sábado, 31 de dezembro de 2011

Afinal, a terra do "nunca" parece que é mesmo aqui

A propósito da nova lei do arrendamento a ministra já usou o "nunca", esse advérbio que, em Portugal, é prenunciador de grave desastre político em vias de acontecer, pois quem não se lembra ainda do irrepreensível francês com que Mário Lino garantia, aqui há uns anos, que um novo aeroporto na margem sul "jamais"? (ver aqui)

Como dizia o outro, a ver vamos o que "nunca" irá acontecer aos idosos e carentes deste país a coberto da nova lei...

Notícia daqui

Em "fachadês", ou a música portuguesa a subir de tom...

porque, como todos sabemos, "Portugal está para acabar / É deixar o cabrão morrer/ Sem a pátria para cantar / Sobra um mundo para viver":

E se não fosse pedir muito...

 ... que este grafito, descoberto por acaso numa rua aqui perto, possa ser verdadeiro para todos os que por aqui passam e também para mim e para todos os meus amigos. Ao menos um bocadinho, assim só de vez em quando.
Évora, 31/12/2011

Os outros momentos, deste e de todos os anos

"O" momento de 2011...

...mas não pelas melhores razões. Ia março já adiantado quando, sem aviso, se partiu (sim, bem sei que é músculo e não pode, mas mesmo assim partiu-se):
Bah, de qualquer forma, também não servia para nada...

There's No Business Like Show Business...

O atual líder (do partido e do governo):

O ainda putativo candidato (a líder do partido e do governo, laranja, pois claro):

Assim se compreende melhor por que razão o nosso atual governo nos dá um show todos os dias...


e por que razões vamos todos entrar em 2012 felizes e a cantar a plenos pulmões: Let's Go On With The Show...

E nós não poderíamos saltar um ano?

Então se, em Samoa, saltaram um dia para ganhar "Ano Novo", nós, face às notícias do que nos vai acontecer já a partir de janeiro (ver aqui) não poderíamos saltar um ano, a ver se fintávamos a crise e, sobretudo, a Troika?

Notícia daqui

Abertura oficial da época de saldos

Em épocas de grande crise vale tudo! E como o "bom exemplo" deve sempre vir de cima, o Estado não se faz rogado. Pelos vistos até as canetas usadas para assinar tão "histórico" momento (como declarou o sábio professor Gaspar) eram de saldo ou, quem sabe, não terão sido compradas na loja chinesa mais próxima?...

Certo, certo, é que a China fez um excelente negócio, mesmo a preço de loja chinesa (ver aqui)... Sabe-se agora também que a continuação de Mexia na empresa já não é assim tão segura, mas isso deve ser porque, no meio de tanto saldo, o artigo mais caro há-de ser o pacote intocável de salário + regalias do senhor... Sobretudo se tivermos em conta o custo da mão-de-obra na China (já com regalias e direitos sociais incluídos, claro). (ver aqui)

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Quanto ao resto, a tudo o resto...

está uma bela noite, estrelada, límpida e tão fria que quase corta. Perfeita.

Saber envelhecer, ou...

... a mais improvável espécie de voto cheio de boas (e também de algumas más) intenções para dois mil e doze, treze, catorze, quinze e todos os outros anos que vierem.

Demonstração de humanidade

Um velho, muitíssimo velho, desdentado, com um boné castanho na cabeça, e com o sorriso que pode fazer já sem os dentes que normalmente fazem o sorriso, concentrando por isso o sorriso na parte da pele acima da boca, nas bochechas, o velho ali está a fazer pontaria com uma fisga, a rir-se de ser tão velho e de ainda ter vontade de acertar em alguém ou em algo. Não perdemos essa vontade; podemos perder a pontaria, os músculos, a força, mas a vontade de matar, essa não perdemos, mesmo quando temos quase noventa anos, não temos dentes e temos um boné castanho na cabeça. Que a vontade humana seja abençoada.
Gonçalo M. Tavares, In Short Movies, Lx: Caminho-Leya, 2011 

Ao meu Pai (ainda que, para ele, já seja tudo tarde demais)

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

É fácil e breve a síntese dos acontecimentos do ano que agora vai terminando

ou não fosse a Mafaldinha a fazê-la...

Aviões de papel

Entre a espada e a parede, a economia


Vintage poster de 1911 impresso pelo "Industrial Worker"
Disse Winston Churchil em tempos que lá vão que "A desvantagem do capitalismo é a desigual distribuição das riquezas; a vantagem do socialismo é a igual distribuição das misérias." O socialismo puro e duro já se desfez há muito e os poucos que ainda persistem mal se aguentam nas pernas. Agora que o próprio sistema capitalista começa a revelar claros sinais de erosão - inevitável em qualquer esquema de enriquecimento em pirâmide - resta saber qual será a alternativa viável. Se é que ela existe.

Os adorados(?) líderes

Sobre o verdadeiro estado da arte do programa nuclear norte-coreano há mais dúvidas do que certezas. Sobre o "supremo" domínio da técnica de clonagem humana é que não não há quaisquer dúvidas... Compreende-se por que razão o povo chora tanto...

Kim Il-sung; Kim Jong-il; Kim Jong-un

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Património (i)material português no mundo: o ukulele

O pequeno e gracioso ukulele ou guitarra havaiana, derivado do nosso cavaquinho, é uma das marcas deixadas pelos portugueses que emigraram para o Havai logo a partir do século XIX. Jake Shimabukuro é um dos seus mestres:

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Os que emigram

Em 1911, quando a República ainda andava de fraldas, o ano agrícola no Alentejo foi particularmente mau, sobretudo nos campos da margem esquerda do Guadiana. Milhares de camponeses sem terra viram assim a sua pobreza endémica agravada pelo desemprego e pelo abandono dos solos produtivos por parte de muitos lavradores. Encurraladas pela miséria mais extrema, 1451 pessoas (547 homens, 373 mulheres e 531 crianças) viram-se compelidas a aceitar  a proposta de emigrar para o Hawai (então designado como Ilhas Sandwich), com a promessa de uma terra fértil e de trabalho bem remunerado para todos. Nunca, até então, o Alentejo tinha visto uma migração populacional assim. A tal ponto que as principais publicações da época dela dão notícia.

Numa foto-reportagem com o veemente – e pertinente - título de “Os que a fome escorraça” pode ler-se que “Os Homens, mulheres e crianças alentejanas que emigram, quase um milhar, num êxodo de misérias, passaram na cidade, do Tejo para os casebres onde as alojaram, deixando um rastro de condolências”, até embarcarem no navio Orteric, que os levaria ao destino final: Honolulu. Nela são descritos como uma “legião meia sonâmbula, que passava sem uma palavra, carregada com os sacos onde ia toda a sua fortuna” (In “Ilustração Portuguesa”, 6/3/1911), perseguindo um sonho ameno, ainda na ignorância do duríssimo trabalho que os esperava, sob um sol ardente e numa atmosfera carregada de humidade, colhendo a cana do açúcar ou arrancando blocos nas pedreiras. Muitos foram forçados a desistir e a procurar melhor sorte nos campos dos Estados Unidos. Poucos regressaram à terra natal. Em 2000, numa reportagem publicada no Independente, o jornalista Paulo Barriga conseguiu ainda localizar o filho de uma destas famílias emigradas, nascido já no Hawai, mas forçado a regressar quando o pai sofreu um grave acidente de trabalho.
No ano seguinte, 1912, uma segunda vaga de emigrantes haveria de partir no vapor Harpalien em direção a Honolulu. A revista “Brasil-Portugal” explicava, à época, que este fluxo migratório era inevitável e que se manteria “enquanto uma funda transformação da vida social não destruir as causas que [o] produzem”: “Miséria, miséria, miséria. Do berço à cova. Olhos que secaram de chorar todos os prantos, bocas crestadas, ao nascer, pelo vento da adversidade, e que nunca floriram num sorriso feliz.” Vidas vulneráveis, portanto. À mercê de engajadores sem escrúpulos, de sorriso melífluo e palavra fácil, com promessas de uma vida melhor num “eldorado” longínquo.

Em 2011, estamos a viver a repetição deste cenário de crise e de empobrecimento generalizado e a assistir, por isso mesmo, a uma nova vaga de emigração: só este ano emigraram já mais de cem mil portugueses. Vaga migratória distinta em alguns aspectos, pois muitos dos que agora partem são até bastante qualificados, e fazem-no porque querem alargar horizontes e vivências profissionais e/ou pessoais, mas semelhante naquilo que é mais fundamental, já que para a grande maioria dos que saíram, o país não tem sequer um futuro condigno para lhes oferecer, quanto mais as condições para que realizem todo o seu potencial. Mantêm-se, pois, estranhamente actuais as palavras escritas na imprensa de há cem anos.
Os engajadores de hoje  é que já não são os mercenários solitários que farejavam a miséria pelos campos fora, a soldo dos governos interessados na contratação de mão-de-obra barata. Cem anos depois, os engajadores que nos aliciam a emigrar são os que agora governam o país e fazem-no em direto na televisão para que ninguém tenha dúvidas. Cem anos depois da República – e em termos de desenvolvimento sócio-económico - estamos praticamente no mesmo sítio, ou talvez até estejamos agora num sítio bem pior (UE) pois, na verdade, desta “república” assim (des)governada, parece-me que já nem bananas podemos esperar.

Emigram os mais jovens, ficam os velhos encostados às paredes a entristecer lenta, mas inexoravelmente, como o país.

Palavras: permutabilidade e exceções

    vontade
    simplicidade
    afetividade
    sorte
    certeza
    cumplicidade
    ilusão
    resposta
    confiança
    coragem
A felicidade está onde nós a pomos, mas nós nunca a pomos onde nós estamos
    lealdade
    ternura
    satisfação
    paixão
    determinação
    amizade
    harmonia
    poesia
    sensatez
    ...
    mas a traição, essa, está sempre onde nós não a pomos e, sobretudo, onde menos a esperamos, porque nós, por ingenuidade ou por incapacidade, nunca a pomos onde nós estamos.

domingo, 25 de dezembro de 2011

Rue Pascal...

ou as saudades que eu tenho de andar pelas ruas de Paris com o frio a morder-me a cara...

Ultimato


Fotografia de Gérard Castello-Lopes


















O país dança?, disse-lhe, tropeçando na sombra
que o seu vestido carimbava
no largo da Matriz.
Mas o país alegou cansaço,
pé de chumbo, futuro
comprometido.

O país dança?, tornei,
a coberto das canas
que os céus assobiavam,
mas o país não dançava
e nas trevas circundantes
as silvas o emboscavam
com juras de morte ao campo
que fora de canto segador.

O vento angariava palavras para partir.

O país dança? Pois dance agora
ou cale-se para sempre
e decida-se depressa
enquanto a música não cessa

ou entre nós
está tudo acabado.

Rui Lage, In Um arraial português,
Lx: Babel, 2011

sábado, 24 de dezembro de 2011

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A verdade apanha-se com enganos

E estes "professores" também deverão emigrar para os países lusófonos,

senhor primeiro-ministro? Ou será que estes, porque são "médiuns videntes", logo, excecionalmente qualificados, podem ficar por cá?
In Dica da Semana
Ah, e esta pertinente pergunta dos tais "professores médiuns videntes" só pode ter tudo a ver com a questão da emigração. Enfim, digamos que a coisa deve estar "escrita nos astros"...

Eu, aqui há seis anos atrás, também era como o Dwayne...


agora, sou mais como o Curtis e, lá para 2013, mas quando "Portugal tiver dobrado o cabo das tormentas" (ver aqui), -como garante o nosso atual primeiro-ministro -, tenho a certeza de que já serei como a Molly. Aliás, eu e tantos outros como eu!

O reality show que se segue na TVI

Ler notícia aqui
Julgo que deve ser este o programa que vai suceder à "Casa dos Segredos" (Secret Story), até porque ambos têm várias coisas em comum: não olham a meios para atingir os fins, ou seja, as audiências; conjugam o verbo "comer" em todos os tempos e modos e contribuem decisivamente para a lenta mas segura alienação das "massas, como convém. E deve ser este sobretudo porque, em televisão, o céu é cada vez menos o limite. Já o inferno...

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Afinal, também há natal para os meninos que se portam mal...

Imagem daqui

Viagem no tempo

Por falar em património (i)material, o projeto Littera, edição, atualização e preservação do património literário medieval português, com sede no Instituto de Estudos Medievais da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, tem disponível online uma base de dados onde se encontra "a totalidade das cantigas medievais presentes nos cancioneiros galego-portugueses, as respetivas imagens dos manuscritos e ainda a música (quer a medieval, quer as versões ou composições originais contemporâneas que tomam como ponto de partida os textos das cantigas medievais). A base inclui ainda informação sucinta sobre todos os autores nela incluídos, sobre as personagens e lugares referidos nas cantigas, bem como a “Arte de Trovar”, o pequeno tratado de poética trovadoresca que abre o Cancioneiro da Biblioteca Nacional." (ler mais aqui)

E está lá tudo, de facto: manuscritos, textos, notas explicativas, iluminuras e música (Ver aqui). Entre tantas e tão bonitas, a minha cantiga de amigo predileta: Sedia-m'eu na ermida de Sam Simion de Mendinho (ler aqui). Entre várias versões musicais disponíveis a minha preferida:  musicada por Alain Oulman e com o canto de Amália Rodrigues, numa gravação de 1971: ouvir aqui.

É uma analepse que vale bem todos os minutos que dura. Para mim, foi uma excelente surpresa, coisa que, na quadra natalícia que atravessamos, não é despicienda.

Nada como uma boa promoção para revitalizar o comércio e a economia...

Ah, e não devemos esquecer que isto são apenas promoções, pois a verdadeira época de saldos começa logo a seguir ao natal. Já falta pouco, portanto...

Ao ritmo a que a coisa vai, parece-me que, daqui a menos de um ano, teremos despedimentos a custo zero. Eu até poderei vir a concordar com esta ideia, mas só com uma condição: que haja equidade. Quero dizer: se as chorudas indemnizações pagas aos políticos que abandonam os cargos também entrarem nesta onde generalizada de "descontos" e se os "despedimentos" de políticos incompetentes, corruptos ou com "dificuldades de adaptação ao posto de trabalho" também forem igualmente facilitados...
Ler notícia aqui

Quem pode, pode; quem não pode, sacode-se: provérbio ilustrado


Ler notícia aqui

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Coisas que me abespinham, encanitam e irritam no Natal

Estremoz, 20/12/2011
Quando vejo o menino Jesus assim, pendurado nas janelas e varandas, lembro-me logo de como o mundo ficou chocado quando Michael Jackson pendurou um dos filhos, ainda bébé, da varanda do quarto de um hotel em Berlim. Só que este ainda por cima está completamente despido e indefeso. Um autêntico despautério sem qualquer sentido óbvio. Com o frio que vai lá fora e os pedófilos à solta por aí não sei até que ponto não estaremos perante um crime de exposição - senão mesmo de abandono - e negligência de uma criança, ainda por cima recém-nascida. Não seria de alertar o senhor procurador geral da república para este caso insólito?

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O que me vai valendo são estas "montanhas azuis"

Coisas que me abespinham, encanitam e irritam no Natal

A homilia anual do duo presidencial sobre o natal, a família, a crise, dar as mãos, os cuidados redobrados, coisa e tal... e mais a coleção de presépios da senhora.

Reforma curricular 2012: previsões

e não, não são da Maya... (ver aqui)

O verdadeiro programa do Governo

Primeiro foi o secretário de estado da juventude que incitou os jovens qualificados a sair do país quanto mais depressa melhor (ver aqui). Agora foi o primeiro-ministro que, numa entrevista, apontou a porta de saída do país aos professores (ver aqui). A somar, claro está, às medidas de redução das "gorduras do estado" que já são por demais conhecidas:



Ora tudo isto só pode ser entendido de uma maneira: o governo está é a tentar mover uma ação de despejo aos autóctones para depois vender por um bom preço o terreno à beira-mar plantado, e já agora devoluto, a investidores endinheirados que transformarão isto num codomínio de luxo. Quando o negócio estiver concretizado o governo receberá a respetiva comissão de venda, conforme previsto na lei. E nem um cêntimo mais, claro está! Só não sabemos ainda é o que fará ele aos muitos velhos que ainda andam por aí, mas não tardaremos a ter novidades, até porque tanta e tão generalizada austeridade alguma coisa há-de dar.

Podemos e devemos ver a coisa pela positiva: ao menos desta vez o governo não pode ser acusado de não ter cumprido o seu programa de (des)governo.

domingo, 18 de dezembro de 2011

Uma musiquinha natalícia mais recheada de clichés que o perú de natal...

e dedicada em exclusivo ao senhor comandante da polícia municipal de Coimbra...

O país do CarNatal

Cronograma de uma anedota natalícia:

10:50 - Certamente animado pelas melhores intenções, o comandante da polícia municipal queria enviar a todos os funcionários da autarquia um inspirado cartão de Boas Festas, mas o que seguiu para o endereço geral de correio eletrónico da Câmara Municipal de Coimbra foi um anexo em Powerpoint com cerca de 25 diapositivos - desses que circulam por aí na rede -, o qual terminava em grande estilo com estes votos, acredito que totalmente sinceros:
Imagem daqui e notícia daqui

11:02 - Apercebendo-se do erro, e claramente deconhecedor daquela expressão idiomática "pior a emenda que o soneto", envia novo mail, desta feita para dizer apenas “Erro no anexo. Peço desculpas.

11:45 - Já preocupado com as consequências do lapso, ou talvez alertado pelo eco das gargalhadas que se ouviam um pouco por toda a cidade e que rapidamente estavam a alastrar a todo o país, o comandante envia um terceiro mail manifestando “o máximo respeito por toda gente e em particular por cada um”, lamentando ter “anexado um anexo errado” e sublinhando que não era aquela a sua intenção: “Aliás, no e-mail seguinte fiz essa minha penitência. Errei e peço desculpa a todos e a todas”.

Resultado: nessa mesma tarde foi convidado a demitir-se por ter atentado contra o "prestígio" da Câmara Municipal e informado de que seria ainda alvo de um procedimento disciplinar "para defesa do bom nome da Polícia Municipal".

(i)Moral da história:

A julgar pelo que tem acontecido a tantos outros por esse país fora, tivesse o homem desfalcado a Câmara em vários milhões de euros e não estaria certamente metido nestes assados;

Embora seja comandante da polícia não é difícil perceber que o homem, coitado, pouco mais é do que um infoexcluído e precisa mas é de umas boas horas de formação para aprender a lidar melhor com a informação e a evitar estas confusões de principiante;

Comandante da polícia, ou seja, homem, machista e bronco. Muito bronco mesmo: “E basta de farsas e de palavreado inútil! O que eu desejo, de todo o coração, é que tenhas relações sexuais incríveis, uma vida alegre e feliz, que trabalhes muito e que te paguem bem!”? (certamente para poder pagar mais umas quantas relações sexuais "incríveis"...). Há coisas que dificilmente mudam, de facto, mas isso é uma questão para ele resolver lá com a esposa, caso a tenha...

E, já agora, que as sonoras risadas que o país inteiro tem dado à conta do homem nestes últimos dias sejam consideradas uma atenuante, pois nestes tempos difíceis que estamos a viver, temos tão poucos motivos para sorrir, quanto mais para sacudir o excesso de bílis do fígado com umas boas gargalhadas como estas.

E também quem é dá assim tanta importância às balofas mensagens de "Feliz Natal e Próspero Ano Novo" - cheias de coraçõezinhos, pinheiros, renas, estrelinhas brilhantes, meninas seminuas e afins - que por esta altura nos entopem o mail e pouco mais são do que spam?

sábado, 17 de dezembro de 2011

Em homenagem à "bomba atómica" que vai pôr "finos" os banqueiros alemães...

(ver notícia aqui) desde sábado passado que o símbolo da energia nuclear em Portugal passou a ser este:

E só de olhar para ele quem é que não sente logo as pernas tremer? Até eu, quanto mais os banqueiros alemães...

Cesária

reConto de Natal

É no rosto sério das pessoas com que nos cruzamos em qualquer loja - seja no "comércio tradicional" ou nas superfícies comerciais - que se percebe bem até que ponto este Natal de 2011 está entalado entre...

e





sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Fecunda também é a música

À minha porta


Georgia O'Keefe: The Shell, 1934 (óleo s/ tela)





















À minha porta senta-se outra vez
o inverno. Traz consigo
o mar. Está velho
e magro o mar, negro de crude.
Também traz árvores; cegas
e sem nenhum pássaro:
mesmo sem vento cambaleiam.
Tenho dó das suas folhas
de borco na rua,
a respiração difícil.
Quem virá, injuriando o tempo,
sacudindo as grossas
gotas de frio?
Só um sorriso aceso
lhe aqueceria as mãos; do coração
não falo: não há lume
que o torne enxuto e novo.

Eugénio de Andrade, In O Sal da Língua,
Ed. Limiar, 1995

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Read your book

Também estou a precisar...

Marimbemo-nos uns aos outros

Primeiro foi o PS  que, durante anos, se esteve a marimbar para todos nós atolando o país em projetos/planos/investimentos ruinosos, pensados à pressa e sem qualquer interesse para um crescimento económico racional e sustentável. Estamos agora a pagá-los com o descrédito internacional e as elevadíssimas taxas de juro de todos conhecidas.

Agora vem este bronco e jactancioso deputado e vice-presidente da bancada parlamentar do PS gritar bem alto coisas como esta: Estou a marimbar-me que nos chamem irresponsáveis. Temos uma bomba atómica que podemos usar na cara dos alemães e franceses. Essa bomba atómica é simplesmente não pagarmos; Ou os senhores se põem finos ou nós não pagamos". E vem dizê-lo agora, sabendo (ou talvez não saiba) que estamos há meses com um corte nos salários, que acabámos de receber apenas metade do subsídio de natal - e sabemos já que nos próximos dois anos nem isso vamos ter -, que estamos a gastar mais de metade do nosso vencimento em impostos de toda a ordem, que centenas de milhares de portugueses já perderam o emprego e duvidam que voltem a conseguir arranjar outro, que milhares de reformados  e pensionistas estão à beira do desespero; que milhares de jovens - a geração mais qualificada de sempre no país - são forçados a emigrar porque aqui já lhes retiraram toda a esperança de um futuro digno, etc, etc. E tudo isto porquê? Porque estamos já a pagar as consequências - e as dívidas associadas - da megalomania e da incompetência dos sucessivos (des)governos deste país nas últimas duas décadas. A meu ver, e ao contrário do que alguns nos querem fazer crer, a explicação para este chorrilho de patacoadas não é nem "metafórica" nem "imagética", mas apenas "contextual" (aí o "líder" parlamentar tem toda a razão): a criatura ainda não sentiu a crise na carteira e, por isso mesmo, sente-se à vontade para alvitrar desta forma com os sacrifícios alheios.

Pois é por esta e, sobretudo, por muitas outras antes desta, que eu também me estou a marimbar e muito! Estou-me a marimbar para o PS, da mesma forma que me estou a marimbar para a atual coligação governativa. Estou-me a marimbar para estes medíocres que andam por aí a animar jantares-comício para ganhar a (boa) vidinha. Estou-me a marimbar para um 'deputado da nação' - certamente com pretensões a ministro num próximo governo PS (lagarto! lagarto! lagarto!) - tão... como dizer? ...fraquinho, como este provou ser. Estou-me a marimbar para esta gentalha que faz da governação do país um jantar-comício do partido. Estou-me a marimbar para esta gentinha que, primeiro, ladra, e depois vem ganir que afinal não foi bem assim, que estava descontextualizado pois "Portugal quer pagar a dívida, (...) o PS quer que Portugal pague a dívida e (...) é completamente solidário com o cumprimento do memorando da Troika". Estou-me a marimbar e posso fazê-lo porque tenho - e sempre tive - todos os meus impostos em dia, porque estou a pagar sem falhas a minha parte nas dívidas colossais que não contraí, porque não foi - nem nunca será - com o meu voto que tal gente entrou/entrará para o Parlamento. Ao menos isso.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Karuna

Coisas que me abespinham, encanitam e irritam no Natal

Imagem daqui
 

As "chupacabras" taxas moderadoras

Num país onde a maior parte das pensões de reforma não chegam aos 300 euros mensais, afirmar perentoriamente que o céu não é o limite das taxas moderadoras no Serviço Nacional de Saúde, equivale a dizer que o "chupacabras" anda por aí, nós sabemos isso, achamos muito bem e não vamos fazer nada. Quem puder que se salve (no privado, de preferência). Quanto aos outros, olha, não temos pena, porque afinal até poupamos uns quantos euros em pensões...
Imagem daqui

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Os "costumes" nacionais: de brandos e de broncos todos temos um pouco?

Há precisamente um século (1908), Miguel de Unamuno escrevia sobre um Portugal que, com evidente auto-complacência, se qualificava como sendo  um "país de brandos costumes" para dizer que: «Portugal é um povo triste, e é-o até quando sorri. A sua literatura, incluindo a sua literatura cómica e jocosa, é uma literatura triste. Portugal é um povo de suicidas, talvez um povo suicida.» (In Portugal povo de suicidas, Ed. & etc., 1986, pp 68-69). De acordo com o mesmo autor, citando uma carta de Manuel Laranjeira, isso devia-se, em parte, ao desnorte da nação: «Eu, por mim, não sei, não sei; em boa verdade, amigo, não sei para onde vamos. Sei que vamos mal.» (idem) A atualidade destas palavras mantém-se intacta, pois assim nos continuamos a sentir hoje, especialmente agora que, em nome da "crise", nos retiram todos os dias um pouco mais de esperança e se avoluma nos espíritos a perigosa incerteza de quase tudo.

Vem isto a propósito d'O Correio da Manhã que, na sua página online, revela em permanência o  extensíssimo rol de mortes violentas ocorridas no país desde janeiro deste ano (consultar aqui). Um breve olhar por este mapa da violência mais infame chega para perceber que continuamos a ser tão suicidas como no tempo de Unamuno, mas que, como homicidas, também estamos não estamos nada mal...  
Imagem daqui
Mas será esta uma evolução - ou melhor, uma involução - recente? Volto a Unamuno, que concluía a sua reflexão da seguinte forma: "A brandura, a meiguice portuguesa, está apenas à superfície; raspem-na e encontrarão uma violência plebeia que até assusta. Oliveira Martins conhecia bem os seus compatriotas. A brandura é uma máscara." (idem) Unamuno não estava enganado. Mas a violência extrema também não é agora muito maior do que em tempos passados. Ela está é mais amplificada, até banalizada. Talvez mesmo perigosamente amplificada e banalizada pelos media.

Na verdade, e infelizmente para a humanidade de todos e de cada um de nós, « ... a vida, quer se trate da vida de um homem, quer se trate da vida de um povo, é uma coisa bem pequena, bem desprezível. O importante é o uso que se faz dessa vida. Um minuto de vida bem empregado vale mais do que a eternidade da vida inutilmente vivida. e em Portugal (veja a profundidade do nosso mal!) há almas tão sucumbidas que dizem que - tanto faz morrer de um modo como doutro. Esta insensibilidade moral é pior do que a morte, não é verdade?» (idem) Este é que é o verdadeiro busílis da questão e é isso mesmo que, de forma crua, o tal rol de crimes violentos nos mostra, sem qualquer sombra de dúvida. Neste domínio em particular, com ou sem crise económica, hoje, tal como no passado, não somos nem melhores, nem piores que outro povo qualquer. Somos em tudo iguais. E é pena.

domingo, 11 de dezembro de 2011

Lets get out of this country (enquanto é tempo)

Toda a verdade sobre os assaltos ao Multibanco

Face à crescente onda de assaltos aos postos ATM e se eu fosse uma (bem remunerada) consultora da SIBS - a empresa que gere a rede Multibanco - trataria de alertar rapidamente o conselho de administração para algo de flagrante em que ninguém parece ainda ter reparado: mal sente alguém a aproximar-se a criaturinha verde que nos acolhe lá dentro da máquina faz um sorriso radiante e começa a dar pulinhos de contentamento com os braços no ar, como se dissesse "assalta-me, assalta-me!". Ora o pessoal anda mal de finanças e, perante um convite destes, não se faz rogado, está claro...


Por isso, quanto mais olho para aquele sorriso rangente, mais convencida estou que a criaturinha verde deve ser da família dos Irmãos Metralha, ou algo assim...


Perante tais evidências, não se percebe por que razão a SIBS insiste em mantê-la ao serviço... Por que não experimentar uma animação feita com as carrancudas e ameaçadoras figuras da troika, por exemplo? Acompanhada, claro está, da tonitruante mensagem "Alto! O conteúdo deste Multibanco é nosso!" (aliás, o que transportarão eles naquelas pesadas pastas senão o conteúdo de todos os multibancos deste país?)


Ou então, como estamos agora numa onda de consumir produto nacional por causa da crise, porque não uma imagem do atual ministro das Finanças a surgir de repente no monitor, assim no seu habitual tom professoral, com um "Parem já com isso por favor, senão crivo-vos de sobretaxas e impostos extraordinários"?

Acabavam-se logo os assaltos pois era ver a ladroagem, apanhada de surpresa, a fugir estrada fora cheia de medo...

para a Eleita da poesia

Diogo de Macedo: Busto de Florbela Espanca,
1949, Jardim Público de Évora






















Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...
                                       E não sou nada!...

Florbela Espanca, "Vaidade" (Livro de Mágoas, 1919),
In Sonetos Completos, Coimbra: Livraria Gonçalves, 1950, 8ª ed.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Moon

Os nossos tristes assuntos


Edward Hopper: Automat, 1927 (óleo s/ tela)


















tal como pedes eu trato
dos nossos tristes assuntos
já rasguei o teu retrato
e outro em que estávamos juntos.

e o anel que tu me deste
fui deitá-lo fora ao mar,
o vento soprava agreste
e não havia luar.

há-de ficar-te a lembrança
da nossa vida passada,
eu, perdida a esperança,
fico sem nada, sem nada.

fica tu com as mentiras
que te dizem estou bem
e outras mais que tu prefiras,
que as não digo a mais ninguém.

fico eu com as verdades
tão duras, sem exagero,
e angústias e ansiedades
e agonia e desespero,

fico eu com o vazio
da negra noite sem fim,
nem sei quem sou, tenho frio,
estou comigo e sem mim

não me conheço ao espelho:
serei eu? não serei eu?
já deixou de ser vermelho
um coração que bateu.

e assim eu me despedaço,
sem salvação nem socorro:
se não sou eu, me desgraço,
se sou eu, sinto que morro.

Vasco Graça Moura, In Poesia 2001-2005,
Lx: Quetzal Ed., 2006

Crise? Mas qual crise?

Então um país em crise podia alguma vez dar-se ao luxo de ter caprichos destes?

Ler notícia aqui

Mondego: por este rio afora...

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Piadistas presidenciais: uma autêntica "bunga-bunga"

Não sei se a compulsão para dizer "piadas" perfeitamente dispensáveis faz parte do protocolo oficial, se vem incluída no pacote "subir o poder à cabeça" ou algo assim do género, mas o certo é que se sucedem os "casos". Agora foi a vez do presidente chileno e o nome, "Piñera", deve certamente vir do facto de, em criança, ter levado com uma valente pinha no alto da tola, ou coisa que o valha... E, aliás, é esta a mais lógica explicação para o infeliz lapsus linguae que tem sido narrado nos jornais (ver aqui).

Melhor que ele, ou melhor, mais sexista que ele, só mesmo o nosso presidente Aníbal que, ainda recentemente dizia sobre as mulheres esta maravilha de fazer ensurdecer os neurónios:


Aliás, a dizer piadas, o nosso presidente está imparável e até já deve ter algum assessor a tratar de as coligir para publicação oportuna. A série das "vacas" então é verdadeiramente antológica:


De qualquer forma, tanto Piñera como Cavaco Silva, são apenas desajeitados aprendizes de feiticeiro quando comparados com o Grande Piadista italiano. O que não é de admirar se pensarmos que o planetário One Man Show Berlusconi esteve em cena largos anos, durante os quais deu ao mundo "piadas" únicas no seu género, a tal ponto que a revista "Time" até já se deu ao trabalho de fazer um Top 10 (ver aqui):


A fasquia está portanto bastante elevada e deve ser por isso que a recente tentativa de Sebastián Piñera foi acolhida com um sorriso amarelo tanto no Chile, como um pouco por todo o lado. Vamos ver agora se o nosso Aníbal consegue fazer melhor numa das suas próximas viagens. Dada a proximidade do Natal, e conhecida que é a sua predileção por bolo-rei, não é difícil adivinhar o que aí vem...

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Previsões? Só no fim da cimeira da UE, mas

a julgar pelas anteriores...
Henricartoon

"Reasons for Waiting"?

A "Suite 605", ou quem nos avisa nosso amigo é...

Nestes últimos dias o "Grande Timoneiro" desse barco com um grande rombo no casco que é a Madeira tem-se desdobrado em avisos sobre a "Zona Franca". Alguns já soam mesmo a ameaça e nada velada (ver aqui). Invocando os "interesses nacionais" (ver aqui), o grande líder até já fala em possível crime de "lesa-Pátria"...

Contudo, esta entrevista do economista João Pedro Martins - que publicou recentemente o livro “Suite 605: A história secreta de centenas de empresas que cabem numa sala de 100 m2”, Ed. SmartBook, 2011 -, esclarece bem o que está verdadeiramente em jogo nesta situação da Zona Franca madeirense. É que, de "franca", ela só tem mesmo o nome, pois a Madeira é afinal um opaco paraíso fiscal que todos nós andamos a pagar bem caro. E depois ainda há quem se admire do estado a que a economia chegou!? Claro que também é por aqui que se percebe melhor a óbvia aflição do "Grande Estratega" madeirense. A entrevista pode ser ouvida aqui.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A naviarra dos tolos*

ou dez (!?) candidatos a "estripador de Lisboa" (até agora)...

 * Referência a um excerto da Cena do Parvo do Auto da Barca do Inferno de Gil Vicente (1517):
"Joane - É esta a naviarra nossa?
Diabo - De quem?
Joane - Dos tolos.
Diabo. Vossa. Entra!"

Imagem de fundo: Hieronymus Bosch: O Navio dos Loucos, c. 1490-1500 (óleo s/madeira)

domingo, 4 de dezembro de 2011

Anúncios de Natal para todas as bolsas

(para umas mais do que para outras, claro)

A capa da Pública de hoje enaltece a importância de encher o cabaz de Natal com produtos portugueses, sublinhando que a economia encaixaria qualquer coisa como 1,3 mil milhões de euros. À partida a proposta até não soa mal. Mas basta folhear a revista para perceber que, afinal, há ali uma cacofonia qualquer. O que a revista revela, de facto, é assumidamente o país a duas velocidades: o dos muito ricos e o dos muito em crise. Estes, claro, compram português sobretudo porque não têm dinheiro para os luxos importados que a maior parte das páginas da revista anuncia com grande destaque e que os primeiros, apesar da crise, vão continuar a comprar como sempre fizeram.

A coisa começa logo na pág. 5 ocupada com o anúncio de um cronógrafo de luxo da Seiko. A pág. 7 destila charme com Ryan Reynolds a anunciar o perfume de Hugo Boss. Na pág. 9 quase nos entra pelos olhos dentro o cronógrafo da Mont Blanc e, na pág. 13, é o do Hugo Boss. Na pág. 15 há uma beldade que nos tenta com o perfume "Candy" da Prada. Na pág. 17 são as jóias de design apurado da Pandora. Na pág. 19 - uff! até que enfim -, há um anúncio da  Cutipol, que é portuguesa, mas não é para todas as bolsas. A pág. 25 é ocupada pela companhia de seguros Zurich, depois lá vem meia página com o anúncio de um carrito baratinho da Chevrolet a que se segue, estrategicamente?, toda a pág. 23 com a publicidade da Cofidis.

Chegamos à pág. 40 e lá encontramos - uff! até que enfim! -  o grande destaque desta semana com o título em letras garrafais "Compras de Natal à portuguesa". Título e imagem (que faz também a imagem da capa) ocupam duas páginas, logo seguidas das duas páginas ocupadas com um anúncio da BMW. Só na pág. 44 é que se entra então no espírito "compre português que o país agradece". Aí se encontram divulgados produtos muito diversos, agrupados por preço: até 5, 15, 25, 35, 50, 80 e 200 euros.

Estas propostas nacionais intervalam com cosméticos da L'Oréal para homem na pág. 53 e com o whisky Cutty Sark na 63, a que se segue um anúncio de dupla página ao Bacalhau da Noruega que é nosso, mas não é nosso. Vem depois a excepção que confirma a regra: na pág. 51 o anúncio ao Porto Ferreira e, na pág. 55, a nova máquina de café da Delta Q. Depois do tarot semanal da muito siliconada Maya vêm anunciados, muito a propósito, mais cosméticos da L'Oréal, desta vez para mulher e vendidos com o rosto da muito bem conservada para a idade Jane Fonda (o Photo-shop é um creme milagroso, de facto).

Seguem-se por fim umas sugestões de Natal "Serralves" também em página dupla e logo a seguir mais duas páginas de cosméticos da marca Boots, mais umas quantas sugestões de vinhos e bebidas nacionais, à mistura com uns whisky's e mais uma proposta da Delta Q. Tudo se acaba em beleza com um anúncio ao Novo Classe B da Mercedes e a magnífico relógio Longines, estes dois já na contracapa. 

Resumindo e concluindo: se está em crise e não tem muito dinheiro, compre português. Mas se é daqueles a quem a crise "é uma cena que não lhe assiste" (e, ao que parece, o número de ricos tem aumentado com a crise e/ou apesar dela) então compre estrangeiro, topo de gama/de luxo e quanto mais caro melhor, para impressionar os amigos ricos... Ou seja, deve comprar português quem já sente a crise no bolso (porque tem de a pagar), até porque, se não o fizer, terá que pagar ainda mais. E fica explicado também o comentário entre parêntesis logo na capa: "(e o país agradece)"...