terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Certamente em protesto contra as más condições de vida...

Ler notícia aqui
Por uma vez, parece que são os peixes a fazer junto dos homens o seu protesto! Mas "Nunca pior auditório" poderiam arranjar  as pobres criaturas pois, como dizia o Padre António Vieira, os homens falam muito, mas ouvem pouco. (In Sermão de Sto. António aos Peixes)

De qualquer forma, com tamanha "concentração", a polícia de intervenção já deve ir a caminho para fazer dispersar os manifestantes...

The Man Who Sold The World

Qualquer semelhança não é pura coincidência


Ambos "enterram" muito bem aquilo que não querem partilhar com ninguém. O problema é que, às tantas, "esquecem-se"...
(ver notícia aqui)

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Hard Times

A classe média portuguesa em slow motion

Imagem daqui
Em A Classe Média: Ascensão e Declínio (agora publicado pela Fundação Francisco Manuel dos Santos), Elísio Estanque descreve a classe média como um grupo social "doente". Na verdade, a chamada "classe média" portuguesa também nunca passou de uma ilusão alimentada durante duas décadas com crédito bancário a preço de saldo.

Desfeitos os sonhos e as expectativas, aniquilada toda a esperança de uma "mobilidade social ascendente" em consequência da subida do nível das qualificações  - tudo em nome da diminuição do défice das contas públicas - ela está agora a implodir de forma violenta e apressada. São os novos pobres: envergonhados, deprimidos e frustrados. De cabeça baixa, portanto. Como convém aos partidos do "arco do poder" que se vão alternando no (des)governo deste país.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Coisas que me abespinham, encanitam e irritam - X

Falam, falam, falam, falam mas eu não os vejo a fazer nada! Fico chateada, mas concerteza que fico chateada... sobretudo depois de ouvir a notícia repetida pelo menos umas 40 vezes num só dia e estando bem consciente de que, depois dos telejornais, dos programas da manhã e da tarde, tudo vai continuar exatamente na mesma até à próxima notícia de mais um ou dois casos idênticos.

Na verdade, estas são as notícias de um Portugal que já não está a "entristecer", como dizia Fernando Pessoa, mas sim a envilecer.

São hoje especialmente verdadeiros e até dolorosos os versos de Pessoa:"Ninguém conhece que alma tem, / nem o que é mal nem o que é bem. / (Que ância distante perto chora?) / Tudo é incerto e derradeiro. / Tudo é disperso, nada é inteiro. / Ó Portugal, hoje és nevoeiro..." ("Nevoeiro", In Mensagem, 1934)
Imagem daqui

Europa: (quase) sem chavo, mas (ainda) com chavões

Cimeira após cimeira, os líderes europeus vão repetindo os chavões costumeiros: harmonia, respeito, solidariedade e apoio entre todos os estados-membros da UE, blá-blá-blá.
Imagem daqui

O problema é que a economia em avançado estado de decomposição de alguns deles obriga os "donos da UE" a desembolsar cada vez mais €uros em benefício dos  tais PIGS e, a este ritmo, vamos ver até quando se mantém o discurso dos belos chavões europeus. E esta notícia deve ser apenas o começo...

sábado, 28 de janeiro de 2012

Regra sua pera quem quiser viver em paz

Os bons conselhos até abundam por aí, contudo ainda mais abundantes são os desmandos que nos assolam os dias e contra os quais as boas “regras” pouco podem.
















Ouve, vê e cala,
e viverás vida folgada.
Tua porta cerrarás,
teu vizinho louvarás,
quanto podes nam farás,
quanto sabes nam dirás,
quanto vês nam julgarás,
quanto ouves nam crerás,
se queres viver em paz.
Seis cousas sempre vê,
quando falares te mando:
de quem falas, onde e quê,
e a quem, como e quando.
Nunca fies nem perfies,
nem a outro injuries,
nom estês muito na praça,
nem te rias de quem passa,
seja teu tudo o que vestes;
a ribaldos nam doestes,
nam cavalgarás em potro,
nem ta molher gabes a outro;
nom cures de ser picam
nem travar contra rezam.
Assi lograrás tas cãas
com tuas queixadas sãas.

D. João Manuel
(1450?-1499?)

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

Paz à sua alma



Será este o programa que se segue?

Experience

Are You?

Procurar agulhas

Camilo Castelo-Branco conclui "Agulha em Palheiro" (Lx: Livraria Edª, 1928) desta forma:

"Há um anexim que diz: Procurar agulha em palheiro. É baldado empenho? Pois eu assevero que, uma vez, procurei uma, e achei-a!
E, desde então, com a minha infinita paciência, acho tudo que quero, n'este palheiro da humanidade, mormente quando os indivíduos, que procuro, têm devorado a palha, e se me apresentam a nu, - coisa que me tem acontecido mais mais vezes do que mereço a Deus."

Terminada a leitura, estava aqui a pensar como estas palavras de Camilo estavam, e estão, certas. De facto, nos "palheiros da humanidade" não é difícil encontrar "agulhas". O problema é que, vistas a "nu", elas se revelam quase sempre minadas de ferrugem por fora e, sobretudo, por dentro (o que ainda é pior). Imprestáveis, portanto. Talvez esta fosse uma boa altura para começar a procurar noutros sítios.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O "lugar do tempo" e da memória

"Lugar do tempo" realizado pelo ainda aluno do curso de Cinema na Escola Superior de Teatro e Cinema, Manuel Guerra, ganhou em 2011 o prémio "Património Imaterial" no  Concurso de Vídeo Fundação INATEL (ver aqui). Neste breve documentário pelas veredas da memória de um grupo de antigos mineiros alentejanos está contido todo o fascínio do realizador pelo Alentejo.

Numa recente entrevista ao Diário do Alentejo (ver aqui), fala da região com uma sensibilidade invulgar, embora ela não seja o seu berço. Algo que, segundo diz, lamenta. Reconheço-me nesta paixão incondicional por estas planícies tão agrestes e tão belas ao mesmo tempo, além de gostar francamente de gente que não tem medo de gostar por dentro desta terra.

Na impossibilidade de incorporar aqui o filme de Manuel Guerra fica a síntese do seu projeto:

proposição: «Em cada instante cabe o Mundo» (título de um livro de poesia de Armindo Rodrigues, publicado em 1945)


J. Boldt (1999) Pessoas 4

storyline: Um retrato colectivo de vinte mineiros reformados, que se reúnem para cantar, conviver e resistir.

sinopse: Um conjunto de vozes – umas suaves, outras roucas –, um fato de trabalho, um capacete que lhes ilumina o caminho e um lenço de cores portuguesas. São estes os elementos que constituem um dos grupos mais antigos e carismáticos da história do cantar tradicional alentejano: o “Grupo Coral do Sindicato Mineiro de Aljustrel”. Todos têm em comum serem companheiros de profissão, agora reformados que, depois de mais um dia, ganharam o hábito de se reunir para cantar. Nas suas vozes, a nostalgia oprime mas liberta: é o canto do trabalho, do amor e da memória, da luta e da resistência. «Lugar do Tempo» é um retrato do Alentejo. Uma reunião, provavelmente poética, de fragmentos e vestígios do tempo.

Argumento Ricardo Penedo | Produção Mariana Correia | Realização Manuel Guerra Imagem Ana Pires | Som Luís Nunes | Montagem Joana Góis

"A Muralha de Aço" das vozes e do balanço uníssono dos corpos:

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Poema de uma queda anunciada

"Campanha de proximidade"

Em Montalegre vestiu-se
Com uma capa de palha;
O Zé Povinho sorriu-se:
"Coitado, que Deus o valha".

Entrou em confeitarias,
Pediu pastéis de feijões;
Mas se nos toma por tolos,
Nos quer enganar com bolos,
Que abandone as ilusões.

Agora vai na arruada,
Zumba, zumba, a tocar bombo!
Espere pela pancada,
Que grande vai ser o tombo!

Flávio Vara, A Bem Soada Gente,
Lx: Roma Ed., 2007

Pela boca morre o peixe: provérbio ilustrado

Ler notícias aqui e aqui

domingo, 22 de janeiro de 2012

On the Sunny Side of the Ocean

Prenúncio de primavera

Junto à estrada, de quando em quando, há agora árvores cujos ramos parecem transbordar de flores para cima do asfalto. Singela exuberância que é já o prenúncio da primavera no verde ainda hesitante dos campos a perder de vista. 
Terrugem; 22/1/2012

Coisas que me abespinham, encanitam e irritam - IX

Como o dinheiro lhes enche os cofres de uma forma tão fácil que nem eles próprios conseguem explicar lá muito bem, os donos de quase tudo neste país acham que os consumidores não passam de uma mole de idiotas que é preciso depenar até ao último cêntimo possível. Estes em particular até já acham que basta acenar com alguns euros num cartão. Qualquer dia começam a oferecer-nos um espelhinho ou umas contas coloridas.

O que mais lamento - embora reconheça que nós, consumidores, temos responsabilidades nesta situação (muitas vezes não nos informamos ou não reagimos em tempo útil quando é necessário fazê-lo com firmeza) - é que, em Portugal, somos sempre apanhados quer estejamos na "esfera do estado", quer estejamos fora dela. Veja-se o que aconteceu com a "liberalização" do preço dos combustíveis e do mercado das redes móveis, ou o que está agora a acontecer com a imposição à força toda dos 4 canaizinhos generalistas da TDT.

Temos, portanto, boas razões para desconfiar de mais esta "liberalização" e, sobretudo, deveríamos estar muito atentos para não cairmos logo na primeira armadilha que nos aparece à frente.
Ler notícia aqui


 

sábado, 21 de janeiro de 2012

A educação nacional também é uma música assim (infelizmente)

Coisas que me abespinham, encanitam e irritam - VIII

As autarquias são um mundo curioso: por um lado são capazes de gastar milhões para fazer uma simples rotunda mas, por outro, convivem muito bem com situações que nos deviam era deixar a todos bastante envergonhados. Enfim...

Imagem daqui




Quem não deve não teme: provérbio ilustrado

E com a brilhante carreira que este senhor tem feito na justiça ao longo destes últimos anos, preocupar-se para quê, realmente.

Ler notícia aqui

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Qualquer semelhança não é coincidência

Qual é a principal semelhança entre estes dois homens?
Francesco Schettino / Vítor Gaspar
Simples: ambos tinham/têm nas mãos o "leme de um navio" (ver aqui) em "ponto de viragem" e ambos acreditaram/acreditam que era/é possível "dar a volta" (ver aqui). Isto, claro, para além de ambos gesticularem muito enquanto falam.

Em relação ao primeiro navio - o tal Costa Concordia - já sabemos no que deu. Falta agora saber do segundo. Mas as notícias não são animadoras, "comandante" Gaspar. (ver aqui) Talves fosse prudente verificar a rota...

De qualquer forma, tanto num caso, como no outro, os passageiros que se cuidem.

Ouça um bom conselho / que eu lhe dou de graça...

"Devo receber 1300 por mês, não sei se ouviu bem 1300 euros”, disse hoje Cavaco aos jornalistas e acrescentou que "Tudo somado não dá para pagar as despesas".

Senhor Presidente, perante tal evidência, parece-me que só há uma coisa a fazer: cortar nas despesas. Caso ainda não tenha percebido é o que todos nós, comuns mortais que não acumulamos várias reformas ou vencimentos, temos andado a fazer nestes últimos tempos.

Mas, não leve a mal que pergunte sr. Presidente: a não ser que o senhor ande a viver acima das suas (e das nossas) possibilidades, o que fez ao resto do dinheiro? (ver aqui e aqui).

A crise nossa de todos os dias

Prepara-te Mafaldinha, ao ritmo a que isto vai (ver aqui), quando tu já fores "idosa", ainda a crise vai no adro...

quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Novos provérbios portugueses

De diseur e de louco todos os ministros têm um pouco.

E, pensando agora no poema citado (O Mostrengo), na obra em que se insere (A Mensagem) e nos ideais do seu autor (Fernando Pessoa), tenho cá para mim que o nosso Gaspar está convencido de que será ele a lançar a primeira pedra do tão mítico quanto ansiado V Império. Ora não querem lá ver...

Imagem daqui

Ouvir canções até que fique tudo bem

"This is such a pointless fight.
Two songs won't make it right.
Three songs won't make it right.
Maybe a hundred songs might make it right."

Ou mil, ou quem sabe dez mil canções consigam de facto "curar", fazer com que tudo fique, pelo menos, melhor. Começo já por esta.

Por estes dias que vivemos se eu não tratar de mim...

O que faz bem pra minha saúde

Acho a maior graça. Tomate previne isso, cebola previne aquilo, chocolate faz bem, chocolate faz mal, um cálice diário de vinho não tem problema, qualquer gole de álcool é nocivo, tome água em abundância, mas não exagere...

Diante desta profusão de descobertas, acho mais seguro não mudar de hábitos. Sei direitinho o que faz bem e o que faz mal pra minha saúde.
Prazer faz muito bem.
Dormir me deixa 0 km.
Ler um bom livro faz-me sentir novo em folha.
Viajar me deixa tenso antes de embarcar, mas depois rejuvenesço uns cinco anos.
Viagens aéreas não me incham as pernas; incham-me o cérebro, volto cheio de ideias.
Brigar me provoca arritmia cardíaca.
Ver pessoas tendo acessos de estupidez me embrulha o estômago.
Testemunhar gente jogando lata de cerveja pela janela do carro me faz perder toda a fé no ser humano.
E telejornais... os médicos deveriam proibir - como doem!
Caminhar faz bem, dançar faz bem, ficar em silêncio quando uma discussão está pegando fogo, faz muito bem! Você exercita o autocontrole e ainda acorda no outro dia sem se sentir arrependido de nada.
Acordar de manhã arrependido do que disse ou do que fez ontem à noite é prejudicial à saúde!
E passar o resto do dia sem coragem para pedir desculpas, pior ainda!
Não pedir perdão pelas nossas mancadas dá câncer, não há tomate ou mussarela que previna.
Ir ao cinema, conseguir um lugar central nas fileiras do fundo, não ter ninguém atrapalhando sua visão, nenhum celular tocando e o filme ser espetacular, uau!
Cinema é melhor pra saúde do que pipoca!
Conversa é melhor do que piada.
Exercício é melhor do que cirurgia.
Humor é melhor do que rancor.
Amigos são melhores do que gente influente.
Economia é melhor do que dívida.
Pergunta é melhor do que dúvida.
Sonhar é melhor do que nada!

Martha Medeiros, copiado daqui

Era tão nosso amigo!

Ler notícia aqui
Do álbum de recordações:

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Cantos da Babilónia

Chegou hoje mesmo e estou a ouvi-lo. Um legado de enorme beleza e sensibilidade que Pedro Osório nos deixou no seu último disco.

A nova ortografia: uma espécie de addenda

Há dias em que esta "hortografia" me começa a parecer verdadeiramente premonitória. Hoje é um deles.


A nova ortografia portuguesa: algumas gemas

O Novo Acordo Ortográfico (AO) em vigor promove o retorno a uma escrita mais fonética, cuja face mais visível é a supressão das consoantes mudas.

Esta tentativa de fazer prevalecer a fonética sobre a etimologia, além de polémica, não acontece sem criar um anedotário próprio.

Desenvolvi hoje na Biblioteca da escola uma atividade de leitura de textos narrativos curtos Numa mesa onde estavam colocadas várias dezenas de títulos muito variados os alunos podiam escolher livremente o que lhes "apetecesse". No final, apenas tinham que preencher um papel indicando o título do livro e dar a sua opinião sobre o livro/atividade.

Alguns resistiram e refilaram o tempo todo: "ó professora, detesto ler"; "professora, não posso antes ir fazer isto ou aquilo". Dois ou três fazem mesmo questão de afirmar que nunca leram um livro nas suas ainda curtas vidas. É obra! Só depois de muita argumentação lá se foram então conformando e começaram a escolher um livro para ler.

A avaliação solicitada era um tanto ou quanto a preto e branco, para além de anónima, mas permitiu obter informação preciosa.

Alguns, certamente aqueles para quem a simples ideia de ler um livro é sinónimo de horror e tortura, não pouparam nas palavras. Eis apenas alguns exemplos das razões apresentadas pelos que, decididamente, não gostaram desta atividade:

Contos Policiais - "não porque tem muitas paginas"
A salvação de Wang Fô e outros contos orientais - não "porque o velho é parvo"
Contos de África e da Europa - não "porque isto não presta pra nada"
O Fantasma dos Canterville - não "porque é muito grande e não tem imagens"
Contos Tradicionais Portugueses-  não "porque a Biblioteca serve só para jogar computador, não é cá para ler um monte de palavras inúteis que não servem para nada!"

Quanto aos que declararam ter gostado da atividade destaca-se a palavra "interessante", presente em muitas locuções como estas: "achei interessante"; " foi interessante", etc. as quais, justamente, por pouco terem de interessante não contam para esta estória.

Bem mais "interessante" foi ir verificando a criatividade ortográfica de um número significativo de alunos. Eis alguns exemplos:

Boca do Inferno - "é interçante"
A salvação de Wang Fô e outros contos orientais" - "pelo que li pareceu-me intersante"
Contos da Montanha - "porque é interesante"
Antologia do Conto Português - "achei intresante esta iniciativa"
Novas Crónicas da Boca do Inferno - "foi bastante interassante e divertido"
Contos de África e da Europa - "é um livro interresante sobre África e da europa é engraçado"

Lá pelo meio encontrei verdadeiros "bombons com recheio", como estes:

Um deles não escreve (esquecimento ou preguiça?) o título do livro, mas diz: "Eu achei o livro imucionante".
Um outro escreve assim o título do livro que folheou, mais do que leu: "O testamento do Sr. Natamoceno" (naturalmente, refere-se a "O testamento do senhor Napumoceno da Silva Araújo" de Germano Almeida").

Este panorama da ortografia é o resultado de um conjunto de situações sobre as quais nem vou sequer discorrer muito (até porque é exercício inútil): falta, ou mesmo ausência de hábitos de leitura; simplificação dos currículos; massificação do ensino; pouca exigência e excessivo facilitismo do processo de avaliação, especialmente na escolaridade obrigatória, em prol de estatísticas nacionais mais favoráveis, etc. Esta é a realidade do nosso sistema educativo há já demasiado tempo. Agora, por todas as razões e mais a crise económica (redução brutal do investimento público no ensino), vai ser muito difícil mudar este estado de coisas.

Tenho pois boas e más notícias para os que continuam a lutar contra o novo AO. Boa notícia é que os alunos se têm adaptado muito bem à nova realidade, apesar da exuberância de algumas das reações iniciais (tipo, "eu cá não vou escrever assim") ter feito prever bem pior. Agora preparem-se, que isto da ortografia fonética é como um rio cujo caudal está a ganhar força e, não tarda, será muito difícil, talvez mesmo impossível, controlá-lo. E esta é, sem dúvida,  a pior notícia para aqueles que ainda acham que a ortografia devia continuar a refletir (ou reflectir, cá está) a etimologia das palavras portuguesas.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

O politicamente correto contra-ataca

para enfeitar o discurso e soar bem mas, na verdade, não significa nada e, sobretudo, não faz acontecer coisa alguma.
Ver notícia aqui

Coisas que me abespinham, encanitam e irritam - VII

Por menos convencional que seja a família, deixar passar um tão flagrante erro/gralha é estranho. Para mim, ainda mais estranho num sítio que se pretende de "referência" a vários níveis.

In www.wook.pt

A chinesização do trabalho

Talvez seja coincidência, ou talvez não, mas o certo é que as nossas leis laborais iniciaram um percurso de aproximação às práticas chinesas conhecidas nesta área e que garantem, à força toda, um crescimento económico brutal. (ver aqui) Coisa muito conveniente, sobretudo agora que os chineses estão a comprar o país, perdão, a investir em força no país.

Ao ritmo a que isto vai, não tarda muito estamos a trabalhar no horário de "sol a sol" e em regime de "bico calado senão vais mas é para o olho da rua".. (Ver notícia aqui e aqui)

Talvez fosse mais prudente nunca dizer nunca...

... até porque, como o próprio esclareceu, se nos 1.110 despachos até agora publicados em Diário da República e respeitantes a nomeações, apenas cerca de 190 correspondem a novas nomeações", também logo acrescentou que esses números não contemplavam os gabinetes dos ministros e secretários de Estado. O que só reforça a minha convicção de que "nunca" é aqui uma palavra talvez demasiado forte e, sobretudo, prematura.

Além disso, é bom não esquecer que só passaram 6 meses desde a tomada de posse do governo. Ainda há muitos Diários da República a publicar daqui até ao fim do mandato. Vamos, pois, com calma...

Ler notícia aqui

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

A vida num flash

A poesia

Hans-Peter Szameit

















A poesia dá nome
ao que não tem nome
e se umas vezes rima,
como acontece nesta fala,
outras vezes não rima
e escreve como quem cala
por saber que a poesia
deve estar sempre acima
de quaisquer jogos de sala.

A poesia dá nome
ao que no falar comum
raramente nome tem
e deixa sempre em cada um
o desejo sentido
de falar com mais alguém
para que a poesia cresça
e os leitores mereça
porque lhes faz bem.

José Jorge Letria, A Casa da Poesia (excertos),
Lx: Terramar, 2003

domingo, 15 de janeiro de 2012

Este país é para velhos. Desde que paguem, entenda-se

Eis os exemplos mais recentes desta nova faceta do estado que já foi social e agora é cada vez mais liberal, seja lá isso o que for:

Tão liberal que:
1) Se tiver 70 anos e receber uma reforma de 9600 euros, mas o seu nome for Eduardo Catroga, naturalmente pode acumular com um vencimento mensal superior a 45 mil euros. Mas qual é o problema? (ver aqui)

2) Se tiver mais de 70 anos, mas for eleito presidente da República, pode até acumular várias reformas, todas bem generosas, que não faz mal nenhum;

3) Se tiver mais de 70 anos e precisar de fazer hemodiálise, tem direito a fazê-la... se pagar. E esta antevisão do que nos espera só pode ser fidedigna, pois quem a fez é especialista em finanças públicas (ver notícia aqui) e da área da atual governação;

4) Agora, se tiver 70 anos, se receber do Estado a pensão mínima - cujo valor é de 379 euros - e se quiser continuar a ver televisão para quebrar  a solidão e/ou o isolamento tem que pagar, claro está. Ou queria ver a TDT e os seus quatro canaizinhos generalistas de graça, não? Ora não querem lá ver o raio dos velhos?! Se, ainda por cima, tiver que instalar antena, o que é bastante frequente e/ou um amplificador de sinal, os valores finais podem ir até bem acima de 200 euros.

Mas não se preocupe, que o Estado comparticipa (é tão bonzinho o Estado!):
a) Cidadãos com grau de deficiência igual ou superior a 60%;
b) Famílias beneficiárias do rendimento social de inserção (RSI);
c) Reformados e pensionistas com rendimento inferior a 500 euros mensais.

Mas porque a bondade do Estado tem limites, o valor dessa comparticipação é,  no máximo, de 22 euros e será atribuído "após a compra do equipamento". Ou seja, pague lá a conta, que depois logo se vê
.
E que têm os velhos - e desgraçados - que fazer para receber tão generosa quantia? Pois apenas isto:


E, claro está, ter em conta ainda mais isto:
Imagem daqui
Como vê é muito simples. Mas, ainda não está satisfeito, tem dúvidas, o seu cérebro não consegue processar tanta informação? Olhe, meta o meo, a zon ou outro congénere e pronto. Deixe que eles resolvem tudo. Você só tem mesmo é que pagar e deixar de ser um velho rezingão.

Só tenho uma pergunta a fazer:

Será que o ex-secretário de estado da justiça também recebia o pessoal lá no seu gabinete-templo com o aventalinho maçónico posto?

Imagem  (mais ou menos) daqui


Sobre  tudo isto diz o próprio na sua página do Facebook que "O ridículo não tem limites! A foto da sala em causa está no Facebook e quem tenha algumas luzes culturais percebe a alusão a Ricardo Reis e à herança cultural da antiguidade clássica. Um gabinete que dá para o cais das colunas tinha a emoldurar a janela...colunas. O custo foi minúsculo e para os incrédulos sugiro que comparem despesas de remodelação dos gabinetes dos dois secretários de Estado. Optei sempre pelo low cost, mas nunca pela incultura."

A frase inicial resume tudo, de facto. Até porque eu já fui espreitar as tais fotografias... O resto e, nomeadamente, a alusão a Ricardo Reis e à "herança cultural  da antiguidade clássica" é para esquecer. Agora, a serem verdadeiros os custos da renovação do gabinete do senhor no Terreiro do Paço - segundo o CM, um total de 62 mil euros (ver aqui) - essa do "low cost" tem que se lhe diga dados os sacrifícios que, já na altura, nos estavam a ser exigidos devido ao agravamento da crise financeira. O próprio avô Catroga, por exemplo, entre reforma e ordenado não ganha isso por mês. Mas compreende-se: para quem (ab)usa o dinheiro que os outros pagam ao estado tudo deve parecer/ser low cost, claro.

Mas há ainda pior: refere o mesmo jornal.(ver aqui) que "Após a mudança de Governo, as colunas chegaram a estar arrumadas em zonas de passagem no Ministério da Justiça." Ou seja, lá se foram 62 mil euros para o lixo.

Já agora, podemos saber quanto custou a renovação decorativa levada a cabo pelos atuais inquilinos do dito gabinete? Tenho alguma curiosidade em saber quanto valeu este recente "low cost" decorativo.

sábado, 14 de janeiro de 2012

Quincy Magoo é um sénior distraído...

... devido a uma estrondosa miopia e, por isso, a sua vida é um contínuo desastre, ou não fosse ele um desenho animado. Eduardo Catroga é uma personagem também bastante animada, mas de forma bem distinta: cada vez que abre a boca o desastre acontece, pois é um sénior armado em parvo devido ao facto de ser rico e poderoso. E anda tão distraído, ou se calhar tão ofuscado pelo brilho dos €uros, que ainda não percebeu que o atual governo é constituído por uma coligação PSD/CDS, sendo maioritária a primeira. Daí que haja um único nome no tal conselho de supervisão da EDP ligado ao CDS. Justamente... Celeste Cardona. Todos os outros foram, estiveram ligados ou são do... PSD, incluindo ele próprio. E, pelo tom com que foi dito, certo é que, mesmo sendo só uma representante está a mais. Afinal, sempre era mais um job jeitoso para o lado laranja da coligação governamental.

E a melhor prova desta sua total distração - chamemos-lhe assim - está no momento em que declara que ainda não sabe qual vai ser o montante do seu ordenado mensal. É caso para dizer: ó homem, é só abrir o jornal que está lá tudo!
Imagem daqui

A entrevista hoje publicada pelo Expresso demonstra ainda que o senhor é um dos melhores contadores de histórias que ouvi nestes últimos tempos. Essa da "ligação a Macau, ligação à terra dele" é de mestre. Ou melhor, para boi dormir. E depois o argumento da "lógica da cara conhecida" arruma de vez com a chamada "lógica da batata".

Os netinhos é que devem adorar as incríveis histórias deste avôzinho cheio de imaginação e pedir bis todos os serões. Recomendo vivamente em dias de maior depressão, pois a gargalhada está garantida (ver video aqui).

Both Sides Now

Pérolas da sabedoria louceira

Está explicado este meu mal de vivre...
Estremoz, 14/1/2012

Mais alguns pequenos subsídios para a questão das "natas"

Esta história das natas mexeu comigo a sério, sobretudo por se tratar de um dos meus bolos favoritos: ainda morno,  com um leve polvilho da canela, acompanhado por um  café... Insuperável. A simples proposta da sua adulteração, ainda por cima feita com aquela ligeireza, deixa-me francamente irritada. Por isso aqui vai:

1. Alguém devia dizer ao senhor ministro que a ideia não tão inovadora assim, pois isso já está a ser feito em grande escala aí pelo mundo fora por uma cadeia de fast food concorrente da McDonalds: a KFC ou Kentucky Fried Chicken. Em Taiwan, por exemplo vendem-se com grande sucesso as "egg tarts", publicitadas como uma "autêntica receita de Macau, com fabrico diário". Tenho dúvidas de que as "natas" nacionais consigam competir com semelhante engrenagem:


2. Por muito que os consumidores em Taiwan, e por esse mundo fora, estejam satisfeitos com as "egg tarts" do KFC, elas pouco ou nada terão que ver com estas aqui. Ora tentem lá franchisar este savoir faire, a ver se são capazes.

3. A leitura deste texto introdutório ao livro "Fabrico Próprio - O design da pastelaria semi-industrial portuguesa", editado em 2008 pelo projeto Pedrita (Rita João, Pedro Ferreira e Frederico Duarte, também se recomenda a quem (incluindo aqui o próprio "Álvaro") quiser saber mais alguma coisa sobre a autêntica pastelaria portuguesa para além da designação genérica de "natas".

4. Já agora, era capaz de apostar que foi aqui que o "Álvaro" foi buscar a ideia do franchising das "natas":



5. Certo, certo é que, apesar de por cá a cotação das "natas" ter subido em flecha nestes últimos dias, mas não me parece que seja por esta via que vamos resolver a crise... nem que esta gente seja lá muito séria.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Autodiagnose

Tenho estado hoje um tanto ou quanto indisposta: ainda não percebi se foi do "frango de churrasco", se das "natas" franchisadas à la McDonalds.


Se tivesse comido destas aqui em baixo não me tinha acontecido isto de certeza...

Eureka! E as "natas" já são notícia na BBC?!

São e não são. Duvido até que as tais "natas", franchisadas e de tipo McDonalds, venham a ter direito a semelhante destaque. Ainda assim, está de parabéns o senhor ministro. Que ideia incrível!

Das "natas" como conceito predicável

Ontem o ministro da Economia sugeria a criação de um franchising das "natas", à semelhança do frango de churrasco luso-sul-africano como forma de enfrentar a crise económica nacional. Acho até que o senhor ministro andou a ler os sermões do padre António Vieira para afinar a retórica e deles fez uma "doce" e, tanto quanto me parece, convincente paráfrase (pelo menos não me apercebi de que alguém na plateia tenha desatado a rir). Aqui fica, para memória futura, a síntese desse belo discurso:

Exórdio: «Vós sois o açúcar da terra»

Conceito predicável: "A terra está amarga: será porque o açúcar não adoça ou porque a terra não se deixa adoçar*"

Exposição: as "natas" fazem as delícias dos turistas

Confirmação: o "Nandos" inventou o MacDonalds do frango de churrasco

Peroração: então por que não criarmos um McDonalds das "natas"?

E fechou o sermão com um sentido apelo aos "pregadores" presentes na sala: «pois bem meus amigos, e minhas amigas, ide. Ide espalhar a doutrina das "natas" por esse mundo fora...»

E certamente empolgado pelo "sermão", ainda durante a tarde, na Assembleia da República, o emérito deputado alegava em alto e bom som que, na Expo Xangai, se tinha vendido 1 milhão de "natas" num só dia! Afinal, esclareceu logo depois a deputada da oposição, parece que foram apenas 17 mil. 

Assim, concluo que:
1º) Desconheço o que sejam "natas". "Natas" mesmo apenas conheço as líquidas, embaladas em tetra pak

2º) O McDonalds das "natas" será o fim garantido da excelência do "pastel de nata" e lá se vai mais um produto nacional para o galheiro. Até porque isto de servir gato por lebre aos consumidores que já saborearam os verdadeiros "pastéis de nata" só resulta uma vez.

E last but not least: a frequência com que os nossos governantes trocam os números e se enganam logo em 3 zeros de uma só vez dá-me razões para temer o pior, no que às finanças públicas diz respeito. Tais lapsus linguae demonstram ainda como estamos, de facto, bem governados até na própria assembleia.


* Paráfrase ao Sermão de António do Padre António Vieira, pregado em S. Luís do Maranhão no ano de 1654.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Who stole the groove?

Como aumentar as exportações portuguesas

Na conferência DN "Made in Portugal" que hoje decorreu em Lisboa, o ministro da Economia falou longamente sobre a necessidade de aumentar as exportações nacionais e analisou "em profundidade" o valor comercial da própria marca "Portugal" (ver aqui).

Assim sendo, e para complementar a recente onda de apelos à emigração dos jovens portugueses, por que não incentivar  também a "exportação" da nossa intelligentzia nacional, isto é, dos nossos políticos e administradores de topo, incluindo aqui algumas velhas glórias como por exemplo este, este ou esta.

Certamente que, com os seus currículos meritórios, a sua vasta experiência e competência em gestão e administração - para alguns até, o profundo conhecimento em sociedades secretas (ver aqui) - seriam muitíssimo bem recebidos lá fora. Tudo isto, é claro, complementado com uma apelativa campanha publicitária internacional, cujo slogan poderia ser algo do género: "contrate português". O logotipo até poderia continuar a ser este, e assim se pouparia muito dinheiro em criativos:

E quem o fizesse teria direito a bónus: meia dúzia de apetitosos pastéis de nata ou um cupão de desconto para o frango de churrasco "à portuguesa", por exemplo. Com a exportação destes "pesos pesados" a nossa balança comercial melhoraria a olhos vistos e talvez assim a famigerada "crise" nos desse umas tréguas... 

Dito isto, pergunto: ninguém quererá contratar o nosso criativo "Álvaro"? (ver aqui)