terça-feira, 9 de julho de 2013

No Alentejo


















É quando o dia está no seu zénite,
à hora em que o sol trepa pelas costas
e se escarrancha nos ombros de quem passa
que os aloendros exibem as suas cores mais estridentes, 
como se gritassem: aqui, aqui!

E o sol não se faz rogado,
vai rodopiar com eles estrada fora.
Mas nesta feérica, efémera dança
logo a fímbria das pétalas fica seca e desbotada
como a orla suja de um vestido de noiva em fim de festa
e cabe ao vento a ingrata tarefa de varrer
para debaixo dos sobreiros
os despojos destas núpcias tóxicas.

Talvez por isso, belo aloendro, 
seja tão maldito o fruto angiospérmico do teu ventre!

Entardece agora na planície e só as cigarras, 
indiferentes ao drama ou talvez ainda embriagadas de luz,
prosseguem  o seu estridente estribilho pela noite dentro.

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