segunda-feira, 25 de novembro de 2013

narrativa das árvores - I


N4 - Borba - novembro 2013
quando o dia
poente e sonolento
começa a deixar pender a cabeça para trás dos montes
as sobreiras de casca enrugada
e com o saber de gerações vincado no tronco
parecem enfileirar-se devagar pela encosta

lembram um rebanho
que se agrupa em busca de proteção
contra a mordedura do frio 
- ou até contra o medo - que repassa
as grandes noites espessas
que precedem o solstício de inverno

talvez o façam 
porque no seu cerne ainda guardam
a memória ancestral 
das genesíacas águas que tudo alagaram

talvez o façam 
porque sentem no mais profundo das suas raízes 
a crescente aridez do solo
e querem perscrutar no horizonte longínquo
as nuvens dispersas que adivinhem as chuvas a haver 

ou talvez o façam 
apenas pelo mais puro e simples prazer 
de se  contemplarem
no rubor crepuscular
do narcísico espelho das águas paradas

2 comentários:

platero disse...

BB

bucólico

Bonito

FM disse...

Antes isso, Platero, que BB, Bela Bodega.