domingo, 3 de julho de 2011

50 exames (quase) corrigidos e uma postagem desesperada

 e aberta, claro está, ao novo Ministro da Educação

Depois de uma semana a corrigir exames de 9º ano sofro claramente de stress pós-traumático e não tenho data para recuperar, se é que se recupera de tal coisa. É que não sei já quantas reformas curriculares depois, garantidas as condições para que quase nenhum aluno reprove (o que assim, na teoria, até não é mau de todo), criado um regime de funcionamento nas escolas em que os alunos podem fazer praticamente o que lhes dá na cabeça menos estudar e trabalhar, com os pais sempre prontos a criticar e a desautorizar os professores e a própria escola (afinal, a maior parte deles são já também pais formados por este sistema de ensino), criado até um sistema de avaliação dos docentes que mais não é do que uma fantochada burocrática, isto, o sistema educativo, não parece poder descer muito mais baixo. Estamos a formar gerações de ignorantes no país cujo anterior governo apregoava a 'excelência' (é verdadeiramente de pasmar) e onde V. Exa. vem agora falar de rigor e exigência.

Claro que a prova de exame também estava mesmo a pedi-las quando exigiu aos meninos que escrevessem um texto argumentativo em favor da leitura, que pudesse até ser "divulgado no jornal de uma biblioteca escolar". O "estado da arte" da língua lusa no final do 9º ano do ensino básico - ainda há bem pouco tempo coincidente com o final da escolaridade dita obrigatória - é muito assim, mais coisa, menos coisa:

Sobre a leitura: "Eu acho que ler é muito importante porque se aprente muito com os livros e tambem é uma forma de se interter um cadinho sem ser com a televisão ou com o computador.";

"Imagine oque farias se não tivesses uma biblioteca na sua cidade ou até mesmo na sua escola muitos diriam logo tenho computador e não preciso de uma biblioteca (pois é, e quem não tem?) Muitos que não tem computador necessita de uma biblioteca, raciosina como é que antigamente as pessoas eram tão cultas? -É o que te digo sem a biblioteca não saberiam oque elas sabiam nem tinham como divulgar os seus livros.";

"... porém a pessoas obcecadas em ler, lêm milhares e milhares de Livros, lêm prosa, lêm poesia, lêm drama, lêm Banda desenhada, eu cá prefiro a Poesia, poesia romântica, mas também a pessoas que não se interessam por ler, outras pessoas mais idosas algumas não sabem ler, na minha opinião muitas delas gostavam de aprender a ler, hoje em dia há jovens que sabem ler e não se interessam por nada do que tenha letras, na minha opinião esses jovens devriam exprimentar a ler todos os dias um pouco..." (excerto de um texto com 21 linhas e 1 única frase)

A sabedoria e os escritores, talvez já segundo o novo (des)acordo ortográfico: "Você não nasce com sabedoria você adequire. Uma boa forma de adequiri-la é Ler. Muitas pessoas relatam que os escritores são loucos, eu não acho, você ja parou para tentar entender oque eles dizem ou oque pensam, eles não escrevem aquilo por acaso, escrevem o que sentem. Acho que não, por não intenderem eles são loucos."

Sugestões de leitura também há muitas: "Leiam jornais de desporto, noticias na Internet, e quando jogarem computador leiam todas as legendas. Aproveitem tudo o que tiver letras Para fazer uma Pausa na adrenalina que é o computador e descassem a fazer uma boa leitura.";

"Mas tambem exprimentem ler livros, para os aventureiros os de aventuras, e porque não o Livro "Uma Aventura"? É super engracado e interessante eu já li um dos episódios e adorei, ou para os mais apaixonados, que tal Romeu e Julieta? Esse nunca Li mas deve ser super giro, mas há mais e super giros, exprimentem vir há biblioteca, ver dum livro que tenha haver com vocês, exprimentem e depois publiquem o que acharam vão ver que vão gostar, e não costa nada."

Sobre a importância da leitura: "A Leitura pode ser comparada à comida, ou hà água, por vezes é um bem insencial na vida humana, desenvolve capacidades, aprede palavras novas, e muito mais."

E o apelo final: "Pesso a todos os alunos que lerem este pequeno texto que leiam qualquer coisa."

Ora agora, como dizia,  vem o senhor Ministro falar de rigor e de exigência. Pois sempre quero ver como é que, daqui a uns tempos, vão ficar o rigor e a exigência quando o sistema, desabituado de tal coisa, começar a dar coices em todas as direcções... Mas soa bem e, sobretudo, fica bem a um Ministro ainda em "estado de graça" anunciá-lo ao mundo. E mais não digo senhor Ministro. Não tenho palavras que cheguem.

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