Foram hoje conhecidos os resultados dos exames nacionais de 9º ano, cuja representação gráfica não fica atrás do crash das bolsas de valores europeias nestes últimos dias:
Como tive de corrigir meia centena de provas e conheço bem as capacidades e, sobretudo, as características dos alunos a quem leccionei a disciplina de Língua Portuguesa, não fiquei nada surpreendida com as classificações, ao contrário do público em geral.
Não falta quem já ande por aí a acusar os professores, «esses malandros que não fazem nada». E o que a opinião pública acha é que os professores deviam trabalhar ainda mais. Ninguém refere, por exemplo, que os alunos, se calhar, também precisam de trabalhar e de estudar mais, dentro e fora das salas de aula. Mas, claro, isso seria muito complicado porque implicaria que, por alguns instantes, os meninos interrompessem os jogos no telemóvel ou no computador, retirassem os fones dos ouvidos para se conseguirem concentrar melhor (coisa impossível com a música em altos berros), largassem o facebook por algumas horas, bem como a realização e publicação de fotografias e vídeos duvidosos, implicaria ler livros, fazer os trabalhos de casa, estar com atenção nas aulas... Ah, e já agora, estudar para os testes e exames também ajudava um bocadinho. No fundo, o back to basics:
Só que, como tal situação poderia provocar algum incómodo aos meninos, e aos pais também, pois lá teriam que prescindir de alguma actividade fundamental no fim-de-semana para que os filhos pudessem ficar em casa a estudar, por exemplo, o melhor mesmo é pôr os próprios professores a resolver os exames nacionais, em vez dos alunos. Tem pelo menos duas vantagens: a taxa de sucesso subiria de imediato (e sucesso é tudo o que se pretende, ou não vivêssemos nós na sociedade do sucesso) e evitaria aos professores a dura e ingrata tarefa de corrigir os ditos exames, para já não falar das muitas horas gastas para cumprir tão desesperante missão. Proponho, pois, que sejam os alunos a fazê-lo. Assim, cada um pode atribuir a si próprio a classificação que julga merecer. Já agora, para poupar tempo e dinheiro nas escolas e fazer subir ainda mais as taxas de sucesso, os próprios alunos podiam mesmo auto-avaliar-se e preencher as pautas de avaliação no final do ano lectivo. Ficava resolvido de vez o problema da incompetência dos professores.
É também curioso como, nestas alturas, ninguém se lembra que esta é a tal "escola inclusiva" e pública que, no resto do ano, tudo tem que fazer para integrar as diferenças e para acomodar a heterogeneidade porque o que é preciso é tratar todos como se fossem iguais.
Na verdade, o discurso anual sobre os exames nacionais, patrocinado pelos meios de comunicação social, é tão eduquês como qualquer outro. Quem conhece o sistema educativo sabe bem que o problema dos exames está, de facto, a montante, num sistema de ensino que é o exacto reflexo da sociedade que temos. Só me falta saber até que ponto o discurso do "rigor" e da "exigência" da nova tutela ministerial também é, ele próprio, do mais puro eduquês que se fala por aí.
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