segunda-feira, 18 de julho de 2011

Matar a sede


Orada, Junho 1994

Caminha sílaba a sílaba
como a fonte
que só pára à boca do cântaro.
Aí consente partilhar a água.
À audácia dos jovens, à timidez
dos que já o não são, mata a sede.
Aos que tropeçam na falta
de amor, aos que mordem as lágrimas
em segredo, dá a beber.
Leva aos lábios febris
a frescura da pedra. Não deixes
o medo multiplicar as garras.
Sílaba a sílaba
caminha até ao cântaro
vazio. - Tão cheio agora!

Eugénio de Andrade, "À boca do cântaro",
In Os Sulcos da Sede, FEA, 2001

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