segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

A cantiga também é uma pedrada...

atirada às águas paradas da indiferença e do alheamento, com a vantagem de não causar mortos nem feridos. Incomoda muita gente? Talvez alguns. E se vier para a rua talvez possa vir a incomodar muitos mais...

domingo, 27 de fevereiro de 2011

A cinemática noite

A Cinematic Orchestra em noite de grande desfile de vaidades e de egos tamanho XL, que o mesmo é dizer, em noite de óscares do cinema em Hollywood. Qual é a relação entre uma e outra coisa? Nenhuma, pois claro! Mas apeteceu-me.

Mentes digitais e inquietas: um desafio diferente, para variar

O futuro dos países, e do mundo, começa cada vez mais a ser discutido e decidido na net. Denunciar todo o tipo de situações ou convocar protestos vários, desde petições a reclamações por mail, manifestações, convulsões e até mesmo revoluções usando a net e, em particular, as redes sociais, tornou-se prática habitual no mundo globalizado. De certa forma, a rede avivou a consciência cívica de muitos cidadãos que andavam alheados de quase tudo, e isso é bom. A par deste fenómeno – e se calhar até certo ponto motivado também por ele - tem crescido na nossa sociedade o número de cidadãos que se candidatam a cargos políticos apenas com o apoio de movimentos cívicos e sem qualquer interferência partidária.

A sistemática depredação dos recursos naturais, o crescimento desordenado e desenfreado das grandes cidades industrializadas, a desertificação e empobrecimento das regiões periféricas e do interior interior estão a trazer consequências gravosas que todos começamos a sentir no bolso e não só: a nossa “qualidade de vida” também começa a estar em risco. Foi só uma questão de tempo até aparecerem na net blogues e fóruns de discussão sobre todos estes temas ligados à sustentabilidade e que prometem vir ainda a dar muito que falar: não porque incitem às manifestações de rua, mas porque, promovendo a discussão e a troca de ideias, levam a uma maior consciencialização dos cidadãos sobre todas estas questões das quais depende, em grande parte também, a nossa sobrevivência no planeta. Talvez se venha assim a formar uma nova geração de cidadãos, e de governantes, com um pensamento mais íntegro e mais consciente de que as decisões devem ser tomadas com bom senso que é, afinal, aquilo que falta à maioria dos políticos que nos (des)governa, tanto a nível nacional como local.

O objectivo do movimento é ambicioso: pensar em soluções criativas que tenham impacto económico e social e que possam vir a ter impacto na nossa vida. Os sítios http://noeconomicrecoverywithoutcities.blogs.sapo.pt/ sediado em Aveiro, o http://networkedblogs.com/anEmX sediado no Porto e o http://www.faro1540.org/ sediado em Faro estão a lançar ideias, propostas, provocações, debates sérios e muito interessantes sobre todas estas questões que, afinal, nos afectam a todos, mesmo que andemos muito “distraídos”. Valem bem uma visita.

Falta agora desmultiplicar esta ideia por outras zonas do país. Évora, por exemplo, bem precisava de um movimento assim. Acho que já todos percebemos que com os habituais blogues onde os cidadãos, quase sempre a coberto do anonimato, destilam venenos de toda a espécie, lançam calúnias e vociferam os insultos mais vulgares numa linguagem, no mínimo, disfuncional, não chegaremos muito longe. Também porque já percebemos que, apenas a dizer mal de tudo e de todos e a defender os interesses do seu partido como quem defende o seu clube de futebol preferido, é que não chegaremos nunca a sair do buraco em que encontramos há já muitos (demasiados?) anos.

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Hino singelo

Juromenha, 26/2/2011
Na erva crespa que cobre o chão e me cerca as passadas a perder de vista três pequenas e delicadas pétalas pintadas de azul aparecem de repente. A delicada flor parece estar agarrada ao chão como se tivesse medo de ser descoberta ou se sentisse intimidada, ali, sozinha e como que perdida na imensidão verde que a cerca. Nas suas pétalas frágeis está guardada a bom recato toda a singela e ainda intacta beleza da  primaveril planície.

Proverbiais e aforísticas



Juromenha, 26/2/2011
  Quem está no ponto mais alto nem sempre vê melhor, apenas mais longe.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

My Sentimental Melody

As pequenas palavras

De todas as palavras escolhi água,
porque lágrima, chuva, porque mar
porque saliva, bátega, nascente
porque rio, porque sede, porque fonte.
De todas as palavras escolhi dar.

De todas as palavras escolhi flor
porque terra, papoila, cor, semente
porque rosa, recado, porque pele
porque pétala, pólen, porque vento.
De todas as palavras escolhi mel.

De todas as palavras escolhi voz
porque cantiga, riso, porque amor
porque partilha, boca, porque nós
porque segredo, água, mel e flor.

E porque poesia e porque adeus
de todas as palavras escolhi dor.

Rosa Lobato de Faria

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

A longa estrada da música

Explicação da Eternidade

devagar, o tempo transforma tudo em tempo.
o ódio transforma-se em tempo, o amor
transforma-se em tempo, a dor transforma-se
em tempo.

os assuntos que julgámos mais profundos,
mais impossíveis, mais permanentes e imutáveis,
transformam-se devagar em tempo.

por si só, o tempo não é nada.
a idade de nada é nada.
a eternidade não existe.
no entanto, a eternidade existe.

os instantes dos teus olhos parados sobre mim eram eternos.
os instantes do teu sorriso eram eternos.
os instantes do teu corpo de luz eram eternos.

foste eterna até ao fim.

José Luís Peixoto, in A Casa, A Escuridão; Temas & Debates

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Embalar a memória

Subsídios para uma visão comparada da nossa história


Aqui há dias recebi via mail este cartoon que, em poucos traços e de forma brilhante, resume toda a história da Itália, país que, segundo os europeus do norte e à semelhança do nosso, pertence agora à categoria dos países ditos periféricos ou, mais propriamente dos países designados pelo acrónimo PIGS:

imagem de http://www.blogger-index.com
Trata-se, como é notório, de uma história marcada por figuras que, embora separadas no tempo,  têm algo em comum: o exibicionismo e a líbido exacerbada. Em termos zoomórficos será algo de semelhante ao cruzamento de um pavão com um galo. Daí provavelmente o notório recrudescimento de um certo apêndice que, em resultado da tal evolução darwiniana das espécies, atingiu o seu apogeu na actual era Berlusconi.

Ora a história portuguesa, porque já vai longa tal como a italiana, apresenta também uma galeria de figuras marcantes. Eis três delas:
D. Afonso Henriques               Salazar                       José Sócrates

É  notória a semelhante proeminência de um certo apêndice mas não sei se por sermos de facto diferentes, se para sermos diferentes (confesso ter aqui algumas dúvidas relativamente à preposição a usar), ou se apenas devido a alguma mutação genética ainda inexplicada, este cresceu um pouco mais acima do que o dos italianos. Infelizmente isso não quer dizer que estejamos em melhor situação do que eles, bem pelo contrário. E o mais provável é que a explicação histórica para os nossos desaires enquanto nação seja tão linear quanto esta: os nossos excelsos governantes têm, desde sempre, andado a meter o apêndice errado nos sítios errados...

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Notícias de última hora (mais do que actualizadas, sempre actuais)

Elis tinha/tem toda a razão: isto já só entra nos eixos quando os marcianos vierem tomar conta de nós...

O amarelo perdido de Van Gogh

Borba, 21/2/2011
Os campos estão pintados de amarelo a perder de vista, imensas listas coloridas que se alongam pela paisagem e não desbotam com o sol. Antes pelo contrário: à medida que ele ganha altura sobre a planície, esta cor amarela torna-se ainda mais intensa, quase vibrante.

É sem dúvida aqui e agora que, naturalmente preservados, brilham intensamente os tons amarelos que há muito se perderam dos mais belos quadros de Van Gogh.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A intensidade também é uma música assim

Proverbiais e aforísticas

Nem sempre a vida acontece.
Muitas vezes, apenas tece. E outras, nem sequer apetece.
Certo é que vale, sobretudo, pelos raros momentos em que nos enternece.

Revisitar o mito

Tiziano, Sísifo, 1548
O amor é a mais perigosa das doenças sexualmente transmissíveis, sobretudo porque aquele/a que a transmite raramente é portador/a ou apresenta sintomas de tal maleita. Na ausência de vacina ou de qualquer outro tratamento farmacológico, a taxa de sobrevivência a este tipo de infecção viral depende sobretudo da capacidade de cada um para criar anticorpos que reforcem o sistema imunitário contra tais aflições (actuais ou futuras). 

Sabemo-nos imunizados quando tudo se começa a resumir a uma simples função biológica. E, no exacto instante dessa tomada de consciência, deixamos de carregar o familiar pedregulho, para começarmos a senti-lo dentro de nós. Depois, é só deitar e rolar... pela encosta abaixo.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Prenunciação da primavera

As recém-chegadas andorinhas traçaram a carvão, na azulada claridade, volutas de alegria que deixaram sobre os telhados um rasto sonoro reverberante, prenunciação da primavera que já chegou, mas que ainda não é perceptível aos nossos olhos. Por agora, está ainda confinada ao canto dos pássaros, mensageiros da boa nova, e aos campos que começam já a tecer os floridos tapetes por onde todos os anos passa o cortejo eufórico da renovad(or)a festa da (re)criação.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Música que se ouve como quem regressasse a um sítio familiar

Dos círculos

Sob todos os pontos de vista é sempre mais fácil fechar um círculo do que um ciclo.
Talvez seja por isso que para a maioria de nós, seres comuns, a vida se confunde quase sempre com um longo e único ciclo vital feito sobretudo de pequenos círculos de tédio, de (des)ilusão e de frustração que se vão encaixando, sucessivamente, dentro de outros círculos que, por sua vez, apenas conduzem a mais círculos dentro de outros círculos, tudo sempre dentro do mesmo longo e enredado ciclo.
Escassas vezes conseguimos, a duras penas e por tentativa e erro, fechar ou quebrar um só desses pequenos círculos. Fechar todo um ciclo vital para depois iniciar um novo, então, é algo a que só raros seres, atravessados pela assombração da genialidade ou marcados pela singularidade, conseguem. E eu, há já muito que percebi não haver em mim nada de genial ou de singular.

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Denunciar a cantar

Depois de termos feito da cantiga uma arma contra a ditadura, as circunstâncias actuais estão claramente a inspirar uma nova vaga de canções que se poderiam talvez chamar "de denúncia": os Deolinda, por exemplo e, agora esta de Paco Bandeira que não deixa pedra nenhuma por levantar.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Arte Bruta(lizada)

Era uma vez um homem chamado Henry Joseph Darger, Jr. que vivia num quarto alugado e que ganhava a vida como modesto guarda num hospital de Chicago. Figura reservada, não convivia com ninguém e apenas saía de casa para ir trabalhar ou para ir à missa. Mais do que estranho ou misterioso, era para todos um desconhecido. Até mesmo para o único que o tentou ajudar: Nathan Lerner, o seu senhorio. Durante os mais de trinta anos em que viveu no quarto alugado nunca ninguém o visitou e dele apenas se sabia que apanhava lixo nas ruas e o levava para casa. Só quando, já com mais de oitenta anos, Darger ficou impossibilitado de subir as escadas e se tornou necessário institucionalizá-lo é que se descobriu o espantoso mundo secreto que construira ao longo de décadas. Para além de centenas de aguarelas, desenhos e colagens, para além de pilhas de papéis e de revistas, de móveis a abarrotar de imagens recortadas encontrou-se aquela que é, ainda hoje, a mais longa obra de ficção alguma vez escrita: só um dos livros, intitulado The Story of the Vivian Girls, in What is Known as the Realms of the Unreal, of the Glandeco-Angelinian War Storm Caused by the Child Slave Rebellion, tinha - e tem - 15 145 páginas. É um misto de ficção científica e de romance fantástico cujo enredo decorre num planeta bem maior do que a Terra e do qual ela é apenas uma lua. A guerra que opõe as forças da Abbiennia às da Glandelinia leva ao massacre impiedoso de povos inteiros e condena as crianças à escravidão. As heroínas desta quase interminável história são as sete filhas do imperador da Abbiennia – as sete louras Vivian Girls – que, juntas, enfrentam as forças do Mal num combate sem tréguas.

Entre outros livros, Darger escreveu ainda uma autobiografia exaustiva – The History of My Life – com cerca de 5 mil páginas. Este quarto extraordinário e desconcertante onde viveu e escreveu de forma compulsiva está hoje parcialmente reconstituído e preservado no Center for Intuitive and Outsider Art (Chicago) e as suas obras pictóricas integram as colecções de arte de diversos museus americanos. As imagens de crianças angelicais que recortava dos jornais e publicações, pacientemente recolhidos na rua, eram o ponto de partida de todas elas. Vivia, contudo, obcecado por uma imagem: a fotografia de Elsie Paroubek, uma menina de 5 anos que tinha sido assassinada e cuja fotografia fora publicada nos jornais da época.


Darger não é, contudo, caso único. Existem colecções desta chamada Outsider Art ou Arte Bruta espalhadas por vários museus um pouco por todo o mundo. Provêm, na sua maior parte, do espólio acumulado pelos hospitais psiquiátricos que entretanto foram encerrando portas. São manifestações artísticas nascidas do desespero, da doença, da solidão e da vontade de exprimir aquilo que, de outra forma, nunca teria sido expresso. Mas também do génio. São artistas que não se assumem como tal, que trabalham apenas para si próprios e que fazem até questão de esconder a sua arte dos olhos mais curiosos. São quase sempre descobertos por acaso e sobretudo em contexto hospitalar, quando algum médico mais perspicaz ou atento percebe que tem na sua frente autêntica arte e não apenas expressão ou simples terapia. É o caso dos franceses Laure, Aloïse, Émile Hodinos e Augustin Lesange (este último, mineiro de profissão), todos representados na colecção de Outsider Art do Museu de Lausanne. Mas também do brasileiro Moacir, biografado por Walter Carvalho num interessante documentário:


Em Portugal também há Arte Bruta. São (re)conhecidos os casos de Ângelo Vaz Pinto Azevedo Coutinho de Lima, que viveu largos anos em Rilhafoles, e cuja poesia foi publicada na revista Orpheu, ao lado dos textos de Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro ou Almada Negreiros, por exemplo. Sobre esta escrita singular, Fernando Guimarães, que organizou em 1971 a primeira edição da sua obra completa, disse "A poesia de Ângelo de Lima, mesmo quando parece ser presa fácil da doença mental a que o seu autor sucumbiu, põe-nos, afinal, um problema de legibilidade que não é essencialmente diferente do que diz respeito a qualquer texto literário..." (cf. GUIMARÃES, Fernando - introdução a Poesias Completas de Ângelo de Lima, Assírio e Alvim, 1991, p. 15):

Pára-me de repente o pensamento
Como que de repente refreado
Na doida correria em que levado
Ia em busca da paz do esquecimento.

Pára surpreso, escrutador, atento,
Como pára um cavalo alucinado
Ante um abismo súbito rasgado,
Pára e fica, e demora-se um momento.

Pára e fica, na doida correria.
Pára à beira do abismo, e se demora.
E mergulha na noite escura e fria

Um olhar de aço, que essa noite explora.
Mas a espora da dor seu flanco estria,
E ele galga e prossegue sob a espora...

Mas há mais, como a obra pictórica de Jaime Fernandes, simples camponês nascido na zona da Covilhã em 1900, e que viveu no Miguel Bombarda durante quase trinta anos por sofrer de esquizofrenia paranóica. Escreveu muita poesia ao longo da vida e só aos 65 anos começou a pintar, primeiro com um simples fósforo embebido em mercúrio-cromo e, depois, com uma vulgar esferográfica. Quatro anos bastaram para fazer uma obra que é hoje reconhecida como genial. Sobre os labirintos deste artista e sobre a sua obra, António Reis realizou até um  documentário intitulado “Jaime”.





A colecção de Arte Bruta que constitui o acervo do Museu de Pintura de Doentes e das Neurociências do Hospital Miguel Bombarda é, a nível internacional, uma das maiores e melhores: 3500 obras, recolhidas desde 1902. Apresenta ainda uma particularidade rara: a antiguidade de muitas das obras que a constituem. O hospital está agora a ser encerrado – os terrenos onde está construído valem ouro e o Estado precisa de fazer dinheiro rapidamente -, mas ainda ninguém decidiu nada sobre o futuro desta colecção magnífica. Foi lançada uma petição pública, assinada já por nomes como o de Paula Rego ou António Damásio, pedindo que ela seja preservada, mas não houve até agora qualquer resposta por parte dos responsáveis. John Maizels, editor da revista Raw Vision, questionado pelo Público sobre este assunto (2/2/2011) declarou recentemente que “É uma colecção com coisas muito antigas, e com grande valor histórico. Se o seu país não estiver interessado em cultura e não a quiser que diga, porque há muita gente no mundo interessada.”

Ninguém sabe ainda o que vai acontecer mas, se em tempo de «vacas gordas» já acontecem neste país coisas estranhas, em tempo de crise a empresa não se afigura nada fácil. Sobretudo quando se trata de uma forma de arte marginal, como a própria designação indica: “outsider art”. Sobretudo porque - sabêmo-lo demasiado bem -, assuntos menos “marginais” como as intrigas diárias na (al)cova do poder ou a velhacaria tornada arte da (des)governação, e outros valores ainda mais altos se alevantam.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Proverbiais e aforísticas

Está a começar a guerra das sondagens do tipo "se as eleições legislativas fossem hoje".

Como se todos nós não soubéssemos já que, como muito bem observou Millôr Fernandes, "Se durar muito tempo, a popularidade acaba tornando a pessoa impopular" (in "Confúcio Disse"), mais ainda em tempos ditos de «crise» (pelo menos para alguns).

No máximo, dois mandatos, e olhe lá! Um terceiro já é demais. Nessa altura, costumamos eleger o líder da oposição: é mais do mesmo, mas pelo menos sempre tem novo visual.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

LOL (laughing out loud)

Tenho neste momento 90 amigos no Facebook! Algo verdadeiramente extraordinário. Estou de tal forma sociável que quase não me reconheço. Só posso concluir que, no Facebook, está certamente o meu verdadeiro e super Avatar, em toda a plenitude do sentido etimológico da palavra sânscrita que deu origem ao vocábulo actual -  descida do céu para a terra de seres supraterrestres - e não apenas o meu simples ícone gráfico virtual. Por isso, quando descobri esta pequena - mas séria - brincadeira no YouTube quem ficou LOL fui eu. É certo que o Facebook é mesmo o novo "país das maravilhas" de muitas "alices" e "coelhos brancos" aí pelo mundo fora. Mas também é certo que, lá dentro, me sinto sempre como o Gato de Cheshire, e tudo aquilo me parece cada vez mais uma reconstituição virtual da lógica delirante e absurda do Mad Tea Party.


Dias calendarizados

Estamos cada vez mais calendarizados, até nas emoções. Como se, na azáfama dos dias, tivéssemos receio de nos esquecer de sentir, de viver ou de recordar datas/acontecimentos importantes, ou mesmo fundamentais. Ou como se, para não perturbar justamente essa azáfama diária com distracções supérfluas, tivéssemos relegado tais sentimentos e vivências apenas para dias assinalados no calendário. Só para brincarmos a fazer de conta que ainda sabemos como é. Como se certos sentimentos e/ou vivências fossem algo assim tipo «andar de bicicleta» (coisa que, dizem, ninguém esquece como se faz). Talvez seja por isso que, no calendário, há cada vez mais dias para tudo e para nada. Há até um dia como o de hoje.

Pirosismos, modismos, seguidismos e comercialismos à parte, talvez este dia esteja no calendário para nos lembrar a todos que o encantamento e a exultação constituem o cerne do enamoramento e são a verdadeira, única e efémera epifania do amor, embora aconteçam de forma imprevista e de improviso. Nunca em dia calendarizado (senão lá se ia todo o encanto da coisa...). Tudo o resto é conversa des-fiada.

E se, um dia, me decidir a criar um "calendário de canções" este será um dia tão bom como outro qualquer para assinalar "o dia das canções de amor". E esta canção é uma boa candidata para assinalar tal dia. Ou não fosse ela de Jacques Brel.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Biografia

Sonho, mas não parece.
Nem quero que pareça.
É por dentro que eu gosto que aconteça
A minha vida.
Íntima, funda, como um sentimento
De que se tem pudor.

Vulcão de exterior
Tão apagado,
Que um pastor
Possa sobre ele apascentar o gado.

Mas os versos, depois,
Frutos do sonho e dessa mesma vida,
É quase à queima-roupa que os atiro
Contra a serenidade de quem passa.
Então, já não sou eu que testemunho
A graça
Da poesia:
É ela, prisioneira,
Que, vendo a porta da prisão aberta,
Como chispa que salta da fogueira,
Numa agressiva fúria se liberta.

Miguel Torga, Orfeu Rebelde, Ed. do Autor.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Da aflição à expiação

Vi Angélica Liddel uma única vez, no início de dezembro de 2008, no Bibliocafé Intensidez (entretanto encerrado). Estava ali para apresentar o livro Tríptico da Aflição - editado também pela Intensidez - e composto por três peças de teatro: O Casal PalavrakisOnce Upon a Time in West AsphixiaHysterica Passio. Na sinopse da obra declara-se que: "As três peças apresentam-se como um retábulo onde se expõe um fresco de histórias de perversão, tortura, dor, sofrimento e culpa, integradas no seio da família e das relações parentais. Angélica concluí este ciclo de trabalhos com um manifesto pessoal: Lesões Incompatíveis com a Vida."

Imagem de http://intensidez.blogspot.com/

Nessa noite, Liddel falou desse livro, do seu teatro, daquilo que pensa sobre a identidade das mulheres e dos homens e sobre o mundo cada vez mais violento e cruel em que vivemos. Perante uma audiência no mínimo surpreendida falou da sua recusa em ter filhos, da violência que leva consigo para o palco, das automutilações, da vontade de chocar, de chocalhar e de inquietar os espíritos de todos os que a vão ver ao vivo. Ou como ela própria diz: "Costumo trabalhar com o que me indigna, com o que detesto, e há coisas destestáveis no facto de ser mulher. Quero falar da solidão depois do desamor. Quero dizer que não há perdão para isto. Acredito no castigo. Sem castigo não pode haver redenção, não pode haver epifania." (Ípsilon, 4/2/2011).

Angélica Liddel circulou durante alguns anos na sombra, em festivais de teatro mais alternativos e marginais. Em Portugal, apresentou-se várias vezes no Citemor onde se tornou uma espécie de culto, do tipo ou se gosta ou se odeia. Usa o corpo como forma de protesto e faz, literalmente, um teatro em carne viva, onde o sangue que escorre sobre a pele é real.  Participu o ano passado no festival de Avignon com a peça "La Casa de la Fuerza" e, de repente, o seu nome e o seu teatro tornaram-se uma espécie de fenómeno de que todos falam e que todos querem ver. A peça vai ser representada esta semana (11 e 12) na Culturgest:



"La Casa de la Fuerza" foi escrita depois de uma viagem ao México e de ter tomado contacto com uma realidade aterradora. Nela, Angélica Liddel conta como, desde a década de 90, as mulheres mexicanas são sistematicamente violadas, brutalizadas e assassinadas às centenas na zona de Ciudad Juarez por "desconhecidos" que nunca até hoje foram descobertos, quanto mais acusados e condenados. Segundo a estatística da Amnistia Internacional só entre janeiro e outubro do ano passado foram mortas mais de 300, de todas as idades e condições sociais. O fenómeno tomou tais proporções que a criminologia já lhe deu até uma designação: feminicídio.

É justamente sobre estes crimes recorrentes e aparentemente inexplicáveis e sobre a impotência - ou indiferença - das autoridades policiais (afinal são apenas mulheres, pobres ainda por cima),  que Roberto Bolaño também escreveu em 2662, n' A Parte dos Crimes (Quetzal, 2009).

Não vi a peça de Angélica Liddel, mas ainda tenho bem presente a sensação de frio no estômago, a náusea, a repulsa e, ao mesmo tempo, o terrível fascínio que me acompanhou durante a leitura de Bolaño. Apesar da estranheza intimidante que me invadiu naquele serão diante da figura e das palavras de Angélica Liddell, só posso concluir que é bom que alguém tenha a coragem de denunciar desta forma os crimes sem castigo e de fazer em palco o luto por tantas mortes sem sentido. Se calhar, é bom que alguém faça em palco a expiação de todas as culpas que são, afinal, também as nossas culpas (pela indiferença silenciosa e apática com que contemplamos o mundo a desmoronar-se à nossa volta) 

De tudo isto fica uma só palavra: estupefacção. Primeiro, porque o efeito anestesiante - e viciante - da violência quotidiana do mundo em que vivemos parece não conhecer limites. Segundo, porque cada vez mais me parece que há estranhas coincidências e empatias entre as pessoas, o que as leva a pensar, dizer ou escrever sobre as mesmas coisas, ainda que nunca se tenham visto ou conhecido. Finalmente, porque a forma quase pornográfica como o mundo globalizado "ignora" deliberadamente certas infâmias gritantes, mas escolhe falar e chafurdar obsessivamente noutras - e as razões por detrás disso tudo -, não deixará nunca de me espantar. Nem de me atormentar.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Arqueologia das palavras

Malcolm Bradbury, escritor britânico de apurado sentido crítico e satírico, descrevia assim na introdução ao livro "Cuts" (em português "Corta!", publicado pela D. Quixote em 1990), a sociedade britânica da era Tatcher:

"Era o Verão de 1986 e por todo o lado havia cortes. Todas as manhãs, ao abrirmos o jornal (...) «corte» era o mais comum dos substantivos, «cortar» o verbo mais regular. Eles estavam a fazer incisões de bisturi na indústria pesada, eles estavam a cortar o aço às fatias, eles estavam a cortar - pouco carvão extraindo já - no carvão. As artes era à machadada, as ciências postas a fazer regime, a inflação e os serviços externos da BBC objecto de cortes. Eles estavam a reduzir os gastos públicos, eles estavam a baixar as taxas de juro, eles estavam a eliminar a sobreprodução e os postos de trabalho não necessários. (...) Eles estavam a fazer em picado as escolas, a desbastar as universidades, a dar tesouradas no serviço nacional de saúde, a esculpir hospitais, a fechar blocos operatórios - de modo que, pelo menos num sentido, havia de longe muito menos cortes do que dantes. Eles estavam a cortar o desperdício à faca, a reduzir o supérfluo a cavacos, a extirpar o excesso rastejantes. Havia pessoas que diziam que estavam a cortar o país em dois - o Norte do Sul, os ricos dos pobres. Havia outros, principalmente os que tinham sido cortados, que se queixavam de que os cortes eram uma espécie de hara kiri nacional, a auto-mutilação dum país no último estádio da decadência. Outros havia porém, na sua maioria os que tinham feito uma boa parte dos cortes e que agora queriam ver um corte nos respectivos impostos, que explicavam que tudo isto era uma forma de cirurgia saudável, a eliminação das excrecências, da podridão e do cancro, e que o país ia ficar melhor, muito melhor do que dantes.
(...)
De modo que era, esse Verão de 1986, o tempo da determinação, do realismo, do varrer o pó e fazer limpezas, do deitar fora o que havia a mais disto e acabar com o excesso ruinoso daquilo. Era tempo de nos vermos livres das doces e velhas ilusões e substituí-las por ilusões novas e duras. O realismo estava de volta na filosofia e na economia, no comércio e nos bens de consumo, na pintura e no teatro, na poesia e no romance (...). Era uma boa altura para a iniciativa, para a aventura comercial, para o capitalismo comunitário, para a oportunidade, e havia mais pessoas a comprar acções do que nunca. E todas estavam a ficar mais magras e mais limpas, mais sagazes e mais mesquinhas, pois, bem vistas as coisas, em tempo de cortes é melhor ser-se bruto do que delicado, hardware do que software. As pessoas que dantes falavam de arte, agora só falavam de dinheiro e bichanavam sobre a textura das Telecom, a sedução da Britoil, o deslumbramento do gás. Saíam do Japão e entravam para a Europa, saíam de sociedades de gestão de capitais e fortunas sediadas no estrangeiro para fugirem aos impostos e entravam para fundos de investimento abertos. De dinheiro, era só de dinheiro que havia fantasias e sonhos e, embora tivesse havido uma redução do emprego, havia, sem que se soubesse bem como, uma quantidade apreciável de dinheiro em circulação. (...) Este era um Verão de forças de mercado, de capitalismo de consumidores, de comércio forte, de fusões e OPAs."

Também por cá, nessa mesma década de 80, se passou algo de semelhante sob a batuta «inspirada» (na Inglaterra de Tatcher) do um primeiro-ministro (que é agora presidente reeleito). Os resultados desses "inspirados cortes" - e não só - estão bem à vista neste Inverno de 2011, em que já não há "cortes" que nos valham e, sobretudo, que cheguem para disfarçar a crise que estamos a atravessar.

A pergunta que se impõe agora é: o que virá a seguir? Parece, pelo menos para já, que ao software sucedeu o spyware, e ao realismo sucedeu o pessimismo. Só falta perceber o que vai suceder à iniciativa individual, à aventura comercial e financeira e ao capitalismo global, mas os ventos revoltosos, que já levantam poeira nas ruas de tantos países por esse mundo fora, não devem tardar a trazer-nos algumas notícias desse incerto amanhã...

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Grito singular

James Blake foi já considerado pela BBC um dos melhores acontecimentos musicais de 2011, e o ano ainda mal se iniciou. Singular na sua sensibilidade melódica e intimista, "Wilhelms scream" - do álbum "James Blake" - é a minha favorita.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A vida num só dia? Talvez

A cultura colaborativa em rede está decididamente na moda: convocam-se manifestações e desfiles de protesto, divulgam-se denúncias, publicitam-se talentos, curiosidadee e/ou bizarrias, etc. etc. No ano passado, os realizadores Ridley Scott e Kevin MacDonald levaram esta "onda" um pouco mais longe e lançaram no YouTube um desafio curioso: convidaram os internautas a filmarem livremente aspectos do seu quotidiano num dia específico - 24 de Julho de 2010 - e a enviarem essas imagens para a net. Um dos realizadores explicou assim o insólito projecto:


Aceitaram este desafio mais de 80 mil internautas de 140 países, tendo sido enviadas mais de 4500 horas de vídeo. Os materiais foram depois seleccionados, montados e editados. O produto final tem uma duração aproximada de 95 minutos e chegará brevemente às salas de cinema do mundo inteiro.

Ainda não há uma definição "académica" para esta obra já que, pelas características que apresenta, não se enquadra em nenhuma das categorias habituais: documentário, ficção, experimentalismo... Têm também sido muitas as vozes críticas que no meio cinematográfico se manifestam frontalmente contra o filme, dizendo que é um projecto que se esgota em si mesmo e que não acrescenta nada de novo à história do cinema. Outros, pelo contrário, afirmam que  Life In a Day é um objecto estranho mas fascinante, que espelha aquilo que somos, hoje, questionando ainda o nosso conceito de arte e a nossa relação com a tecnologia. Certo é que este projecto e o filme que dele resultou, consolidam a ideia de que, na net, todos somos simultaneamente consumidores, utilizadores e criadores. É por isso que nela podemos encontrar de tudo: o melhor e o pior; o lixo e a verdadeira obra de arte. E é também essa verdadeira "democracia" que a torna, ao mesmo tempo, fascinante e assustadora.

Quanto ao filme Life In a Day  fica para já o trailer e uma página web onde se podem visionar alguns dos vídeos enviados pelos internautas (ver aqui). O resto (do filme) logo se verá como é...

Da revolução

Parafraseando Gilbert Cesbron, um escritor francês do séc. XX hoje pouco conhecido, diríamos que a verdadeira revolução acontece quando mudam os papéis e não apenas os actores. Nesta ordem de ideias é seguro afirmar que na história da humanidade houve, de facto, muito poucas revoluções. Na maior parte dos casos houve mas foi autênticas involuções. A Revolução Bolchevique de 1917, que permitiu a ascensão de uma figura tão sinistra e sanguinária como Estaline, é um exemplo paradigmático da forma como os grandes ideais, tantas vezes defendidos pelo povo à custa do seu próprio sangue, podem acabar muito mal para esse mesmo povo.

Vamos ver que(m) sai da "revolução do jasmim"...

domingo, 6 de fevereiro de 2011

A revolta também se pode cantar

Anda por aí uma novíssima geração que canta para anunciar que o mundo, tal como o conhecemos, se está a desmoronar.
É o caso dos Deolinda. E pelas reacções que tem despoletado (até o próprio grupo foi apanhado de surpresa pelo fenómeno que se propagou como um vírus pela rede) permitem concluir que, se calhar, o Egipto, a Tunísia, a Argélia ou o Iémen, estão mais perto do que à primeira vista se poderia imaginar (olhando apenas para os mapas):

"Parva que sou" - Deolinda

Sou da geração sem-remuneração
e nem me incomoda esta condição...
Que parva que eu sou...

Porque isto está mau e vai continuar
já é uma sorte eu poder estagiar
Que parva que eu sou....

E fico a pensar
que mundo tão parvo
onde para ser escravo
é preciso estudar...

Sou da geração casinha-dos-pais
Se já tenho tudo, pra quê querer mais?
Que parva que eu sou...

Filhos, marido, estou sempre a adiar
e ainda me falta o carro pagar
Que parva que eu sou...

E fico a pensar
que mundo tão parvo
onde para ser escravo
é preciso estudar...

Sou da geração vou-queixar-me-pra-quê?
Há alguém bem pior do que eu na TV
Que parva que eu sou...

Sou da geração eu-já-não-posso-mais-Que-esta-situação-d­ura-há-tempo-de-mais!
e parva eu não sou!!!

E fico a pensar
que mundo tão parvo
onde para ser escravo
é preciso estudar...

Música e letra: Pedro da Silva Martins

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Uma voz em chamas

Charles Bradley esperou (ou teve que esperar) até aos 62 anos de idade para editar o seu primeiro álbum - No Time for Dreaming - e nele soltar a voz para cantar bem alto que The World (Is Going Up In Flames), entre outras belíssimas canções. Na verdade é a voz de Bradley que parece em chamas quando canta. É uma soul madura e avassaladora, são as canções de uma vida vivida, perante as quais apetece perguntar: mas onde é que ele andou durante todos estes anos?

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Cacos

Certo dia, o vaso de faiança que havia à entrada escorregou das mãos apressadas, escaqueirou-se no chão com estrondo e logo ficou desfeito em grandes bocados de arestas irregulares. Ainda aturdida apanhei do chão, um a um, três grandes cacos, desejando muito que fosse possível reuni-los e reconstituir o velho, familiar vaso esboucelado e encardido pelo tempo que sempre tinha estado ali, na entrada da casa. Porém, a impossibilidade da tarefa tornou-se óbvia: ainda que fossem bem colados, ou até gateados, aqueles três cacos não mais voltariam a formar o mesmo vaso de antes. O velho, familiar vaso de faiança até poderia retomar o seu formato original, mas nunca seria mais do que três grandes cacos colados. E assim ficou, para sempre, irremediavelmente escaqueirado.

Tenho guardado esses cacos como se o vaso que já foram um dia ainda estivesse intacto. Guardo-os porque ainda não arranjei coragem para me desfazer deles como se, ao fazê-lo, estivesse também a deitar fora três grandes bocados de mim mesma. Guardo-os porque não consegui, ainda, começar a esquecer a imagem daquele velho e tão familiar vaso de faiança que um dia, há já muitos anos, escorregou das mãos e se desfez em três cacos que nunca mais puderam ser colados. Exactamente como aconteceu à nossa vida na casa que ficava por detrás do velho vaso de faiança. E de tal forma o tempo foi confundindo as memórias de tudo que, às vezes, já não sei se os cacos que ainda guardo são os do velho vaso que se partiu, se os da nossa vida que então se escaqueirou.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Palavras

As armas da revolução...

...na era da tecnologia: um isqueiro para pegar fogo à aridez da realidade e um telemóvel para enviar depois as imagens para as redes sociais e para a net. É quanto basta e está a acontecer agora, quase, quase aqui ao lado. Resta-nos esperar para ver qual é a música que vai tocar depois...