segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Os "costumes" nacionais: de brandos e de broncos todos temos um pouco?

Há precisamente um século (1908), Miguel de Unamuno escrevia sobre um Portugal que, com evidente auto-complacência, se qualificava como sendo  um "país de brandos costumes" para dizer que: «Portugal é um povo triste, e é-o até quando sorri. A sua literatura, incluindo a sua literatura cómica e jocosa, é uma literatura triste. Portugal é um povo de suicidas, talvez um povo suicida.» (In Portugal povo de suicidas, Ed. & etc., 1986, pp 68-69). De acordo com o mesmo autor, citando uma carta de Manuel Laranjeira, isso devia-se, em parte, ao desnorte da nação: «Eu, por mim, não sei, não sei; em boa verdade, amigo, não sei para onde vamos. Sei que vamos mal.» (idem) A atualidade destas palavras mantém-se intacta, pois assim nos continuamos a sentir hoje, especialmente agora que, em nome da "crise", nos retiram todos os dias um pouco mais de esperança e se avoluma nos espíritos a perigosa incerteza de quase tudo.

Vem isto a propósito d'O Correio da Manhã que, na sua página online, revela em permanência o  extensíssimo rol de mortes violentas ocorridas no país desde janeiro deste ano (consultar aqui). Um breve olhar por este mapa da violência mais infame chega para perceber que continuamos a ser tão suicidas como no tempo de Unamuno, mas que, como homicidas, também estamos não estamos nada mal...  
Imagem daqui
Mas será esta uma evolução - ou melhor, uma involução - recente? Volto a Unamuno, que concluía a sua reflexão da seguinte forma: "A brandura, a meiguice portuguesa, está apenas à superfície; raspem-na e encontrarão uma violência plebeia que até assusta. Oliveira Martins conhecia bem os seus compatriotas. A brandura é uma máscara." (idem) Unamuno não estava enganado. Mas a violência extrema também não é agora muito maior do que em tempos passados. Ela está é mais amplificada, até banalizada. Talvez mesmo perigosamente amplificada e banalizada pelos media.

Na verdade, e infelizmente para a humanidade de todos e de cada um de nós, « ... a vida, quer se trate da vida de um homem, quer se trate da vida de um povo, é uma coisa bem pequena, bem desprezível. O importante é o uso que se faz dessa vida. Um minuto de vida bem empregado vale mais do que a eternidade da vida inutilmente vivida. e em Portugal (veja a profundidade do nosso mal!) há almas tão sucumbidas que dizem que - tanto faz morrer de um modo como doutro. Esta insensibilidade moral é pior do que a morte, não é verdade?» (idem) Este é que é o verdadeiro busílis da questão e é isso mesmo que, de forma crua, o tal rol de crimes violentos nos mostra, sem qualquer sombra de dúvida. Neste domínio em particular, com ou sem crise económica, hoje, tal como no passado, não somos nem melhores, nem piores que outro povo qualquer. Somos em tudo iguais. E é pena.

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