Ontem o ministro da Economia sugeria a criação de um franchising das "natas", à semelhança do frango de churrasco luso-sul-africano como forma de enfrentar a crise económica nacional. Acho até que o senhor ministro andou a ler os sermões do padre António Vieira para afinar a retórica e deles fez uma "doce" e, tanto quanto me parece, convincente paráfrase (pelo menos não me apercebi de que alguém na plateia tenha desatado a rir). Aqui fica, para memória futura, a síntese desse belo discurso:
Exórdio: «Vós sois o açúcar da terra»
Conceito predicável: "A terra está amarga: será porque o açúcar não adoça ou porque a terra não se deixa adoçar*"
Exposição: as "natas" fazem as delícias dos turistas
Confirmação: o "Nandos" inventou o MacDonalds do frango de churrasco
Peroração: então por que não criarmos um McDonalds das "natas"?
E fechou o sermão com um sentido apelo aos "pregadores" presentes na sala: «pois bem meus amigos, e minhas amigas, ide. Ide espalhar a doutrina das "natas" por esse mundo fora...»
E certamente empolgado pelo "sermão", ainda durante a tarde, na Assembleia da República, o emérito deputado alegava em alto e bom som que, na Expo Xangai, se tinha vendido 1 milhão de "natas" num só dia! Afinal, esclareceu logo depois a deputada da oposição, parece que foram apenas 17 mil.
Assim, concluo que:
1º) Desconheço o que sejam "natas". "Natas" mesmo apenas conheço as líquidas, embaladas em tetra pak
2º) O McDonalds das "natas" será o fim garantido da excelência do "pastel de nata" e lá se vai mais um produto nacional para o galheiro. Até porque isto de servir gato por lebre aos consumidores que já saborearam os verdadeiros "pastéis de nata" só resulta uma vez.
E last but not least: a frequência com que os nossos governantes trocam os números e se enganam logo em 3 zeros de uma só vez dá-me razões para temer o pior, no que às finanças públicas diz respeito. Tais lapsus linguae demonstram ainda como estamos, de facto, bem governados até na própria assembleia.
* Paráfrase ao Sermão de António do Padre António Vieira, pregado em S. Luís do Maranhão no ano de 1654.
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