quinta-feira, 2 de abril de 2015

da alegoria e outros demónios

Serra d'Ossa: março 2015

a flor avançava
     o muro consentia

a flor calava
     o muro cumpria

a flor ansiava
     o muro sorria
     atento à sombra que da flor já via
     e que ela ainda só imaginava
     nem sequer imaginava

então o muro quase dizia
     mas depois, como sempre, calava

e a flor, que já as pétalas declinava,
     ao muro que pressentia
     num derradeiro esforço quase suplicava,
     mas no silêncio da rocha que persistia
     percebeu que algo apodrecia
     e então, inevitável, se retirava
     sem ter percebido que afinal o muro
     na tarde repassada de brisa
     que ainda pulsava
     era já outra flor que inventava

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