É do senso comum que, ao longo do tempo, não é só a forma das palavras que se altera por erosão natural ou por decreto, o significado também.
O adjectivo "pública" era usado há várias décadas atrás pelas falsas pudicícias salazarentas para designar a meretriz ou a mulher que vivia da prostituição.
Fala-se agora muito em "figuras públicas", tomando aqui o adjectivo essencialmente o significado de "notoriedade" ou "fama" alcançada por alguém de uma forma genérica, ou seja, por ocupar uma posição de destaque na sociedade devido ao poder de decisão ou de influência que tem; ou de uma forma específica, como é o caso de alguém que se vê envolvido, de forma voluntária ou não, numa questão pública (irr)relevante ou mediática.
No entanto, o que se verifica cada vez com mais frequência é que certas figuras públicas - genéricas ou específicas - são, cada vez mais despudoradamente "públicas" no sentido meretrizado ou prostituído do termo. Podemos, pois, concluir que há uma aqui clara convergência de campos semânticos. Basta ir acompanhando os noticiários para verificar esta evidente e nada eufemística evolução. Estas tais figuras "públicas" não só se vendem por pouco como, de caminho, nos vendem a nós também, sem sombra de hesitação.
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