domingo, 9 de outubro de 2011

Vêm umas atrás das outras, tal como as cerejas

Estava um destes dias a ler no Público (3/10/2011) uma crónica do Nuno Pacheco onde, a propósito da recente morte do jornalista brasileiro Duda Guennes, radicado em Portugal desde a década de 70, ele celebrava a forma exímia como o jornalista usava a língua portuguesa nas suas crónicas. Depois dava alguns exemplos eloquentes. Um deles, referia-se a um texto publicado no jornal A Bola" e, posteriormente, no livro que reuniu alguns dos seus melhores textos Meu Brasil Brasileiro - Crónicas - Causos - Estórias - Factos - Fofocas - Acontecências (Prime Books, 2003). Encontrei-a transcrita no blogue Escrita em dia:

Esta hebdomadária coluna está sempre a receber novidades do Brasil. Esta é uma relação actualizada das pérolas estudantis escritas nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio. Transcrevo-as, respeitando a grafia original:

«O seromano tem uma missão»;
«O Euninho já provocou secas e enchentes calamitosas»;
«O problema ainda é maior se tratando da camada Diozanio»;
«Enquanto isso os Zoutros... tudo baixo niveu»;
«A situação tende a piorar: os madeireiros da Amazónia destroem a Mata Atlântica da região»;
«O que é de interesse colectivo de todos nem sempre interessa a ninguém individualmente»;
«Não preserva apenas o meio ambiente e sim todo ele»;
«O grande problema do Rio Amazonas é a pesca dos peixes»;
«É um problema de muita gravidez»;
«A AIDS é transmitida pelo mosquito AIDES EGIPSIO»;
«Já está muito de difícil de achar os pandas na Amazónia»;
«A natureza brasileira tem 500 anos e já esta quase se acabando»;
 «O cerumano no mesmo tempo que constrói, também destrói, pois nós temos que nos unir para realizarmos parcerias juntos»;
«Vamos mostrar que somos semelhantemente iguais uns aos outros»;
«Menos desmatamentos, mais florestas arborizadas»;
« [...] provocando assim o desolamento de grandes expécies raras»;
«Nesta terra ensiplantando tudo dá»;
«Isso tudo é devido ao raios ultraviolentos que recebemos todo dia»;
«Tudo isso colaborou com a estinção do micro-leão dourado»
«Imaginem a bandeira do Brasil. O azul representa o céu, o verde representa as matas, e o amarelo o ouro. O ouro já foi roubado e as matas estão quase se info. No dia em que roubarem o céu, ficaremos sem bandeira»;
«Ultimamente não se fala em outro assunto anonser sobre as araras azuis que ficam sob voando as matas»;
«[...] são formados pelas bacias esferográficas»;
«Precisa-se começar uma reciclagem mental dos humanos, fazer uma verdadeira lavagem celebral em relação ao desmatamento, poluição e depredação de si próprio»;
«O seringueiro tira borracha das árvores, mas nunca derrubam as seringas»;
«Vamos deixar de sermos egoístas e pensarmos um pouco mais em nós mesmos».

Exame de geografia

Já que estamos falando de exames, tem aquela do professor que perguntou ao aluno quantas eram as partes do mundo. Para ajudá-lo, avançou que eram tantas como as vogais. Aí, o aluno respondeu que eram cinco.
— Quais são?
— A, E, I, O, U.
— Essas são as vogais, não são as partes do mundo. Vamos ver se se lembra. Começam também por A... Ásia...
— Já sei... Ásia, Ésia, Ísia, Ósia e Úsia.

Ainda a propósito das inesgotáveis pérolas de sabedoria estudantil, um destes dias recebi via mail uma ´que vai também nesta linha, só que escrita por um aluno português:

A obra dramática de Gil Vicente

"Eu não tenho dúvidas que o Gil Vicente é muito importante, apesar de nunca ter ganhado o campionato de futebol. É importante porque ás vezes ganha ao Benfica, otras ao Sporting e outras ao Porto, tirando a eles o primeiro logar. E também por isto é que a sua obra é dramática porque é um drama para os benfiquistas, os sportinguistas e os portistas quando ganha."

Atrevo-me ainda a acrescentar aqui as pérolas da minha postagem do passado mês de julho quando, já desesperada, estava a ver provas de exame de língua portuguesa do 9º ano de escolaridade: 50 exames (quase) corrigidos e uma postagem desesperada

Questão ortográfica à parte, estas são as provas mais claras e evidentes de que o problema dos alunos, tanto brasileiros como portugueses, não está nas (in)variantes da língua que falam e escrevem, mas sim na pobreza dos sistemas de ensino que frequentam e nas próprias lacunas culturais das sociedades em que crescem e e vivem. Infelizmente, neste domínio, não há Acordos que nos valham, e muito menos o tal Ortográfico. Mas uma coisa está garantida: as "pérolas" que dele nascerão não tardam a surgir por aí.

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