sexta-feira, 26 de julho de 2013

A estrada

Melhor não

 Estremoz, Serra d'Ossa, anos 90


























Invocavas sempre o ocaso
e, no entanto,
para nós, 
bastou um acaso.

Evocavas o tempo que passa, tão veloz
e, no entanto, 
nenhum de nós,
alguma vez olhou para o relógio.

Argumentavas que nem a dureza do diamante é eterna
e, no entanto,
só os breves instantes que, 
entre princípio e fim, 
tiveram sobretudo intensidade
nos tatuaram a memória.

Alegas a possibilidade de percorrer várias vezes
o mesmo caminho, com ligeireza,
ainda que isso 
nunca venha a fazer dele o rumo certo,
ainda que isso
apenas confirme o quanto,
em tempos,
convergiram as nossas
agora tão irremediáveis divergências.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Samba Vexillographica

Homines sunt ejusdem farinae

ou melhor, do mesmo saco. Um que não tem fundo e se chama SLN.  E que, pelos vistos, (se) continua a governar e bem. Ou, pelo menos, garante sempre a presença de um gestor da (sua) confiança no governo.

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terça-feira, 23 de julho de 2013

Sociedade


Poema do homem só

Sós,
irremediavelmente sós,
como um astro perdido que arrefece.
Todos passam por nós
e ninguém nos conhece.

Os que passam e os que ficam.
Todos se desconhecem.
Os astros nada explicam:
Arrefecem

Nesta envolvente solidão compacta,
quer se grite ou não se grite,
nenhum dar-se de outro se refracta,
nehum ser nós se transmite.

Quem sente o meu sentimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem sofre o meu sofrimento
sou eu só, e mais ninguém.
Quem estremece este meu estremecimento
sou eu só, e mais ninguém.

Dão-se os lábios, dão-se os braços
dão-se os olhos, dão-se os dedos,
bocetas de mil segredos
dão-se em pasmados compassos;
dão-se as noites, e dão-se os dias,
dão-se aflitivas esmolas,
abrem-se e dão-se as corolas
breves das carnes macias;
dão-se os nervos, dá-se a vida,
dá-se o sangue gota a gota,
como uma braçada rota
dá-se tudo e nada fica.

Mas este íntimo secreto
que no silêncio concreto,
este oferecer-se de dentro
num esgotamento completo,
este ser-se sem disfarçe,
virgem de mal e de bem,
este dar-se, este entregar-se,
descobrir-se, e desflorar-se,
é nosso de mais ninguém.

António Gedeão

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Coríndon



 O que tu deres, Momô, é teu para sempre; o que guardares para ti, está perdido para sempre.
 in O Senhor Ibrahim e as flores do Corão (2003) de Eric-Emmanuel Schmitt

Safira- Montemor-o-Novo: 20/7/2013

sexta-feira, 19 de julho de 2013

Circus Lusitanus: novas atrações

O Tocha Humana!!!!
O Homem Bala!!!
O Palhacinho deslumbrado!!!

E o  Poço da Morte!!!

Matiné às 15.30!!!
Sessões contínuas à sexta-feira!!!
(ver aqui e aqui)


quarta-feira, 17 de julho de 2013

Dionisíaca


Alandroal: 17/7/2013
Um verde manto cobre as expostas, 
impudicas nádegas dos montes, 
enquanto telúricas bebedeiras de sol
vão curtindo o mosto
que nos há de saciar
esta imperiosa sede de infinito.

quinta-feira, 11 de julho de 2013

About Farewell

Lisbon revisited

Lisboa - Bairro da Graça: 11/7/2013





























Outra vez te revejo
Lisboa e Tejo e tudo
Transeunte inútil de ti e de mim
Estrangeiro aqui 
como em toda a parte

Álvaro de Campos, 
in "Lisbon revisited" (1926)

terça-feira, 9 de julho de 2013

No Alentejo


















É quando o dia está no seu zénite,
à hora em que o sol trepa pelas costas
e se escarrancha nos ombros de quem passa
que os aloendros exibem as suas cores mais estridentes, 
como se gritassem: aqui, aqui!

E o sol não se faz rogado,
vai rodopiar com eles estrada fora.
Mas nesta feérica, efémera dança
logo a fímbria das pétalas fica seca e desbotada
como a orla suja de um vestido de noiva em fim de festa
e cabe ao vento a ingrata tarefa de varrer
para debaixo dos sobreiros
os despojos destas núpcias tóxicas.

Talvez por isso, belo aloendro, 
seja tão maldito o fruto angiospérmico do teu ventre!

Entardece agora na planície e só as cigarras, 
indiferentes ao drama ou talvez ainda embriagadas de luz,
prosseguem  o seu estridente estribilho pela noite dentro.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

coisas que eu sei

Teri Vaughn: Between the sheets; óleo s/ tela
(imagem daqui)





















da efusão dos braços
da profusão dos lábios
sei a implosão do grito

da confusão dos dedos
da transfusão do calor 
sei a explosão do beijo

da perfusão do suor e da saliva
da infusão do teu corpo no meu
sei a queda de borco no chão da cama 

da fusão do olhar até perder a focagem
da difusão centrípeta do prazer
sei as brechas abertas por dentro
e por onde tu entras pressuroso 
como quem regressa a casa

e sei lá fora a audível respiração
da estrada distante a perder o fôlego
para alvor crescente que acorda o dia

De passagem, a paisagem - XVII


N4 - Elvas - 8/7/2013

sábado, 6 de julho de 2013

Novo verbetes para vocábulos descaminhados

  • irrevogável
(latim irrevocabilis, -e)

adj. 2 g.

1. Que não se pode revogar.

2. Definitivo.
3. Que não torna atrás.
4. Maria Luís Albuquerque.
(ver aqui)  
  
  • lamentável
adj. 2 g.
1. Que merece ser lamentado.
2. Triste.
3. Digno de dó.
4. Paulo Portas.
(ver aqui)


  • baralhar e tornar a dar
expressão idiomática
1- Pedro Passos Coelho.

Os três da vida airada

 cócó, ranheta e facada... (ler aqui)



 E, para saber quem é quem neste trio maravilha, é só jogar como se segue:

quinta-feira, 4 de julho de 2013

A ver o entra-e-sai...

de S. Bento... o jogo já vai no terceiro set, mas ainda tem de ir a Belém para o tie-break (ver aqui e aqui).


sempre

 Montserrat Gudiol; acrílico s/ tela





















dos escombros do corpo
me levanto sem dívidas

da devastação das palavras
me ergo com dúvidas

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Diz que é uma espécie de troikonovela...


PPC - É como se diz lá na minha terra: connosco ninguém pudosco!
VG - Eheheheh....!

PP - Ó Gaspar, precisamos de ter uma conversinha de pé-de-orelha!
VG - Ora diz lá...

PP - Eh pá, não vou à bola com a fulana, o que é queres!? Ainda não vi nem um cêntimo...
VG - Tá bem. Deixa estar que eu falo com ela...
VG - Fica descansado, pá, que eu já lhe dei o recado!
VC - Ai estás-te a rir? Mas olha que o caso não é para graças...
MLA - Não te preocupes. Deixa-o comigo, que eu trato-lhe da saúde.
PPC - Alô, alô, senhora secretária de estado? Então e já fez aquela transferênciazinha que eu lhe pedi? Não se esqueça, sim? O nosso amigo está à espera... Muito agradecido, sim?! Prazer em ouvi-la. Cumprimentos ao esposo.
VC - Muito boa tarde! Fala Vítor Gaspar. Era para a lembrar do que ficou combinado, sim?! Veja lá o que pode fazer. É que o homem já anda desconfiado e depois passa o tempo a chatear-me, sim?
MR - Ó Vítor, assim não dá meu! Continua tudo na mesma. Tu vê lá se te orientas, pá!
VC - Eh pá, tirem-me deste filme! Já não os posso ouvir! O raio que os parta a todos. Vou mas é para Bruxelas! Lá, ao menos, ninguém me chateia!
MR - Ó Portas, pá, tu tem calma que eu já apertei outra vez com o gajo e desta vez acho que ele percebeu a mensagem... 
PPC - Sim, e se for preciso, eu telefono-lhe outra vez. Fica descansado!
PP - Têm 24 horas para resolver a situação! Senão, preparem-se que a vaca vai tossir!
MLA - Ó Vítor, surgiu um pequeno problema. Ao que parece agora não há liquidez suficiente para se fazer a tal transferência...
VG - O quêê?! Eh pá, pra mim chega!
VG - Ora então, adeusinho. Fiquem bem, sim?!
PP - Ai o tipo deu à sola? E a outra ficou no lugar dele? E nada de transferência? Deixa estar que eu já lhes mostro com quantos paus se faz uma canoa!
PP - Nem com um milagre de Fátima, Passos!  Comigo ninguém brinca, ouviste?!
Nota - continua em próxima edição. Ou talvez não.