisa não se mede com fita métrica nem com balança nem com barômetro etc. / (...) a importância de uma coisa há que ser medida pelo encantamento que a coisa produza em nós." Manoel de Barros, In Sobre Importâncias

Seis ou Treze Coisas que Aprendi Sozinho
(...)
11

Que a palavra parede não seja símbolo
de obstáculos à liberdade
nem de desejos reprimidos
nem de proibições na infância,
etc. (essas coisas que acham os
reveladores de arcanos mentais)
Não.
Parede que me seduz é de tijolo, adobe
preposto ao abdomen de uma casa.
Eu tenho um gosto rasteiro de
ir por reentrâncias
baixar em rachaduras de paredes
por frinchas, por gretas - com lascívia de hera.
Sobre o tijolo ser um lábio cego.
Tal um verme que iluminasse.

(...)
13

Lugar em que há decadência.
Em que as casas começam a morrer e são habitadas por
morcegos.
Em que os capins lhes entram, aos homens, casas portas
a dentro.
Em que os capins lhes subam pernas acima, seres a
dentro.
Luares encontrarão só pedras mendigos cachorros.
Terrenos sitiados pelo abandono, apropriados à indigência.
Onde os homens terão a força da indigência.
E as ruínas darão frutos

Manoel de Barros, In  "O Guardador das Águas",
Ed. Civilização Brasileira, 1989.

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