quinta-feira, 28 de julho de 2011

Pequenas infâmias que enformam grandes ignomínias

Entre o abundante material "apreendido" nas aulas e ao longo deste ano lectivo - sobretudo pequenos gadgets mais o menos electrónicos - havia este ano uma revista dita "de humor" que me chamou a atenção, pois achava eu que com o advento da internet e do telemóvel, já ninguém se interessaria por este tipo de publicações, muito populares sim, mas aqui há uns bons anos atrás. Intitula-se "Só rir" e, por diversas razões, é quase um objecto "vintage": datada de fevereiro de 2008, já ia então no terceiro ano de publicação e custava então o módico preço de 2,45€. Desconheço se ainda é publicada e qual o preço actual.

São ao todo 67 páginas de anedotas supostamente engraçadas sobre sexo, mulheres, bêbados, mais bêbados, cornos, mais cornos ainda, maricas, futebol e, claro, alentejanos. Até, imagine-se, anedotas com isto tudo mais ou menos misturado. Contém  ainda  vasta e relevante jnformação  do tipo "Tudo o que sempre quiseram saber sobre peidos" ou "Tudo o que sempre  necessitei saber, aprendi com a minha mãe", sempre intercalado com imagens absolutamente extraordinárias de bom gosto e de inteligência. Como estas, por exemplo:

O título que acompanha a imagem da direita é "Sou um animal de estimação humano!"
O texto conta depois um episódio rocambolesco ocorrido num autocarro e sintetiza a 'comovente' história deste casal inglês que à cultura gótica acrescenta, sempre que se passeia pelas ruas, este toque muito pessoal que se vê na imagem: ela é passeada por ela à trela. Parece-me até que eles se passeiam bastante pelas ruas - há diversos vídeos no Youtube - porque, afinal, o que é bom é para ser bem mostrado e melhor visto. Tudo se conclui com este parágrafo apoteótico: "Comporto-me como um animal e tenho uma vida bastante calma. Não cozinho nem faço limpezas e não vou a lado nenhum sem o Dani", explicou. Tasha defende o seu estilo de vida acrescentando que "não fere ninguém" e que o casal é feliz assim... " Só faltou mesmo dizer que, ao contrário da carochinha, viveu feliz para sempre. Certamente por falta de espaço há detalhes importantes que, com pena minha, ficaram omissos. Comportando-se a jovem de 19 anos como um "animal de estimação" comerá numa gamela colocada no chão os restos do "dono" ou é alimentada a ração? apanha quando faz o que não deve? faz as necessidades na rua enquanto é passeada à trela?

É mesmo "Só rir", mas o certo é que ainda estou em choque com a descoberta. Que belas leituras e melhores valores andam os meus jovens alunos de 14 e 15 anos a absorver... Sorte a deles que eu só agora me apercebi disto e assim se livraram do sermão.

Além de poder certamente aumentar a já vasta lista de parafilias que existem por aí, há aqui mais coisas a acrescentar. Embora não seja de excluir que esta bizarra exibição pública de vícios privados possa muito bem ser apenas mais uma forma de alcançar os tais "15 minutos de fama", o certo é que é bem triste ver como esta juventude "aisée" faz muitas vezes apelo ao pior que a humanidade tem para fazer a sua inscrição na sociedade e no mundo, ainda por cima em nome da liberdade, do direito à diferença e à não-discriminação.

É por estas e ainda por outras razões que, enquanto professora, me sinto triste por perceber que as esperanças de conseguir, através da educação e da formação, umas " gerações novas" (novas sobretudo em termos de mentalidade), é afinal uma utopia. Como mulher fico muito, mesmo muito zangada com as minhas companheiras de género por aceitarem submeter-se a coisas como esta. Afinal, chamamos atrasadas às desgraçadas que são forçadas a usar burka e depois prestamo-nos a ser o "animal de estimação" do namorado? 'Tá mas é tudo doido!

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