quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

A palavra corta o fogo

se alguém respirasse e cantasse uma palavra,
e súbito fosse respirado por ela, fosse
cantado assim
de puro júbilo ou, quem sabe? de medo puro,
poria no termo o selo de si mesmo?
quem é que sabe onde fica o mundo?
e de quê e de quem e de como é composto e dito,
de como uma palavra, uma só, regula
ininterruptamente tudo, e alguém a põe em uso,
oh glória idiomática,
e é posto e disposto até que abuso de que espécie de infuso espírito
das profundezas dessa palavra

Herberto Hélder, A faca não corta o fogo,
Lx: Assírio & Alvim

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