quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Enfim re-encontrado!

Há já vários anos que eu procurava por este pedaço de papel que o meu amigo Jorge B. desenhou e escreveu para, carinhosamente, me oferecer.

Nem sequer consigo perceber como, um dia, deixou de estar na estante encostado aos livros. Reencontrei-o hoje por acaso e fiquei tão contente como quando, lá de tempos a tempos, me cruzo com o meu amigo Jorge B. no mercado de velharias...

 

Estava então dentro de um livro com poemas de Florbela Espanca e assinalava um dos sonetos com que eu mais me identifico:



Tortura do pensar! Triste lamento!
Quem nos dera calar a tua voz!
Quem nos dera cá dentro, muito a sós,
Estrangular a hdra num momento!

E não se quer pensar!... E o pensamento
Sempre a morder-nos bem, dentro de nós...
Q'rer apagar no Céu - O sonho atroz! -
O brilho duma estrela, como o vento!...

E não se apaga, não... nada se apaga!
Vem sempre rastejando como a vaga...
Vem sempre perguntando: «O que te resta?...»

Ah! não ser mais que que o vago, o infinito!
Ser pedaço de gelo, ser granito,
Ser rugido de tigre na floresta!

Florbela Espanca, "Angústia", Livro de Mágoas (1919)
in Sonetos, Lx: Bertrand, 1980, 20ª ed.

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