sexta-feira, 30 de outubro de 2009

TLM

O telemóvel é, de certeza, a terceira maior invenção humana, depois do fogo e da roda. Creio até que a vida antes do dito cujo não devia existir, pois nunca um só objecto foi tão indispensável no quotidiano de tanta gente. Há já quem não consiga estar "desligado" e muito menos separar-se fisicamente do seu telemóvel, como se disso dependesse a sua própria sobrevivência.
Aliás, muitos adultos, e quase todos os jovens, não têm apenas um telemóvel, têm dois - pelo menos - e quanto mais avançados e vistosos melhor.
A utilidade prática dos telemóveis é, de facto, inquestionável. Porém, já é bem mais duvidoso que seja necessário atender chamadas durante uma reunião, uma aula ou uma conferência, por exemplo. Ou que seja necessário enviar e receber inúmeros sms durante um espectáculo. Ou que seja indispensável gastar bom dinheiro todas as semanas para usar os sucessos pop do momento ou os mais absurdos sons como toque, e bem alto para que todos ouçam e não tenham dúvidas! É mesmo o meu telemóvel!
Se o uso excessivo deste objecto representasse um avanço qualitativo em termos de comunicação entre as pessoas, então nada haveria a dizer. O problema é que nada disto está a acontecer, pois não consta que os casos de violência doméstica, solidão, infelicidade difusa e persistente, depressão e outros quejandos tenham diminuído desde a sua generalização.
A questão não está, portanto, no meio de comunicação em si, mas na pessoa dos seus utilizadores: embora estejamos mergulhados em tecnologia capaz de levar as nossas palavras e imagens ao outro lado do mundo em escassos segundos, temos cada vez mais dificuldade em comunicar verdadeiramente com os outros e estamos cada vez mais isolados e vulneráveis ao terrorismo da palavra vazia e sem sentido, ao falar para dizer coisa nenhuma ou, pior, para fingir que ainda não percebemos o silêncio ensurdecedor à nossa volta.
Depende só de nós mudar isto, ou será que não?

Tudo isto e muito, muito mais ainda, está nesta belíssima curta-metragem de Jason van Genderen feita, justamente, com um telemóvel:

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