terça-feira, 31 de julho de 2012

What he wrote

Cilada verbal


Paul Cézanne: Garçon au gillet rouge, 1888-90





















Há vários modos de matar um homem:
com o tiro, a fome, a espada
ou com a palavra
- envenenada.

Não é preciso força.
Basta que a boca solte
a frase engatilhada
e o outro morre
- na sintaxe da emboscada.


Affonso Romano de Sant'Anna, In Poesia Reunida,

vol. 2, Porto Alegre: LPeM, 2004, p. 87

(andam por aí autênticos serial killers...)

O evangelho ilustrado

Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a direita.

Ler notícia aqui

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Carreirismo

Pois, 'tou a ver...

Um ministro das finanças que agrada aos banqueiros?... e privados, ainda por cima?! Pois, 'tou a ver... ou melhor, a perceber!
Ler notícia aqui

O lado C das notícias

ou seja, aquelas que não são, mas poderiam ser notícia.


 
Um porta-voz do governo alemão comunicou à imprensa que Angela Merkel e Mario Monti falaram ao telefone durante o fim de semana e garantiram que “farão tudo para proteger a zona euro” (ler notícia aqui).

Mas o que a imprensa não viu e a fotografia 'oficial' não mostra é isto...

domingo, 29 de julho de 2012

Ligações perigosas

Já há muitos anos que estamos fartos de saber das muito quentes e perigosas relações entre:

política e futebol (ver aqui)

Também já todos sabíamos das reiteradas e ainda mais perigosas ligações entre:

política e jornalismo (ver aqui e aqui)

Agora, o caso da licenciatura à pressão de Miguel Relvas na Lusófona, tal como antes a licenciatura manhosa de José Sócrates na Independente, vieram revelar mais uma das facetas sombrias da política - e dos políticos - em Portugal:

política e universidades privadas (ver aqui e aqui)

De tal forma que já nem me parece muito adequado falar de 'política': talvez polvítica fosse mais apropriado para descrever o que se passa neste país. Ou então "pulhítica", como dizia alguém que eu conheci em tempos...

imagem google

sábado, 28 de julho de 2012

Just breathe

Os bestuntos

Existe em Portugal toda uma geração de homens, hoje já com sessenta e muitos anos, que fez a sua iniciação sexual com prostitutas. Era, ao tempo, uma prática habitual, encarada e tolerada por toda a sociedade com alguma bonomia disfarçada.

Contudo, para muitos, esse ritual de entrada na vida sexual activa deixou marcas indeléveis e formatou para sempre a sua maneira de encarar as mulheres e, sobretudo, de pensar o feminino. Para eles, as mulheres são sobretudo umas putas sempre predipostas às piores traições e não há  excepções nem contemplações. Até porque, se o fizessem, estariam a assumir que as mulheres são pessoas, com defeitos e virtudes em tudo semelhantes às deles, e isso foi coisa que nunca lhes passou pela cabeça. Não, as mulheres são todas putas e ponto final. 

Não deixa de ser curioso verificar como nem mesmo certos pretensos-intelectuais-de-esquerda, que gostam de se armar em liberais e práfrentex no que aos costumes diz respeito, escapam a esta tacanhez de espírito.

Contudo, e seja qual for a ideologia, nenhum prescinde de ter mulheres na sua vida. Antes pelo contrário. Alguns são até exímios na disseminação das feromonas que vão atraindo as fêmeas ao seu território peculiar. Só que não o fazem para estabelecer com elas qualquer tipo de relação afectiva de duração mais ou menos variável e imprevisível, mas tão somente para satisfazer uma pulsão que, depois de saciada, dá lugar a uma única evidência que, aliás, muito lhes convém para despachar a fulana a grande velocidade: não passa de mais uma que me vai trair com outro qualquer logo que se levante desta cama. Por isso, há que tratá-la em conformidade. Mostra-se ela simpática e cortês: está despudoradamente a tentar engatar algum/a! Toma uma atitude mais distante ou de maior frieza: é para disfarçar a traição que acabou de cometer!
Mas não aconteceu nada: pensou em fazê-lo!
Mas não o fez! de certeza que o faria e com todo o requinte!...

De nada adianta negar, explicar, justificar ou protestar, pois tudo o que então se possa dizer ou fazer reverte contra a própria e mais não faz do que aumentar as certezas cretinas de um orgulho exacerbado, preconceituoso e machista até ao absurdo.

O mais doloroso, quando se teve o azar de gostar mesmo a sério de uma destas criaturas, é concluir que pouco mais há a fazer do que dar à sola antes que seja tarde demais, isto é, antes que a nossa auto-estima seja pulverizada pela mesquinhez destas criaturas tão cheias de certezas que são incapazes de ver a realidade nem que ela se lhes sente no colo e lhes mordisque a orelha. Sobretudo quando a situação já se repetiu diversas vezes e se percebeu que não há qualquer hipótese de poder vir a ser diferente.

Por isso, o melhor é dizer-lhes que sim, que têm razão naquilo que pensam e dizem, confirmar que é tuuudo verdade! (é ver logo o sorrisinho vitorioso e carregado de escárnio a despontar-lhes ao canto da boca... ) e aproveitar enquanto impam de satisfação por mais uma vitória conseguida para se pôr al fresco. Assim, quando perceberem o que, de facto, acabou de lhes acontecer, já elas estarão bem longe, finalmente a respirar um pouco de ar puro.

Idiotas ainda é elogio! Bestuntos, mesmo!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Celebrar também pode ser uma música assim

Lá e cá


Imagem daqui
Acabámos todos de assistir em directo à forma como os ingleses fizeram questão de homenagear o seu NHS, ou seja, Sistema Nacional de Saúde, durante a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos: dezenas de "camas de hospital", "enfermeiras" e "pequenos pacientes" rodopiaram pelo relvado do estádio para exaltar o trabalho desenvolvido pelos profissionais que nele trabalham.

Por cá, o espectáculo é distinto: dão-nos o privilégio de assistir todos os dias ao desmantelamento sistemático do nosso Sistema Nacional de Saúde.

Enfim...

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Às vezes nunca te vi antes

Às vezes
Nunca te vi antes
Às vezes nunca amantes
Nunca além
Às vezes nunca te quis
Às vezes nunca infeliz
Nunca ninguém
Não te reconheço mais
Tuas roupas são outras
E soltas de mim
As palavras da tua boca
Te vejo
e pareço louca
Sem memória
Sem estória

...

Zélia Duncan


quarta-feira, 25 de julho de 2012

Uma espécie de jano nacional

Perante os deputados do seu próprio partido, mas para o zé-povinho ouvir,  o primeiro-ministro proclamou bem alto que: Se algum dia tiver de perder umas eleições em Portugal para salvar o país, como se diz, que se lixem as eleições, o que interessa é Portugal” (ler notícia aqui).

Ou seja, assumiu-se publica e simultaneamente como uma espécie de Jano nacional:

Ora, nós já cá tivemos um que, quando discursava ao país durante as grandes paradas militares, também recorria a tiradas deste género. E a verdade é que não deixou boas memórias, não... Por isso, talvez fosse melhor mudar de discurso, ou dentão e assessor para a comunicação...

É que lamento contrariar a sua pretensão a um lugar de destaque na galeria dos grandes heróis da nossa história, mas, ao ritmo a que a sua (des)governação vai, parece-me que pode  ficar descansado (e nós também): não é o grande herói nacional e muito menos será o derradeiro. Apenas mais um político que hoje afirma uma coisa, amanhã faz o seu contrário e ao terceiro dia atira as culpas para cima dos outros, no caso, nós...

Pudesse eu

Frida Khalo. Auto-retrato com os cabelos soltos; 1947
Pudesse eu não ter laços nem limites
Ó vida de mil faces transbordantes
Para poder responder aos teus convites
Suspensos na surpresa dos instantes.

Sophia de Mello Breyner Andresen, In Poesia, Antologia.
Lx: Moraes Editores, 1970

A silly season ataca de novo

O novo Fiat 500L, que será comercializado a partir de outubro, inclui uma máquina de café expresso e, claro está, copos de plástico, suporte para colheres, recipiente para o açúcar, água e cápsulas da Lavazza ‘A Modo Mio'... enfim, um nunca mais acabar de tralha e uma ideia cuja utilidade é, no mínimo, questionável, mas enfim. Só que, para ter este "extra" será preciso pagar 250€!?  Deve ter banho de ouro, ou coisa do género...
Eu cá até comprava um, mas era se viesse equipado com um muito mais útil e refrescante 'chuveiro de champanhe' no banco de trás...

terça-feira, 24 de julho de 2012

Um deputado (já licenciado e com pretensões a ministro) confessa-se...

ou melhor, entrevista-se! É de 2009 este autêntico "tesourinho deprimente" que vem confirmar, de forma inequívoca, que Miguel Relvas foi vítima de uma verdadeira injustiça, pois devia ter tido também equivalência à licenciatura em teatro...

Milagrário pessoal

Relvas e "pintelhos´": é tudo a mesma coisa

Na abalizada opinião de Eduardo Catroga o caso que se gerou à volta da licenciatura de Miguel Relvas é "meramente acessório", ou, como o próprio já disse numa outra ocasião, em duvidoso mas genuíno vernáculo (ver aqui): andamos a discutir "pintelhos"*...

Ah, e parece que também gostamos de "triturar governos". Eu até digo mais: sobretudo se, nesse governo, estiver o "Dr." Relvas, ou outros do mesmo género (até porque o psd não tem o exclusivo, por alguma razão anda o ps muito caladinho sobre este assunto...).

Como é que, com especialistas destes a (des)governar o país, ainda há quem se admire com o estado a que isto chegou?!...

* Observ. - claro que não é exatamente desta forma que a palavra está dicionarizada, mas a um especialista deste gabarito desculpa-se tudo, até as calinadas no vocabulário (e de qualquer forma os chineses também não percebem a diferença).

Os troca-tintas

Primeiro dizem que cortam o financiamento para ver o que acontece (ver aqui).
Logo a seguir o manda-chuva germânico aproveita a maré e apressa-se a dizer que, enfim, nada mais normal... nem haveria qualquer problema (ver aqui).
Depois vem a diretora assegurar que não, que o FMI, afinal, quer ajudar a resolver o problema da Grécia, coisa e tal... (ver aqui
Bruxelas, por sua vez (e muito sintomaticamente), escusa-se a comentar o caso como quem lava daí as mãos... (ver aqui)
E não me admirava nada que já houvesse muito boa gente a fazer chorudas apostas num qualquer sítio de internet...
 Estamos é bem (des)governados, isto é, lixados com estes troca-tintas!

domingo, 22 de julho de 2012

Às vezes

Às vezes a trampa

Quem acha que nunca pisou trampa nas calçadas desta vida diz - mas porque é que não se desviou? - pois talvez não saiba que a trampa, às vezes, não pode ser evitada.

Pois eu cá foi em cheio! Ainda estou a esfregar as solas na terra, mas já estão quase limpas...

sábado, 21 de julho de 2012

Djorolen

Encruzilhadas do sem

Sem   pranto                              sem   campo                             sem   vento
sem   foz                                    sem   paz                                  sem   luz
sem   trégua                               sem   mágoa                             sem   água
sem   voz                                   sem   guerra                              sem   terra
sem   cor                                   sem   dor                                    sem   flor
sem   memória                           sem   grande                              sem   espera
sem   canto                               sem   planta                                sem   rosa
sem   glória                                sem   sangue                              sem   hera
sem   espanto                            sem   filho                                    sem   brilho
Não   era.                                   Ficara.                                         Morrera.

Salette Tavares, In Poemas, Imagens, Família
Ano Internacional da Família, 1994

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Things behind the sun

Debaixo do sol nada de novo

um cretino é um cretino é um cretino é um cretino

e sempre será

Novos provérbios portugueses

Os currículos uivam, mas o Relvas lá se vai mantendo.

Voltando à vaca fria...

que é como quem diz, ao agora galáctico ministro Miguel Relvas...

Imagem daqui
Muitos se espantam como é possível que uma universidade tenha atribuído 32 equivalências - em 36 possíveis - apenas com base num currículo que, assim à primeira vista, não tem nada de tão extraordinário que possa justificar de uma forma minimamente e aceitável tal decisão. Mas talvez isso aconteça porque só tem sido divulgado o currículo "oficial" da personagem.

Ao que parece, haverá todo um outro currículo oculto - talvez seja mais correcto dizer ocultado -  que, esse sim, é bem relevante: ver aqui. E deve ser esse que justifica tão inusitada licenciatura. E, em termos curriculares, deve ser apenas a ponta visível do grande icebergue (ainda) submerso... Assim  se percebe bem melhor a agora célebre placa de Lagoa em que o fulano ainda não era oficialmente licenciado, mas já era "Dr".  Então com um currículo destes não havia de ser licenciado?! Só me surpreende é que, em 2004, não fosse já doutorado summa cum laude...


até porque, em 2003, já o fulano era doutor em inaugurações e as placas aí estão a prová-lo:
AImagem daqui
Ah, não, enganei-me. Afinal era em 2002...
Imagem daqui
Bem, a este ritmo, ainda vamos descobrir que o homem já era "Dr." e ainda não tinha nascido...ehehehe!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Um pouco de frescura...

A silly season a nu

ou melhor, com homens nus a cantar, algo que é cíclico na música pop e que, psicologias, sociologias, musicologias e quejandos à parte, até está muito adequado para estes dias de calina... até porque, com os termómetros quase em estado de efervescência, de que outra forma se poderia estar aqui pela sulidão?

Não sei se era verão ou inverno quando, em 1999, D'Angelo gravou este "Untitled", mas dentro do estúdio devia fazer um caloraço daqueles ... Aliás, ainda hoje faz calor no Youtube...


No ano seguinte, Robbie Williams levou essa ideia ainda mais longe e despiu-se  até ao osso, literalmentem, no seu "Rock Dj", para gáudio do mulherio circulante...


Depois foi preciso esperar uma década, mas 2010 foi um fartote nesta matéria. houve um montão de "Rapazes nus a cantar" no palco do Casino Estoril...


e verificou-se uma evolução do conceito: o pop star musculado e cheio de testosterona continua nu, mas está agora muito bem acompanhado, como que a querer fazer inveja à concorrência. Foi assim que, também em 2010, Timothy Bloom e V ousaram cantar "Til The End Of Time":


2012 não é excepção. Nas rádios passa quase sem cessar, ou pelo menos até que a gente enjoe ou venha a próxima novidade, Gotye e Kimbra. Cantam "Somebody That I Used To Know", embora com muita pintura corporal para disfarçar que têm andado a fazer gazeta ao ginásio, como eu.

quarta-feira, 18 de julho de 2012

A este ritmo ainda ganha uma estrela no passeio da fama em Hollywood


Eles falam, falam...

e eu cada vez tenho mais dúvidas...
Imagem daqui

A este ritmo, qualquer dia propõem que trabalhemos por um prato diário de arroz chao-chao e ainda dizem que já não vamos nada mal...

Feeling good

terça-feira, 17 de julho de 2012

Foram breves e medonhas as noites de amor

foram breves e medonhas as noites de amor
e regressar do âmago delas esfiapava-lhe o corpo
habitado ainda por flutuantes mãos

estava nu
sem água e sem luz que lhe mostrasse como era
ou como poderia construir a perfeição

os dias foram-se sumindo cor de chumbo
na procura incessante doutra amizade
que lhe prolongasse a vida

e uma vez acordou
caminhou lentamente por cima da idade
tão longe quanto pôde
onde era possível inventar outra infância
que não lhe ferisse o coração

Al Berto, O Medo, Lx: Assírio e Alvim, 2009, 4ª ed.


segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um autêntico friso de anjos ...

...mais ou menos caídos e... devotos (deve acompanhar-se a leitura com a música adequada: ouvir aqui).

In Público

Um caso da mais elementar justiça


Ler notícia aqui
De acordo com a imprensa, "O presidente do Governo Regional da Madeira, Alberto João Jardim, afirmou hoje que, utilizando o precedente do "caso Relvas" e a sua experiência, vai pedir equivalências para ficar com os cursos de "Veterinária, Biologia, Informática e Astronomia". Parece-me bem, ou melhor, parece-me justo. Afinal, estamos num país democrático onde todos devem ter igual acesso à educação e às qualificações. 

Por isso, quatro licenciaturas para o Alberto João, e um doutoramento honoris causa para cada português. No mínimo.

Alguém se oferece para dar início a uma petição pública em favor desta nobre causa? Eu subscrevo.

sábado, 14 de julho de 2012

Ficar em comunhão com a água...

...até que tudo se dissolva: lembranças, mágoas, todo o pó dos (d)anos... Emergir depois a sentir-me lavada por dentro...


sexta-feira, 13 de julho de 2012

E saudade, sim, tanta...

Presunção e água benta, cada qual toma a que quer: provérbio ilustrado

Este, se não tem cuidado, é bem capaz de apanhar uma "barriga d' água", como dizia a minha avó...
Ler notícia aqui

Da (não-)inscrição nos dias que vivemos

Évora; Julho 2011
"O 25 de Abril abriu um processo complexo de luta intensa contra a não-inscrição, pelo menos num plano restrito, com os governos provisórios a tomarem medidas «definitivas», a criarem «factos (leis, instituições) irreversíveis» antes de caírem, na ânsia desesperada de deixarem obra feita, indestrutível, com a qual contribuiriam para a construção da nova sociedade. Simplesmente, o substrato da não-inscrição continuava vivo, e toda essa actividade frenética e delirante para inscrever a Revolução - escrevendo a História - não fazia mais do que eliminar a impossibilidade de inscrever, essa sim, inscrita no mais profundo (ou à superfície inteira) dos inconscientes dos portugueses.

Foi assim que o discursos político se tornou dominante na vida portuguesa. Num certo momento ele transvasou para a sociedade civil, identificando todo o poder com o poder político. As únicas oportunidades para inscrever o que quer que fosse da existência individual ou colectiva deviam necessariamente passar pelo poder político.

Foi assim também que a vida social portuguesa, agora pacificada, normalizada, viu a não-inscrição reassumir os seus privilégios em todo o seu esplendor. Tal ministro que se aproveita ilegalmente de uma lei para escapar ao fisco demite-se para voltar à tona incólume, meses ou anos depois; o escândalo que mancha a acção de um governante, longe de o afastar definitivamente da política, pode ser mesmo a ocasião para começar uma carreira com um futuro ainda mais brilhante (um posto mais bem remunerado ou com prestígio internacional, etc.). Nada tem realmente importância, nada é irremediável, nada se inscreve.
E se tudo se desenrola sem que os conflitos rebentem, sem que as consciências gritem, é porque tudo entre na impunidade do tempo - como se o tempo trouxesse, imediatamente, no presente, o esquecimento do que está à vista, presente.
Como é isto possível? É possível porque as consciências vivem no nevoeiro."

José Gil, in Portugal, Hoje: O Medo de Existir. Lx: Relógio d'Água, 2005, 4ª Ed., pp.17-18.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Paris, Texas ou Évora, Alentejo, tanto faz...

A casa do sol

Évora: Rua do Muro; 6/7/2012

Esta é a casa do sol. Nela se abriga a luz intensa e quente da tarde. Nas suas paredes ecoam ainda passos ligeiros, apressados, certas vozes da infância distante, breves farrapos de riso, algumas palavras soltas, sempre as mesmas, por vezes um choro soluçado de criança ou o entra-e-sai do vento por todos os lados... Também o reflexo das nítidas paredes brancas ainda fere os olhos, mas já só as lembranças – mais ténues a cada verão que passa - moram aqui.
Na verdade, a casa está vazia de gente há tanto tempo que começa a parecer estranho que algum dia tenha sido habitada por outra coisa mais além desta luz quente de verão. Talvez seja por isso que, ao fim do dia, quando a luz no seu interior é tão intensa que parece transbordar das janelas e portas escancaradas para a rua, quem por ali passa não se aperceba de que, às vezes, é dentro das paredes mais caiadas e luminosas que habita, afinal, a mais profunda e sombria das desolações.

Entender é sempre limitado

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Fires at midnight

A garrafa




























Que importa o caminho
da garrafa que atirei ao mar?
Que importa o gesto que a colheu?
Que importa a mão que a tocou
- se foi a criança
ou o ladrão
ou o filósofo
quem libertou a sua mensagem
e a leu para si ou para os outros?
Que se destrua contra os recifes
ou role no areal infindável
ou volte às minhas mãos
na mesma praia erma donde a lancei
ou jamais seja vista por olhos humanos
que importa?

... se só de atirá-la às ondas vagabundas
libertei meu destino
da sua prisão?...

Manuel Ferreira, in Crioulo e outros poemas,
Lx: Ed. Autor, 1964

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Comes and Goes

This one's for the lonely
The ones that seek and find
Only to be let down
Time after time

This one's for the torn down
The experts at the fall
Common friends get up now
You're not alone at all
...
Greg Laswell






Abertura oficial da silly season...

ou como certas coisas estão aparentemente imunes à crise: a informação inútil e perfeitamente idiota que os media insistem em explorar é uma delas. Iniciemos pois a lúdica e ligeira viagem.

Segundo o Expresso, uma máscara de nylon (de nylon?!) para proteger o rosto do sol está a fazer furor este ano nas praias chinesas. Com os elevados níveis de radiação solar que temos por cá, se a moda pega, as rosadas páginas da Caras, Lux e afins não voltarão a ser a mesma coisa...


Já agora que falamos em dentes, e dada a notória felicidade da senhora com o seu novo look e respetivo "acessório" de "pôr e tirar", acho que vou enviar o link desta notícia para o palácio de Buckingham. Pode ser que venha a dar jeito a uma outra que, sendo já princesa, ainda não tem o dentinho de ouro que lhe completará a felicidade...

Ler notícia aqui

Vem pois segura e auspiciosa esta silly season, lá isso é verdade. E como o tempo vai ainda um tanto fresco, nem a toda poderosa chanceler alemã escapa...
Imagem daqui
Mas retomando a questão dentária, também o "Correio da Manhã" refere hoje uma notícia do Daily Mail, segundo a qual um peixe originário da Amazónia, aparentado com as piranhas, e que é conhecido por atacar e cortar testículos - Pacu de seu nome - foi descoberto num lago de Illinois gerando o pânico entre a população que costumava frequentar o local no verão (ler notícia aqui):
Imagem daqui
A julgar pelo que se vai passando por cá, parece que o tal pacu, agora panhado a veranear no lago Lou Yaeger, já antes havia passado pelas nossas águas e tinha tirado a barriga de misérias... Talvez pela famosa e muito bem frequentada "praia dos tomates" em terras algarvias, quem sabe?

sábado, 7 de julho de 2012

Escrito no muro

Évora; 7/7/2012
Errar é humano, sabemo-lo quase desde a noite dos tempos.
E humano é também voltar a errar uma e outra vez. E repetir o mesmo erro porque ainda se acredita, de forma ingénua, que um dia as coisas ou as pessoas podem mudar, igualmente.
Aprender com os erros que se vão cometendo, ou então não ser de todo capaz de aprender com eles, também não o é menos.
Achar que o erro é sempre do(s) outro(s) e nunca nosso, infelizmente, também.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Palavras soltas, mas não inconjuntas

"Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
Fernando Pessoa

 



segunda-feira, 2 de julho de 2012

Não dá para entender esta gente

 Primeiro apelam ao empreendedorismo e dizem que só assim podemos sair da crise.

Ler notícia aqui

Depois, quando os empreendedores aparecem e, ainda por cima, se revelam engenhosos, tratam de os meter na cadeia. Assim não vamos lá...

Ler notícia aqui