Dói - nas mãos, nos ombros, no corpo todo - descobrirmo-nos subitamente a mais no coração e na vida de alguém. Dói a sério perceber como nos transformámos para essa pessoa num ser (mal/de)formado, incómodo, supérfluo. Perceber-se apenas assim no reflexo dos olhos de quem fazia bater o nosso coração mais depressa, deixa feridas fundas na alma e amargo nos dedos...
Dás, Vida, frutos bem pequenos e colhê-los não nos dói menos!
(Aqui fica o "mote", com a devida homenagem ao poeta e as minhas desculpas pela utilização intencionalmente subversiva da força das suas palavras)
dás oliveira
frutos redondos
colhê-los dói
nas mãos, nos ombros
dás oliveira
frutos amargos
das feridas fundas
que vais fazendo
nos dedos magros
dás oliveira
frutos pequenos
sabê-los de outros
-a quem os colhe-
não lhes dói menos
António Saias
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