terça-feira, 27 de outubro de 2009

Eu e a minha circunstância

  • 47 anos feitos discretamente há um mês
  • um pai com demência em estado avançado
  • uma mãe severamente deprimida
  • na lista de espera para uma histerectomia e para uma menopausa precoce
  • uma profissão que perde sentido todos os dias
  • alguns (cada vez menos) amigos ausentes e/ou distantes, atarefados com as suas próprias vidas
  • uma relação mal-acabada, minada desde o início por intransponíveis circunstâncias individuais, esvaziada pela ausência de cumplicidade (mea culpa, também)
  • uma rotina marcada por horários rígidos, malas, trajectos, permanências provisórias
  • eu própria desgastada, endurecida por tudo isto
  • a certeza de que era imperativo mudar quase tudo e a impotência para o fazer
  • o vazio até quase rebentar
  • a raiva por ter que ser assim
  • a angústia que aperta a garganta
  • um grande cansaço...

    Os versos de Florbela inscritos na paisagem e na alma:

    "Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
    - Também ando a gritar, morta de sede,
    Pedindo a Deus a minha gota de água!"

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