Diogo de Macedo: Busto de Florbela Espanca, 1949, Jardim Público de Évora |
Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho...
E não sou nada!...
Florbela Espanca, "Vaidade" (Livro de Mágoas, 1919),
In Sonetos Completos, Coimbra: Livraria Gonçalves, 1950, 8ª ed.
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