... a mais improvável espécie de voto cheio de boas (e também de algumas más) intenções para dois mil e doze, treze, catorze, quinze e todos os outros anos que vierem.
Demonstração de humanidade
Um velho, muitíssimo velho, desdentado, com um boné castanho na cabeça, e com o sorriso que pode fazer já sem os dentes que normalmente fazem o sorriso, concentrando por isso o sorriso na parte da pele acima da boca, nas bochechas, o velho ali está a fazer pontaria com uma fisga, a rir-se de ser tão velho e de ainda ter vontade de acertar em alguém ou em algo. Não perdemos essa vontade; podemos perder a pontaria, os músculos, a força, mas a vontade de matar, essa não perdemos, mesmo quando temos quase noventa anos, não temos dentes e temos um boné castanho na cabeça. Que a vontade humana seja abençoada.
Gonçalo M. Tavares, In Short Movies, Lx: Caminho-Leya, 2011
Ao meu Pai (ainda que, para ele, já seja tudo tarde demais)
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