segunda-feira, 4 de março de 2013

entra devagar no centro do fogo

Auguste Rodin: L'éternelle idole, 1893


















entra devagar no centro do fogo

guarda para dias mais trémulos e inseguros
as perguntas     os medos         a dor
que sobra sempre do desejo

entra como quem morre no centro do fogo

e bebe a cinza
que desenha os contornos da cama
onde os joelhos se despem do frio
que os prende à terra

entra como quem arde no centro do fogo

e deita na água do meu corpo
as sementes acesas no tempo
que por única herança
terás de mim

entra devagar no centro do fogo

e
lavra-me      

Alice Vieira, in Dois corpos tombando na água,
Lx: Ed. Caminho, 2007                                                        

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