sábado, 28 de julho de 2012

Os bestuntos

Existe em Portugal toda uma geração de homens, hoje já com sessenta e muitos anos, que fez a sua iniciação sexual com prostitutas. Era, ao tempo, uma prática habitual, encarada e tolerada por toda a sociedade com alguma bonomia disfarçada.

Contudo, para muitos, esse ritual de entrada na vida sexual activa deixou marcas indeléveis e formatou para sempre a sua maneira de encarar as mulheres e, sobretudo, de pensar o feminino. Para eles, as mulheres são sobretudo umas putas sempre predipostas às piores traições e não há  excepções nem contemplações. Até porque, se o fizessem, estariam a assumir que as mulheres são pessoas, com defeitos e virtudes em tudo semelhantes às deles, e isso foi coisa que nunca lhes passou pela cabeça. Não, as mulheres são todas putas e ponto final. 

Não deixa de ser curioso verificar como nem mesmo certos pretensos-intelectuais-de-esquerda, que gostam de se armar em liberais e práfrentex no que aos costumes diz respeito, escapam a esta tacanhez de espírito.

Contudo, e seja qual for a ideologia, nenhum prescinde de ter mulheres na sua vida. Antes pelo contrário. Alguns são até exímios na disseminação das feromonas que vão atraindo as fêmeas ao seu território peculiar. Só que não o fazem para estabelecer com elas qualquer tipo de relação afectiva de duração mais ou menos variável e imprevisível, mas tão somente para satisfazer uma pulsão que, depois de saciada, dá lugar a uma única evidência que, aliás, muito lhes convém para despachar a fulana a grande velocidade: não passa de mais uma que me vai trair com outro qualquer logo que se levante desta cama. Por isso, há que tratá-la em conformidade. Mostra-se ela simpática e cortês: está despudoradamente a tentar engatar algum/a! Toma uma atitude mais distante ou de maior frieza: é para disfarçar a traição que acabou de cometer!
Mas não aconteceu nada: pensou em fazê-lo!
Mas não o fez! de certeza que o faria e com todo o requinte!...

De nada adianta negar, explicar, justificar ou protestar, pois tudo o que então se possa dizer ou fazer reverte contra a própria e mais não faz do que aumentar as certezas cretinas de um orgulho exacerbado, preconceituoso e machista até ao absurdo.

O mais doloroso, quando se teve o azar de gostar mesmo a sério de uma destas criaturas, é concluir que pouco mais há a fazer do que dar à sola antes que seja tarde demais, isto é, antes que a nossa auto-estima seja pulverizada pela mesquinhez destas criaturas tão cheias de certezas que são incapazes de ver a realidade nem que ela se lhes sente no colo e lhes mordisque a orelha. Sobretudo quando a situação já se repetiu diversas vezes e se percebeu que não há qualquer hipótese de poder vir a ser diferente.

Por isso, o melhor é dizer-lhes que sim, que têm razão naquilo que pensam e dizem, confirmar que é tuuudo verdade! (é ver logo o sorrisinho vitorioso e carregado de escárnio a despontar-lhes ao canto da boca... ) e aproveitar enquanto impam de satisfação por mais uma vitória conseguida para se pôr al fresco. Assim, quando perceberem o que, de facto, acabou de lhes acontecer, já elas estarão bem longe, finalmente a respirar um pouco de ar puro.

Idiotas ainda é elogio! Bestuntos, mesmo!

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