domingo, 30 de novembro de 2014

Reinventar o mito


Soube-se hoje que o "Bloco de Esquerda vai passar a ter seis coordenadores (??!!)  e que Catarina Martins será porta-voz do partido" (ler aqui). Parece-me claro que já não estamos a falar propriamente de um partido, mas antes de uma sociedade por quotas que escolheu uma relações públicas. Ou talvez se trate apenas da tentativa de reinventar o mito da Medusa...

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

De como o "recluso 44", afinal, é uma mais-valia para a economia local


Chegou há bem pouco tempo a Évora mas já é um sucesso! De um dia para o outro tornou-se urgente e necessário ir visitar Sócrates à prisão para poder ser filmado e entrevistado pelas televisões. Tornou-se imperioso tirar uma selfie junto ao portão para publicar nas redes sociais. Há quem já alugue a varanda para permitir uma espreitadela para os telhados do presídio (ler aqui). Está mais que visto: este recluso é uma autêntica mina de ouro, o que, em tempos de crise, não é de somenos. 

Até eu, que sempre tive um "fraquinho" por ele, comecei já a ter umas quantas ideias para complementar o ordenado, mais emagrecido a cada mês. Como o passeio junto ao estabelecimento prisional é largo e tem muitos lugares de estacionamento, uma roulote de bifanas e mines para aconchegar o estômago dos penitentes em romaria era capaz de dar bom lucro. E logo ao lado estou a pensar montar uma banca com merchandising alusivo ao tema e à figura. Até já estou mesmo a ver: 

1. canecas com frases do tipo keep calm and...


2. t-shirts com o conhecido símbolo 

3. pin's com o apelo


etc., etc, etc.

Tá visto! Ainda me torno uma empreendedora daquelas que a era sócrates tanto louvava!

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Preve(ni)r o futuro


A catadupa de acontecimentos das últimas 72 horas veio fazer luz sobre o verdadeiro significado dos slogans da campanha de Sócrates nas eleições de 2011. Afinal, o homem andava mesmo a "construir o futuro", senão veja-se:

1. inaugurou em 2009 o chamado "campus de justiça" com instalações xpto, em tudo adequadas para casos mediáticos como o dele;

2. já tinha mandado requalificar em 2008 o Estabelecimento Prisional de Évora, passando-o para cadeia de alta segurança e de reclusão especial para elementos das forças de segurança e agora, pelos vistos, também do estado,

3. e last, but not least, andou todos estes anos a fazer um bom pé de meia na Suíça que isto do futuro, nunca se sabe, assim  revelando claramente ser um homem de grande prudência... (ora se esse rico dinheirinho não vai agora dar um jeitão para pagar os advogados...)

E que dizer sobre o povinho - sobretudo jovens - que já corre para tirar selfies à porta do estabelecimento prisional de Évora onde Sócrates se encontra detido (ler aqui)? Pois que nos espera um futuro promissor, certamente...

Imagem daqui

domingo, 23 de novembro de 2014

A vedeta de vaudeville e o copo de cicuta

As últimas semanas indiciam que a justiça ainda se mexe, apesar da morte anunciada por muitos. Mas, pela forma como o tem feito, mais parece que a sóbria e sensata figura de olhos vendados e balança equilibrada no braço firme, participou num qualquer episódio do Extreme Makeover de onde saiu transformada em vedeta de vaudeville, assim meio esgrouviada e um tanto galdéria, agitando máscaras suspensas de um bastão num número musical de gosto duvidoso, mas de grande efeito mediático. Permanentemente rodeada por um batalhão descontrolado de jornalistas, fotógrafos e câmaras de televisão que, pasme-se, sabem sempre antes – e se gabam disso – tudo o que está a ou vai acontecer nas mais secretas investigações policiais, circula a alta velocidade em carros de vidros fumados no que mais parece uma cena do Knight Rider...


Como se circo mediático fosse lei ou  - o que ainda é pior – justiça. Perante este cenário é legítimo perguntar: afinal, vivemos num estado de direito em que polícias e tribunais funcionam como deve ser? Ou em algum momento obscuro da nossa história - e que nos passou terrivelmente desapercebido -  nos teremos transformado numa república abananada onde a justiça se tornou linchamento mediático e desproporcionado de figuras quanto mais públicas e poderosas melhor para dar a ideia de que algo está mesmo a funcionar? Onde a investigação dos crimes parece ser conduzida e, claro, divulgada em primeira mão, pelos jornais e não pelas polícias competentes para o efeito. Com o ministério público a dar o dito por não dito ou a deixar dizer que depois logo se verá...

As últimas semanas foram férteis em grandes furos televisivos e jornalísticos, mas quantas condenações sairão dos julgamentos que se lhes seguirão, se houver julgamentos? E quantos anos demorarão esses mesmos julgamentos? E quantos recursos haverá pelo caminho até vários crimes terem, afinal, prescrito? E depois talvez ainda seja necessário repetir o próprio julgamento porque, naquele dia, alguém com responsabilidade não fez o que era suposto fazer...

Como anónima cidadã esta forma de fazer justiça em praça pública, com afirmações e acusações que se avolumam nos jornais, televisões e redes sociais de hora a hora até se transformarem numa gigantesca bola de neve que destrói tudo à sua passagem, deixa-me inquieta: e se um dia for eu a precisar da justiça ou que se faça justiça, como será? Não tendo acesso ou qualquer interesse para os media, estou mais segura do que estas figuras públicas no que à justiça diz respeito? Ou estarei ainda mais tramada porque, ao contrário destes famosos, nenhum canal de televisão me dará tempo de antena para poder declarar-me inocente ou para baralhar ainda mais as coisas?

É pois também por mim que espero que a este Sócrates – exemplo paradigmático do lado mais sombrio dos partidos políticos, sejam eles da cor que forem - não tenha sido dado agora um prematuro copo de cicuta (ler aqui).