(para umas mais do que para outras, claro)
A capa da Pública de hoje enaltece a importância de encher o cabaz de Natal com produtos portugueses, sublinhando que a economia encaixaria qualquer coisa como 1,3 mil milhões de euros. À partida a proposta até não soa mal. Mas basta folhear a revista para perceber que, afinal, há ali uma cacofonia qualquer. O que a revista revela, de facto, é assumidamente o país a duas velocidades: o dos muito ricos e o dos muito em crise. Estes, claro, compram português sobretudo porque não têm dinheiro para os luxos importados que a maior parte das páginas da revista anuncia com grande destaque e que os primeiros, apesar da crise, vão continuar a comprar como sempre fizeram.
A capa da Pública de hoje enaltece a importância de encher o cabaz de Natal com produtos portugueses, sublinhando que a economia encaixaria qualquer coisa como 1,3 mil milhões de euros. À partida a proposta até não soa mal. Mas basta folhear a revista para perceber que, afinal, há ali uma cacofonia qualquer. O que a revista revela, de facto, é assumidamente o país a duas velocidades: o dos muito ricos e o dos muito em crise. Estes, claro, compram português sobretudo porque não têm dinheiro para os luxos importados que a maior parte das páginas da revista anuncia com grande destaque e que os primeiros, apesar da crise, vão continuar a comprar como sempre fizeram.
A coisa começa logo na pág. 5 ocupada com o anúncio de um cronógrafo de luxo da Seiko. A pág. 7 destila charme com Ryan Reynolds a anunciar o perfume de Hugo Boss. Na pág. 9 quase nos entra pelos olhos dentro o cronógrafo da Mont Blanc e, na pág. 13, é o do Hugo Boss. Na pág. 15 há uma beldade que nos tenta com o perfume "Candy" da Prada. Na pág. 17 são as jóias de design apurado da Pandora. Na pág. 19 - uff! até que enfim -, há um anúncio da Cutipol, que é portuguesa, mas não é para todas as bolsas. A pág. 25 é ocupada pela companhia de seguros Zurich, depois lá vem meia página com o anúncio de um carrito baratinho da Chevrolet a que se segue, estrategicamente?, toda a pág. 23 com a publicidade da Cofidis.
Chegamos à pág. 40 e lá encontramos - uff! até que enfim! - o grande destaque desta semana com o título em letras garrafais "Compras de Natal à portuguesa". Título e imagem (que faz também a imagem da capa) ocupam duas páginas, logo seguidas das duas páginas ocupadas com um anúncio da BMW. Só na pág. 44 é que se entra então no espírito "compre português que o país agradece". Aí se encontram divulgados produtos muito diversos, agrupados por preço: até 5, 15, 25, 35, 50, 80 e 200 euros.
Estas propostas nacionais intervalam com cosméticos da L'Oréal para homem na pág. 53 e com o whisky Cutty Sark na 63, a que se segue um anúncio de dupla página ao Bacalhau da Noruega que é nosso, mas não é nosso. Vem depois a excepção que confirma a regra: na pág. 51 o anúncio ao Porto Ferreira e, na pág. 55, a nova máquina de café da Delta Q. Depois do tarot semanal da muito siliconada Maya vêm anunciados, muito a propósito, mais cosméticos da L'Oréal, desta vez para mulher e vendidos com o rosto da muito bem conservada para a idade Jane Fonda (o Photo-shop é um creme milagroso, de facto).
Seguem-se por fim umas sugestões de Natal "Serralves" também em página dupla e logo a seguir mais duas páginas de cosméticos da marca Boots, mais umas quantas sugestões de vinhos e bebidas nacionais, à mistura com uns whisky's e mais uma proposta da Delta Q. Tudo se acaba em beleza com um anúncio ao Novo Classe B da Mercedes e a magnífico relógio Longines, estes dois já na contracapa.
Resumindo e concluindo: se está em crise e não tem muito dinheiro, compre português. Mas se é daqueles a quem a crise "é uma cena que não lhe assiste" (e, ao que parece, o número de ricos tem aumentado com a crise e/ou apesar dela) então compre estrangeiro, topo de gama/de luxo e quanto mais caro melhor, para impressionar os amigos ricos... Ou seja, deve comprar português quem já sente a crise no bolso (porque tem de a pagar), até porque, se não o fizer, terá que pagar ainda mais. E fica explicado também o comentário entre parêntesis logo na capa: "(e o país agradece)"...
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